A ilha da Madeira é mundialmente conhecida pelo seu clima ameno, convidando a uma visita pelas suas belas paisagens e outras actividades ao ar livre, que, desde há muito, têm sido exploradas para fins turísticos. A temperatura e a humidade que se verificam ao longo de todo o ano propicia a muitos seres vivos, animais e plantas, condições ideais ao seu desenvolvimento.
Os ecossistemas, sofrem alterações constantes, sejam por acção humana ou por via natural, contudo, a introdução descontrolada ou acidental de uma nova espécie num habitat poderá provocar desequilíbrios, que, em ecossistemas limitados, como é o caso de uma ilha, originam efeitos devastadores a curto prazo.
De uma forma geral, uma espécie, ao ser introduzida num novo habitat que reúna características ideais à sua proliferação e na ausência de predadores naturais, poderá sofrer um crescimento desmesurado originando uma diminuição dos recursos disponíveis para outras espécies residentes ou mesmo constituir uma ameaça para estas. Em termos de importância Médica, o crescimento descontrolado de uma espécie, em situações extremas, poderá levantar questões de saúde pública, exemplo disto será um aumento na taxa de transmissões ou infecções por um dado organismo.
A ilha da Madeira, ao longo dos tempos, tem sido alvo de inúmeras introduções (desde plantas ornamentais, medicinais a animais exóticos). Em 2004, na sequência de algumas queixas por parte da população local, especificamente na localidade de Santa Luzia, relatos de dolorosas picadas de mosquito que originavam reacções inflamatórias exuberantes, uma equipa da Unidade de Entomologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical identificou o Mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera, Culicidae) que, em colheitas anteriores, realizadas entre os anos de 1977-1979, não havia sido detectado. Em Portugal Continental, existem registos da espécie até 1956, não tendo este sido identificado desde então.
O Aedes aegypti é uma espécie endémica na grande maioria das regiões tropicais e subtropicais por todo o mundo, onde o vírus do dengue é considerado um grave problema de saúde pública. A abundância do mosquito está directamente relacionada com o aumento da temperatura e da precipitação uma vez que estes factores originam maior número de colecções de água que funcionam como criadouros, induzem um aumento da taxa de desenvolvimento, diminuindo o tempo do ciclo reprodutivo e estimulando a eclosão das formas imaturas.
Esta espécie é também conhecida por utilizar uma diversidade considerável de criadouros, muitos deles artificiais (produzidos pelo Homem) onde ocorre a ovoposição, sendo que os ovos do mosquito Aedes aegypti são especialmente resistentes à dissecação. As alterações climáticas, que, nos últimos tempos, têm sido alvo de algum mediatismo, podem também dar o seu contributo na dispersão do vector e do vírus, levando à expansão geográfica das áreas de distribuição dos mesmos.
Até à data, não foi identificado qualquer caso de dengue autóctone (transmitido na Madeira), o que sugere a ausência do vírus.
Segundo dados da Direcção-geral de Saúde, no último ano em Portugal Continental foram registados 15 casos importados de dengue. O volume de tráfego marítimo e aéreo entre a Madeira e Portugal Continental e outros países pode aumentar o risco de re-introdução do mosquito, particularmente no sul da Europa onde o clima é mais favorável ao seu desenvolvimento. Para além disto, Portugal mantém relações estreitas com países onde recentemente ocorreram surtos de dengue, como é o caso do Brasil, que, num dos piores cenários, poderão contribuir para a importação de novos casos e de uma possível transmissão na presença do vector.
O processo de Globalização, caracterizado, entre muitos outros factores, pelo rápido movimento de pessoas e mercadorias de um ponto do Globo para outro, por si só acarreta inúmeras facilidades na disseminação de agentes infecciosos. Exemplo disto é o facto de já em 1857 se ter verificado um surto de febre amarela em Lisboa, que causou milhares de mortos, e ainda a Globalização como a entendemos hoje, não se vislumbrava no horizonte.
Existe ainda um conjunto de normas internacionais para controlo de vectores em aeroportos, em particular para o Aedes aegypti, que passam pelo tratamento dos locais de criação nas imediações do aeroporto (num perímetro de 400 metros). É nossa opinião que estas medidas deveriam abarcar os portos marítimos (http://whqlibdoc.who.int/hq/pre-wholis/a43045_%28p97-p170%29.pdf ).
Aparentemente as autoridades regionais estão atentas ao problema, avançando com um plano que tem em vista a diminuição dos criadoros (vasos, pneus e recipientes de plástico) e a eliminação de formas imaturas e adultos recorrendo ao uso de insecticidas. No entanto, o mosquito Aedes aegypti continua a ser encontrado e a população a ser picada. A dificuldade em erradicar uma espécie de mosquito é conhecida ou mesmo quase impossível, à semelhança da realidade dos países Africanos, em que esforços realizados durante décadas não foram suficientes para eliminar as transmissões de malária, entre outras infecções transmitidas por estes vectores.
Como nota final, apelamos à continuidade das medidas preventivas já tomadas e à implementação de outras que, a curto prazo, podem contribuir para a diminuição daquele mosquito. Sugerimos às Autoridades Regionais a implementação de um plano de vigilância entomológica permanente, registando possíveis variações na abundância do vector, o que permitiria uma rápida identificação dos principais focos e uma acção eficaz no controlo vectorial. Outra medida seria o desenvolvimento de um plano de educação ambiental nas escolas e através dos meios de comunicação em geral, não com o intuito de alarmar a população, mas, sim, de informá-la, onde seriam abordadas as características do vector (por exemplo: picos diários de alimentação) e medidas de protecção, como sejam a utilização de repelentes e de redes mosquiteiras nas habitações e fomentar a redução de recipientes de água que poderão ser utilizados pelo mosquito no seu ciclo reprodutor. A prevenção será sempre a melhor escolha para o combate de possíveis transmissões vectoriais.
A ilha da Madeira, ao longo dos tempos, tem sido alvo de inúmeras introduções (desde plantas ornamentais, medicinais a animais exóticos). Em 2004, na sequência de algumas queixas por parte da população local, especificamente na localidade de Santa Luzia, relatos de dolorosas picadas de mosquito que originavam reacções inflamatórias exuberantes, uma equipa da Unidade de Entomologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical identificou o Mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera, Culicidae) que, em colheitas anteriores, realizadas entre os anos de 1977-1979, não havia sido detectado. Em Portugal Continental, existem registos da espécie até 1956, não tendo este sido identificado desde então.
O Aedes aegypti é uma espécie endémica na grande maioria das regiões tropicais e subtropicais por todo o mundo, onde o vírus do dengue é considerado um grave problema de saúde pública. A abundância do mosquito está directamente relacionada com o aumento da temperatura e da precipitação uma vez que estes factores originam maior número de colecções de água que funcionam como criadouros, induzem um aumento da taxa de desenvolvimento, diminuindo o tempo do ciclo reprodutivo e estimulando a eclosão das formas imaturas.
Esta espécie é também conhecida por utilizar uma diversidade considerável de criadouros, muitos deles artificiais (produzidos pelo Homem) onde ocorre a ovoposição, sendo que os ovos do mosquito Aedes aegypti são especialmente resistentes à dissecação. As alterações climáticas, que, nos últimos tempos, têm sido alvo de algum mediatismo, podem também dar o seu contributo na dispersão do vector e do vírus, levando à expansão geográfica das áreas de distribuição dos mesmos.
Até à data, não foi identificado qualquer caso de dengue autóctone (transmitido na Madeira), o que sugere a ausência do vírus.
Segundo dados da Direcção-geral de Saúde, no último ano em Portugal Continental foram registados 15 casos importados de dengue. O volume de tráfego marítimo e aéreo entre a Madeira e Portugal Continental e outros países pode aumentar o risco de re-introdução do mosquito, particularmente no sul da Europa onde o clima é mais favorável ao seu desenvolvimento. Para além disto, Portugal mantém relações estreitas com países onde recentemente ocorreram surtos de dengue, como é o caso do Brasil, que, num dos piores cenários, poderão contribuir para a importação de novos casos e de uma possível transmissão na presença do vector.
O processo de Globalização, caracterizado, entre muitos outros factores, pelo rápido movimento de pessoas e mercadorias de um ponto do Globo para outro, por si só acarreta inúmeras facilidades na disseminação de agentes infecciosos. Exemplo disto é o facto de já em 1857 se ter verificado um surto de febre amarela em Lisboa, que causou milhares de mortos, e ainda a Globalização como a entendemos hoje, não se vislumbrava no horizonte.
Existe ainda um conjunto de normas internacionais para controlo de vectores em aeroportos, em particular para o Aedes aegypti, que passam pelo tratamento dos locais de criação nas imediações do aeroporto (num perímetro de 400 metros). É nossa opinião que estas medidas deveriam abarcar os portos marítimos (http://whqlibdoc.who.int/hq/pre-wholis/a43045_%28p97-p170%29.pdf ).
Aparentemente as autoridades regionais estão atentas ao problema, avançando com um plano que tem em vista a diminuição dos criadoros (vasos, pneus e recipientes de plástico) e a eliminação de formas imaturas e adultos recorrendo ao uso de insecticidas. No entanto, o mosquito Aedes aegypti continua a ser encontrado e a população a ser picada. A dificuldade em erradicar uma espécie de mosquito é conhecida ou mesmo quase impossível, à semelhança da realidade dos países Africanos, em que esforços realizados durante décadas não foram suficientes para eliminar as transmissões de malária, entre outras infecções transmitidas por estes vectores.
Como nota final, apelamos à continuidade das medidas preventivas já tomadas e à implementação de outras que, a curto prazo, podem contribuir para a diminuição daquele mosquito. Sugerimos às Autoridades Regionais a implementação de um plano de vigilância entomológica permanente, registando possíveis variações na abundância do vector, o que permitiria uma rápida identificação dos principais focos e uma acção eficaz no controlo vectorial. Outra medida seria o desenvolvimento de um plano de educação ambiental nas escolas e através dos meios de comunicação em geral, não com o intuito de alarmar a população, mas, sim, de informá-la, onde seriam abordadas as características do vector (por exemplo: picos diários de alimentação) e medidas de protecção, como sejam a utilização de repelentes e de redes mosquiteiras nas habitações e fomentar a redução de recipientes de água que poderão ser utilizados pelo mosquito no seu ciclo reprodutor. A prevenção será sempre a melhor escolha para o combate de possíveis transmissões vectoriais.
Ferdinando Freitas, Investigador no IHMT (Instituto de Higiene e Medicina Tropical)
Sem comentários:
Enviar um comentário