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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Da doce quimera à amarga realidade

”O deputado do PSD pela Emigração, Carlos Gonçalves, defendeu esta segunda-feira que a questão da exploração de trabalhadores portugueses na Holanda é «uma gota de água no oceano», por considerar que existem situações piores noutros países.
«A questão da Holanda é uma gota de água no oceano, que só ganha visibilidade porque aparece na televisão», disse o deputado eleito pela Europa à Agência Lusa.
Carlos Gonçalves diz estar «mais preocupado com a situação no Reino Unido, onde o número de portugueses numa situação próxima da miséria é muito superior do que na Holanda».
O deputado falava depois de ter surgido mais uma denúncia de portugueses vítimas de exploração laboral na Holanda, com alguns a afirmarem que estavam sem dinheiro e sem comida.
Referindo-se à alegada falta de apoio da embaixada e do consulado aos portugueses vítimas de exploração na Holanda, o deputado afirma que essas estruturas «não têm recursos e meios para darem uma resposta».
Contudo, defende que «deveria haver recursos humanos vocacionados para a área social». «O Governo nunca foi muito sensível a esta questão. Só fez uma campanha (a alertar os portugueses que pensam emigrar), que foi positiva, mas não resolve o problema», afirmou.
Carlos Gonçalves considera ainda que o Governo deve reconhecer que há cada vez mais portugueses a ir para o estrangeiro à procura de trabalho, apesar de admitir com isso que «talvez o país não esteja tão bem como querem dar a entender».
De acordo com o deputado, no ano passado chegaram oito mil portugueses ao Luxemburgo e 10 mil à Suíça.
Quem mais procura trabalho no estrangeiro são jovens à procura do primeiro emprego, pessoas com 40 ou mais anos que ficaram desempregadas e não têm qualificações profissionais e famílias endividadas, que deixam de poder pagar os créditos e não têm outra alternativa senão emigrar, segundo Carlos Gonçalves.
O deputado disse ainda à Lusa que pediu ao Governo para aproveitar a presidência portuguesa da União Europeia, no segundo semestre de 2007, para levantar o problema da exploração de trabalhadores na Europa.
«São cidadãos europeus e não lhes estão a ser garantidos os seus direitos», afirmou Carlos Gonçalves, sublinhando que esse problema não se põe apenas com trabalhadores portugueses.”
In IOL PORTUGAL DIÁRIO 20/04/2009 - “Portugueses “quase na miséria” no Reino Unido”.

Em Março passado tive o grato prazer de, nesta Escola Jaime Moniz, me dirigir a um auditório quase pleno de Professores e Alunos, para uma comunicação sob o tema “Tráfico de Seres Humanos – Uma perspectiva em Portugal”, apresentação essa que me deu muito prazer em mostrar e que, pelos comentários que tiveram a gentileza de lhe fazer, provocou saudável e criativa polémica, assim como profícuas trocas de impressões, entre Docentes e Discentes e no seio dos próprios grupos profissionais.
No rescaldo dessa mesma minha participação cívica e cultural foi-me dado a conhecer que alguns, espero que poucos alunos haviam abandonado a sua carreira de estudantes, ou pelo menos a teriam suspendido, devido às dificuldades económicas que a nossa economia regional e nacional tem vindo a sofrer e dos inevitáveis reflexos dessa mesma crise no plano das famílias e dos indivíduos em si, com as consequências daí advindas, entre as quais nos importa aqui realçar o já anteriormente dito abandono escolar.
Compreendemos perfeitamente que tal possa acontecer mas, na sequência da nossa citada intervenção, muito gostaríamos agora de dar o nosso contributo, desta vez, por escrito e uma vez mais a convite de membros do Corpo Docente sobre, não as consequências para o plano de estudos prosseguido e abandonado pelos alunos que desertam da Escola, mas dos eventuais proveitos e também das quase certas menos valias, na vida presente de estudantes e na sua vida futura de cidadãos inseridos na economia.
Quanto ao abandono escolar, melhor do que eu, os Professores e os Alunos, como profissionais conscientes estão conscientes que uma saída prematura, mais configura um abandono quase definitivo do plano de estudos, com correspondência numa futura actividade profissional, uma vez que se sabe que a cada ano perdido e não recuperado, corresponde um valor matematicamente possível de quantificar, de menos valia perdida ou arduamente recuperado em actividade profissional, não alicerçada em currículo académico adequado.
Mas essa não é de modo algum a nossa intenção hoje e aqui mas sim, valendo-nos da nossa experiência profissional, alertar os nossos eventuais leitores para os riscos, alguns deles de natureza até física e moral, que correm ao abandonar, a meio do percurso um projecto e ao abraçarem outro, para eles desconhecido, tutelados por alguém ou alguns cujo objectivo essencial é a maximização do lucro, usando as pessoas de que dispõem como máquinas, ou ferramentas ou mesmo animais, inseridos num projecto de exploração maciço e criminoso.
Os riscos são muitos e os proventos, esses serão alguns ou nenhuns, como tivemos ocasião de apresentar e de nada adianta avançar com raciocínios desculpabilizantes do género de que é mão-de-obra jovem, não formada ou imperfeitamente adequada às funções que se lhe exige, porque esse é muitas vezes o argumento base de jornadas de exploração, risco físico e moral e de inenarráveis sofrimentos, frustrações e amarguras, sofridas muitas vezes solitariamente, longe de qualquer protecção ou aconchego, seja ele familiar ou de grupo.
Por gerações, para o Havai, passando pelas chamadas “West Indias”, como aqui se designavam, o Brasil, África do Sul, Venezuela, Austrália, Angola, os Madeirenses emigraram em grupo ou individualmente, para aplicarem o seu saber, a sua inenarrável vontade de trabalhar e vencer, muitas vezes, quase sempre chamados por aqueles que haviam partido antes e que tão bem quanto mal os integravam, protegiam ou enquadravam em esquemas produtivos, que já mal ou bem dominavam, servindo de almofada para uma mudança radical.
Mais tarde e durante algum tempo partiram da Madeira, para as chamadas Ilhas do Canal – Jersey, Guernsey, Alderney e Sark, muitos jovens Portugueses, e tive ocasião de ver que em muitos dos aviões quase só partiam jovens mulheres, as quais se deslocavam em grupo para a prossecução de actividades ligadas ao sector agrícola ou actividades de hotelaria, desenvolvidas em período sazonal, em que se partia em Abril e se regressava em Novembro e, tal como a formiga, se amealhava no Verão para se gastar no Inverno.
Posteriormente, e após a entrada de Portugal na União Europeia, muitos dos nossos concidadãos começaram a deslocar-se para o Reino Unido, a França, a Suíça, Luxemburgo e Holanda e concomitantemente foram perdendo a sua apetência pela imigração definitiva para os destinos tradicionais, num movimento que suavemente se foi transformando num reforço da emigração sazonal e enfraquecimento dos destinos mais tradicionais, fruto da menor atractividade desses mesmos destinos, por razões políticas, económicas ou até de moda.
Hoje e é esse o tema essencial deste nosso trabalho é mais o destino sazonal, transformado muitas vezes quimericamente num destino definitivo que abordamos, fazendo lembrar que as quimeras, se por um lado, tal como as paixões, são muito motivantes, são também por vezes intoxicantes e obnibiliadoras da realidade, deixando o, chamemos-Lhe, apaixonado, desmunido de recursos, protecção e capacidade de defesa face à adversidade, para a qual não estava de forma alguma preparado e que fantasiosamente não esperava.
Assim importa, primeiro do que tudo avaliar de forma criteriosa, responsável, fria e objectiva se os eventuais proventos, benefícios e mais-valias correspondem na pior hipótese à situação que se deixa, sabendo nós que a fase curricular e de estudos deve ser vista como uma fase essencial de investimento pessoal, não visível, aparentemente não produtiva ou pelo menos não remível em dinheiro ou valores fiduciário, mas essencial como currículo, a qual jamais deve ser vista como “perdida”, mas sim sempre e muito mais como “ganha”.
Deve-se depois, como salvaguarda e protecção pessoal física e moral, verificar se a proposta é sólida, profissionalmente inatacável e com potencial de futuro, quer no aspecto profissional, quer no aspecto de valorização do activo, muitas vezes o único que nesse momento possuímos, que é a nossa força de trabalho e a nossa mais-valia potencial, ou seja, aquilo que nos interessa a nós mas e muito mais interessa ao “outro”, numa perspectiva de valorização constante e crescente das nossas capacidades em gerar recursos e valor.
Será também essencial, na nossa perspectiva, que a saída não seja um reconhecimento implícito e explicito de falência do projecto que abandonamos, com a quebra dos laços que fomos granjeando ao longo do nosso percurso anterior, nomeadamente da família e do grupo social em que nos inserimos, incluindo a própria escola que rejeitamos, mas que o façamos de uma forma clara, transparente e substancial, de maneira a que para nós próprios tal saída, seja construtiva, valorizadora e pessoal e profissionalmente geradora de mais potencial.
Importa que nos socorramos com o máximo de informação possível e que dessa mesma informação façamos partilha, pelo menos com os nossos familiares e amigos, para que a mesma possa ser um capital repartido, partilhado e mutuamente securizante e jamais partir como que fugido, sem deixar rasto ou traço e que, e se mesmo assim o fizermos, tenhamos consciência de que partimos ainda mais sós e desprotegidos, não permitindo aqueles que nos gostam a possibilidade de intervir, para eventualmente nos proteger.
Existem múltiplos recursos de informação e há que os usar de forma responsável e criteriosa, em nosso benefício, proveito e protecção. A própria família e amigos conhecem, de experiência própria ou induzida, casos anteriores de sucesso e também de insucesso, devendo nós ter consciência de que a vergonha, o orgulho e a vaidade muitas vezes levam ao escamotear das realidades e que algumas das informações recebidas estão muitas e quantas vezes feridas de fantasia, na melhor das hipóteses e na pior, de maldade e inveja.
Importa também cruzar as informações recebidas com a protecção que as Instâncias Estatais e Regionais nos podem proporcionar, que no primeiro caso são os Departamento do Ministério do Trabalho e do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou as Instâncias Comunitárias mas que mais próximo de nós e de mais fácil e profícuo acesso temos a Secretaria Regional dos Recursos Humanos e o seu Centro do Emigrante ou mesmo a Direcção Regional do Trabalho ou ainda na Região, os próprios Sindicatos e até as Organizações Religiosas.
Idealmente e já que somos jovens e desejamos legítima e compreensivelmente ganhar dinheiro e autonomia, sugerimos que o momento de abandonar a escola seja postergado, que se cumpram os currículos, se termine pelo menos o ano lectivo, de forma a que se não aparente sairmos vencidos, nos auto afastemos da nossa comunidade de origem, não permitindo aos nossos amigos e “amigos” que nos julguem sistematicamente por defeito e que nos não empurrem para soluções que, apenas aparentemente, parecem vantajosas.
Finalmente a Internet é hoje uma ferramenta extraordinária de informação e validação de conhecimentos e os jovens melhor do que ninguém a sabe utilizar, para o melhor e para o pior e que no âmbito desta problemático os “links” que deixamos, poderão ser úteis numa fase inicial de prospecção e segurança das propostas que nos são apresentadas, na condição essencial de que as mesmas devem ser trabalhadas, não em regime fechado mas sim em regime suficientemente partilhado e confiante. “Duas cabeças pensam melhor do que uma”.
Sítios web que recomendamos:
http://www.uma.pt
http://www.portugal.gov.pt
http://www.sef.pt
http://www.iefp.pt
http://www.igt.pt
www.youtube.com – emigrante português
http://rjms.blogspot.com/2008/06/emigrantes.html
http://www.srrh-recursoshumanos.pt

José Felisberto de Gouveia Almeida

sexta-feira, 6 de março de 2009

Comportamentos de risco na adolescência – Gravidez e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s)



A gravidez na adolescência e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s) continuam a ser dois fenómenos merecedores de atenção e intervenção de forma a diminuir os riscos de saúde nesta faixa etária.
A existência destes problemas passa pela conjugação de múltiplos factores com sejam o início cada vez mais precoce da actividade sexual, a não utilização dos meios contraceptivos disponíveis, a baixa auto estima, o desconhecimento sobre sexualidade e as relações sexuais não protegidas.
Os adolescentes que experienciam uma gravidez enfrentam invariavelmente um conjunto de obstáculos que incluem o abandono escolar ou encurtamento das perspectivas profissionais, as dificuldades económicas e a ruptura familiar, para além de terem de lidar com sentimentos de culpa, baixa auto estima e depressão que por si só poderão contribuir para uma nova gravidez.
Para que tal não aconteça, cada vez mais o adolescente terá que saber viver uma afectividade e sexualidade responsáveis estando adequadamente informado sobre a anatomofisiologia dos sistemas reprodutores masculino e feminino e métodos contraceptivos existentes que serão complementos a toda a educação sexual vivida no ambiente familiar.
É também importante a sensibilização do adolescente para a problemática das IST´s que envolve a veiculação de informação correcta e adequada sobre os tipos de infecções desta natureza (SIDA, Sífilis, Hepatite B e C, Herpes, Condiloma Acuminado, gonorreia, etc), a sua etiologia (viral, bacteriana, fúngica ou parasitária), vias de transmissão (saliva, sangue e outros fluidos corporais – sémen e fluidos vaginais) e sinais de alerta (corrimento vaginal/uretral anormal, ardor, comichão, lesões genitais, etc) bem como sobre as medidas preventivas a adoptar (uso do preservativo, vacinação – para algumas, cuidados de higiene adequados e não partilha de objectos pessoais e perfurantes entre outros).
O Serviço de Atendimento ao Jovem (SAJ), quer através da intervenção nas escolas quer das diversas consultas disponíveis (enfermagem, médica, psicologia, nutrição e serviço social) tem vindo a dar resposta às necessidades dos adolescentes nestas áreas tendo como objectivo primordial a promoção da sua saúde integral. É também um dos seus compromissos providenciar apoio às grávidas adolescentes através de diversas consultas focalizadas nas suas necessidades específicas. Contudo, sendo a gravidez uma etapa a ser vivida num projecto de vida, o enfoque está na sua prevenção.
O atendimento dos adolescentes no SAJ é gratuito, confidencial, personalizado e imediato. Abrange a faixa etária dos 13 aos 21 anos, com horário de funcionamento nos dias úteis das 8 às 20 horas. Disponibiliza ainda uma linha de atendimento confidencial e gratuita – 800 204 125 – para esclarecimento de dúvidas colocadas pela população.

A equipa do SAJ

sábado, 28 de fevereiro de 2009

As Alterações Climáticas: uma realidade transformada em desafio

O aquecimento global refere-se ao aumento da temperatura média do ar à superfície da Terra. Este fenómeno é uma consequência do efeito de estufa, que tem vindo a ser intensificado pelas actividades Humanas, originando as alterações climáticas.
A atmosfera é a camada gasosa que envolve a Terra, constituída por vários gases, em que o azoto (N2) e o oxigénio (O2) existem em maior quantidade (99% no total). Os restantes gasesestão presentes em quantidades muito reduzidas, incluindo os conhecidos como gases com efeito de estufa (GEE). Estes GEE (vapor de água, dióxido de carbono - CO2; óxido nitroso - N2O e metano - CH4) absorvem parte da radiação infra-vermelha (IV), ou seja, o calor emitido pela superfície terrestre para a atmosfera, o que impede que ocorra uma excessiva perda de energia para o espaço. Por este motivo, o efeito de estufa (Fig. 1) é um mecanismo natural que ocorre na Atmosfera, possibilitando a manutenção da temperatura terrestre em valores óptimos para a vida no planeta. Na ausência deste mecanismo, o planeta teria uma temperatura média cerca de 33 ºC mais baixa que a actual, impossibilitando a vida como a conhecemos no nosso planeta e a água estaria em estado sólido em todo, ou grande parte dele. Como tal, a presença de GEE em reduzidas concentrações na atmosfera é essencial para um efeito de estufa equilibrado, ou seja, de modo a manter a temperatura da superfície da Terra.


fig.1 - O efeito de estufa (Fonte: Geographicae)

Desde a revolução industrial, em meados do século XVIII, que a quantidade de GEE emitida para a atmosfera tem aumentado, o que se agravou entre 1970 e 2004 (cerca de 70%). Este facto levou a um aumento da concentração destes gases na atmosfera e, por sua vez, ao incremento da absorção de raios IV, diminuindo a perda de calor para o espaço, o que contribui para o aumento da temperatura média global da Terra – o aquecimento global.
Segundo o 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) [IPCC, 2007], nos últimos 100 anos o planeta aqueceu 0,74ºC, em média, sendo este aquecimento mais significativo no Hemisfério Norte (para o mesmo período, o aquecimento na Europa foi de 1ºC). O aumento da temperatura global tem causado outras alterações no clima, como a subida do nível do mar e a mudança dos padrões de precipitação, resultando em períodos de seca e de cheias, e outros eventos climáticos extremos, como os ciclones. Tais alterações climáticas provocam impactes na agricultura, nos recursos hídricos (caudal reduzido em rios durante o Verão, levando à escassez de água para consumo), erosão da costa, extinção de espécies e aumento de vectores de doenças [URL 1].
No entanto, vários estudos apontam para que o Homem não seja o único responsável pelas alterações climáticas, apesar de contribuir de forma significativa [IPCC, 2007]. Para as alterações climáticas contribui também a variabilidade climática. Este termo é usado na Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC) [UN, 1992] referindo-se às mudanças de causa natural. A variabilidade climática associada ao aquecimento global, ocorre em períodos de dezenas de milhares de anos, entre as idades do gelo, e é o resultado de quatro factores: natureza caótica do sistema climático, comportamento oscilante de agentes climáticos importantes, variabilidade da intensidade solar e aleatoriedade da actividade vulcânica [GCMarshall, 2005]. No entanto, quando usamos o termo “alteração climática” referimo-nos às mudanças causadas pelo Homem.
Os efeitos do aquecimento global são evidentes para além da já referida subida da temperatura. A nível mundial, entre 1961 e 2003, a subida do nível do mar foi de 18 cm por século, mas este valor aumenta para 31 cm por século se for considerado o período de 1993 a 2003 [IPCC, 2007]. As alterações climáticas não constituem apenas um problema dos países industrializados ou poluidores, mas é sim um problema global. Exemplo disso é o continente Africano, cujas emissões de GEE são desprezáveis face à quantidade emitida pelos países desenvolvidos, sendo no entanto das regiões do planeta mais afectadas pelos impactes do aquecimento global [IPCC, 2007]. As regiões da Europa mais vulneráveis às consequências do aquecimento global são as áreas montanhosas, o Árctico, as zonas costeiras e a região mediterrânica. A camada de gelo da Gronelândia está a diminuir e o nível do mar Árctico a aumentar. As regiões montanhosas (Alpes, Cárpatos, Montes Escandinavos, Pirinéus e Cáucaso) estão a perder a massa glaciar, o que se traduz num aumento do perigo de avalanches, erosão do solo e alto risco de extinção de espécies. Na região mediterrânica tem-se vindo a notar um decréscimo da precipitação anual e do leito dos rios, perda de solo agrícola, aumento dos fogos florestais, da área ardida e das ondas de calor. No entanto, na região do Noroeste Europeu tem ocorrido um aumento da precipitação durante o inverno com consequências ao nível do aumento do leito dos rios e maior risco de inundações costeiras [IPCC, 2007; EEA, 2008]. Todas estas alterações provocadas pelo aquecimento global têm implicações ao nível da qualidade da água superficial e subterrânea, na biodiversidade e ecossistemas territoriais, na qualidade dos solos para agricultura e na saúde humana. Importa ainda referir os impactes na economia devidos, por um lado, às perdas humanas e materiais associadas aos eventos climáticos extremos e diversos impactes das alterações climáticas, e por outro, aos investimentos necessários para implementar medidas mitigadoras (com o objectivo de reduzir as emissões de GEE) e de adaptação (que visam preparar os estados e regiões potencialmente mais afectadas para minimizar as consequências adversas das alterações climáticas).
O consenso entre os especialistas em alterações climáticas de que a temperatura global continuará a aumentar, tem levado organizações intergovernamentais, nações, estados, empresas e cidadãos a implementar acções para tentar reduzir o aquecimento global e a ajustar-se a ele. Neste sentido, à escala governamental e intergovernamental, surgiu o Protocolo de Quioto (1997), o Programa Europeu para as Alterações Climáticas (2000) e, no caso de Portugal, o Plano Nacional para as Alterações Climáticas (2001), entre outros, que consistem em documentos estratégicos com medidas de mitigação das emissões de GEE. Mais recentemente, em 2007, a Comissão Europeia adoptou o Livro Verde, onde se faz o diagnóstico dos impactes das alterações climáticas e está em curso o desenvolvimento do Livro Branco com estratégias de adaptação para os mesmos impactes. À escala empresarial, têm sido feitos esforços no sentido de aumentar a eficiência energética e uso de fontes alternativas de energia, bem como o comércio de emissões de GEE, no qual as empresas, em conjunto com os governos, limitam as suas emissões ou compram licenças àqueles que emitem menos que as suas quotas.
Este problema das alterações climáticas tem tido uma influnecia crescente na sociedade actual. De facto, a extensão, gravidade e os impactes resultantes das ditas catástrofes “naturais” estão intimamente associados às opções estratégicas de desenvolvimento e ao estilo de vida insustentável das sociedades modernas. O comportamento humano perante o ambiente e a insensibilidade das decisões de desenvolvimento tem levado a um incorrecto ordenamento do território e à alocação indevida de actividades humanas em zonas de risco. A análise do panorama mundial, em todo semelhante à situação nacional, mostra que a maioria da população (em Portugal cerca de 80%) vive em zonas costeiras, mais susceptíveis à ocorrência de desastres “naturais”, em que o aumento do nível do mar é o mais óbvio como se referiu. Mas também não se cuidam as áreas mais críticas em termos ambientais: os leitos de cheia dos rios, constrói-se sobre falhas sísmicas, desfloresta-se potenciando a desertificação...
Por outro lado, a alteração profunda dos usos do solo (o bem mais escasso que existe no Planeta...), designadamente o elevado índice de ocupação urbana e a respectiva pavimentação, na agricultura a mecanização e consequente compactação dos solos, têm contribuído para a diminuição da capacidade de infiltração e drenagem das águas.
Muito para além das negociações internacionais, existe um importante trabalho doméstico a realizar. Pôr em marcha a Agenda 21 Local (imaginem, foi aprovada na Conferência do Rio em 1992!!!) aparece como uma prioridade para a qualidade de vida das populações, através de opções inteligentes e ambientalmente correctas, que minimizem, quer a frequência, quer os efeitos das consequências das alterações climáticas.
E cabe a todos nós individualmente questionar os nossos padrões de vida para adoptar comportamentos sustentáveis, não apenas para o ambiente como também para a sobrevivência da Humanidade.
Existe uma longa lista de medidas mitigadoras e de adaptação que devem ser adoptadas por cada cidadão e que são tão importantes como as anteriormente apresentadas, como sejam a contenção e o uso racional de energia (optar por tecnologias mais eficientes, não desperdiçar energia – boas práticas energéticas); aproveitar a energia de fontes alternativas; preferir os transportes mais eficientes e mais limpos; reduzir, reutilizar e reciclar (3R) e mudar alguns hábitos que visem a minimização de desperdícios. A Terra é a única casa de que dispomos e é essencial preservar os recursos que ela nos pode oferecer. Esta é não apenas uma tarefa mas também um desígnio de todos e de cada um individualmente.
Sermos utilizadores conscientes e racionais dos recursos disponíveis é a chave, quer para o desenvolvimento sustentável, quer para a diminuição de GEE emitidos para a atmosfera, e é este o desafio que o aquecimento global nos deixa em mãos, a nós enquanto cidadãos. “Ninguém cometeu um erro maior do que aquele que nada fez porque era muito pouco aquilo que podia fazer” (E. Burke, Século XVIII).

Bibliografia
IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change (2007). Climate Change 2007: Synthesis Report. (Disponível em http://www.ipcc.ch/).

UN – United Nations (1992). United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). (Disponível em: http://unfccc.int/resource/docs/convkp/conveng.pdf).

George C. Marshall (2005). Natural climate variability. (Disponível em: http://www.marshall.org/pdf/materials/340.pdf).

EEA – European Environmental Agency (2008). Impacts of European’s changing climate – 2008 indicator-based assessment. Joint EEA-JRC-WHO Report. EEA Report Nº 4/2008. ISSN 1725-9177. Copenhagen. (Disponível em: http://www.eea.europa.eu/publications/eea_report_2008_4/)

URL 1: http://www.grida.no



quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Consenso de Copenhaga de 2004





Atendendo aos problemas que atingem a nossa sociedade a nível global, o que devemos fazer e com que prioridade? Esta resposta é obtida através de um processo chamado Consenso de Copenhaga.
Para este Consenso foi convidado um painel de economistas de grande nível, que incluía quatro laureados com o Prémio Nobel. Fez-se então a primeira lista de sempre a explicitar as prioridades globais de acordo com o benefício adquirido por cada dólar gasto.
1-doenças
2-má nutrição
3-Saneamento e água potável
4-emigração
5-clima

A nossa primeira revista abordará as temáticas das doenças, má nutrição, saneamento e água potável; a segunda revista centrar-se-á na emigração e a última contemplará o clima.
No processo chamado Consenso de Copenhaga, os peritos não se limitaram a dizer que as soluções traziam benefícios. Mostraram exactamente quanto bem é que faria e quanto iria custar. Tiveram em conta o benefício trazido pelo protocolo de Kyoto para cada um dos impactos positivos sentidos na agricultura, nas florestas, nas pescas, no abastecimento de água, nos danos causados por furacões e assim por diante. Calcularam os custos através das perdas de produção. Para as soluções contra a malária, os efeitos positivos seriam menos mortes, menos doentes, menos pessoas a faltar ao emprego, populações mais resistentes em relação a outras doenças, bem como a um aumento da população. Os custos seriam a quantia de dólares gastos para comprar, distribuir e usar redes contra mosquitos.

Algumas das principais prioridades também correspondem a alguns dos principais factores de risco identificados pela Organização Mundial de Saúde. Prevenir o HIV/SIDA revela-se o melhor investimento que a humanidade pode fazer: cada dólar gasto em preservativos e em informação gerará cerca de quarenta dólares em benefício social, o valor de menos mortes, menos doentes, menos distúrbios sociais, entre outros. Com vinte e sete biliões de dólares podemos salvar vinte e oito milhões de vidas durante os próximos anos.
A má nutrição mata quase quatro milhões de pessoas por ano e afecta mais de metade da população mundial ao danificar a visão, diminuir o QI, reduzir o desenvolvimento e limitar a produtividade do ser humano. Investir doze biliões de dólares conseguirá provavelmente reduzir para metade a incidência e a taxa de mortalidade, com cada dólar a trazer o benefício social equivalente a mais de trinta dólares.
Acabar com os subsídios agrícolas do Primeiro Mundo e assegurar um comércio justo faria com que quase toda a gente ficasse muito melhor. Os modelos sugerem que seriam alcançáveis benefícios anuais até 2,4 triliões de dólares, com metade desses benefícios a nascer no Terceiro Mundo. Para alcançar estes resultados seria necessário recompensar os agricultores do Primeiro Mundo, que estão habituados aos benefícios de um mercado fechado. Mas os benefícios de cada dólar gasto constituiriam um bem social equivalente a mais de quinze dólares.
Por fim, a malária é responsável pela perda de mais de um milhão de vidas anualmente. Infecta cerca de dois biliões de pessoas em cada doze meses, muitas delas várias vezes, e provoca debilitação generalizada Um investimento de treze biliões de dólares poderia reduzir a sua incidência para metade, proteger 90 por cento dos recém-nascidos e reduzir em 72% o número de mortes de crianças abaixo dos cinco anos. Por cada dólar gasto faríamos, pelo menos, o equivalente a dez dólares de benefício social.
Na outra ponta do espectro, o painel colocou as oportunidades relativas às alterações climáticas, incluindo Protocolo Kyoto, no fundo, sob o título “Mais oportunidades” sublinhando o que vimos anteriormente, que por cada dólar gasto acabaríamos por conseguir um benefício para o mundo equivalente a menos de um dólar.
O desafio inicial não foi colocado apenas a economistas de topo, também perguntaram a oitenta jovens estudantes universitários de todo o mundo, 70% dos quais de países em desenvolvimento, com uma representação igual em ambos os sexos e que vinham de artes, ciências e ciências sociais. O mesmo foi feito aos embaixadores das Nações Unidas. Vamos saber a resposta na próxima revista
In Calma ! - Cool It
António Freitas - 520

Protocolo de Kyoto


Muitos já devem ter ouvido falar no Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, com o objectivo de reduzir aproximadamente 5% da emissão dos gases com efeito de estufa. Desta forma foram colocados valores de emissão para cada país (licença de emissão de gases). Quando um país atinge o máximo, deve comprar aos países que ainda não o atingiram. Na minha modesta opinião, o tratado de Kyoto foi o ponto de partida para os governos ganharem dinheiro às custas dos gases com efeitos de estufa reclamando o aquecimento global. Neste momento, quem tem um carro que emita mais gases efeitos de estufa, paga mais! Eu pergunto: O que fazem com esse dinheiro que é pago mais contra o aquecimento global? São plantadas mais árvores para reciclar o CO2?

António Freitas -520

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mosquito Aedes aegypti (Mosquito do Dengue) na Madeira



A ilha da Madeira é mundialmente conhecida pelo seu clima ameno, convidando a uma visita pelas suas belas paisagens e outras actividades ao ar livre, que, desde há muito, têm sido exploradas para fins turísticos. A temperatura e a humidade que se verificam ao longo de todo o ano propicia a muitos seres vivos, animais e plantas, condições ideais ao seu desenvolvimento.
Os ecossistemas, sofrem alterações constantes, sejam por acção humana ou por via natural, contudo, a introdução descontrolada ou acidental de uma nova espécie num habitat poderá provocar desequilíbrios, que, em ecossistemas limitados, como é o caso de uma ilha, originam efeitos devastadores a curto prazo.
De uma forma geral, uma espécie, ao ser introduzida num novo habitat que reúna características ideais à sua proliferação e na ausência de predadores naturais, poderá sofrer um crescimento desmesurado originando uma diminuição dos recursos disponíveis para outras espécies residentes ou mesmo constituir uma ameaça para estas. Em termos de importância Médica, o crescimento descontrolado de uma espécie, em situações extremas, poderá levantar questões de saúde pública, exemplo disto será um aumento na taxa de transmissões ou infecções por um dado organismo.
A ilha da Madeira, ao longo dos tempos, tem sido alvo de inúmeras introduções (desde plantas ornamentais, medicinais a animais exóticos). Em 2004, na sequência de algumas queixas por parte da população local, especificamente na localidade de Santa Luzia, relatos de dolorosas picadas de mosquito que originavam reacções inflamatórias exuberantes, uma equipa da Unidade de Entomologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical identificou o Mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera, Culicidae) que, em colheitas anteriores, realizadas entre os anos de 1977-1979, não havia sido detectado. Em Portugal Continental, existem registos da espécie até 1956, não tendo este sido identificado desde então.
O Aedes aegypti é uma espécie endémica na grande maioria das regiões tropicais e subtropicais por todo o mundo, onde o vírus do dengue é considerado um grave problema de saúde pública. A abundância do mosquito está directamente relacionada com o aumento da temperatura e da precipitação uma vez que estes factores originam maior número de colecções de água que funcionam como criadouros, induzem um aumento da taxa de desenvolvimento, diminuindo o tempo do ciclo reprodutivo e estimulando a eclosão das formas imaturas.
Esta espécie é também conhecida por utilizar uma diversidade considerável de criadouros, muitos deles artificiais (produzidos pelo Homem) onde ocorre a ovoposição, sendo que os ovos do mosquito Aedes aegypti são especialmente resistentes à dissecação. As alterações climáticas, que, nos últimos tempos, têm sido alvo de algum mediatismo, podem também dar o seu contributo na dispersão do vector e do vírus, levando à expansão geográfica das áreas de distribuição dos mesmos.
Até à data, não foi identificado qualquer caso de dengue autóctone (transmitido na Madeira), o que sugere a ausência do vírus.
Segundo dados da Direcção-geral de Saúde, no último ano em Portugal Continental foram registados 15 casos importados de dengue. O volume de tráfego marítimo e aéreo entre a Madeira e Portugal Continental e outros países pode aumentar o risco de re-introdução do mosquito, particularmente no sul da Europa onde o clima é mais favorável ao seu desenvolvimento. Para além disto, Portugal mantém relações estreitas com países onde recentemente ocorreram surtos de dengue, como é o caso do Brasil, que, num dos piores cenários, poderão contribuir para a importação de novos casos e de uma possível transmissão na presença do vector.
O processo de Globalização, caracterizado, entre muitos outros factores, pelo rápido movimento de pessoas e mercadorias de um ponto do Globo para outro, por si só acarreta inúmeras facilidades na disseminação de agentes infecciosos. Exemplo disto é o facto de já em 1857 se ter verificado um surto de febre amarela em Lisboa, que causou milhares de mortos, e ainda a Globalização como a entendemos hoje, não se vislumbrava no horizonte.
Existe ainda um conjunto de normas internacionais para controlo de vectores em aeroportos, em particular para o Aedes aegypti, que passam pelo tratamento dos locais de criação nas imediações do aeroporto (num perímetro de 400 metros). É nossa opinião que estas medidas deveriam abarcar os portos marítimos (http://whqlibdoc.who.int/hq/pre-wholis/a43045_%28p97-p170%29.pdf ).
Aparentemente as autoridades regionais estão atentas ao problema, avançando com um plano que tem em vista a diminuição dos criadoros (vasos, pneus e recipientes de plástico) e a eliminação de formas imaturas e adultos recorrendo ao uso de insecticidas. No entanto, o mosquito Aedes aegypti continua a ser encontrado e a população a ser picada. A dificuldade em erradicar uma espécie de mosquito é conhecida ou mesmo quase impossível, à semelhança da realidade dos países Africanos, em que esforços realizados durante décadas não foram suficientes para eliminar as transmissões de malária, entre outras infecções transmitidas por estes vectores.
Como nota final, apelamos à continuidade das medidas preventivas já tomadas e à implementação de outras que, a curto prazo, podem contribuir para a diminuição daquele mosquito. Sugerimos às Autoridades Regionais a implementação de um plano de vigilância entomológica permanente, registando possíveis variações na abundância do vector, o que permitiria uma rápida identificação dos principais focos e uma acção eficaz no controlo vectorial. Outra medida seria o desenvolvimento de um plano de educação ambiental nas escolas e através dos meios de comunicação em geral, não com o intuito de alarmar a população, mas, sim, de informá-la, onde seriam abordadas as características do vector (por exemplo: picos diários de alimentação) e medidas de protecção, como sejam a utilização de repelentes e de redes mosquiteiras nas habitações e fomentar a redução de recipientes de água que poderão ser utilizados pelo mosquito no seu ciclo reprodutor. A prevenção será sempre a melhor escolha para o combate de possíveis transmissões vectoriais.


Ferdinando Freitas, Investigador no IHMT (Instituto de Higiene e Medicina Tropical)