quarta-feira, 2 de julho de 2008

Editorial



Quem fomos?
Quem somos? Que objectivos norteiam o caminho que trilhamos?
Quem vislumbramos ser?

A comemorar os 170 anos da nossa instituição, o terceiro número da revista “O Lyceu” continua a dar voz a testemunhas ilustres de um passado recente. Figuras incontornáveis da política, da educação, da literatura, da música, da investigação e do jornalismo, que passaram pelos bancos do Liceu, pintam uma aguarela de memórias, onde a saudade de um tempo de estudo e de companheirismo é o sentimento primordial. São “malandrices de adolescentes”, “o inesquecível primeiro amor”, “risos e zangas, gargalhadas e choros” ou “uma certa indisciplina q.b.” que partilham connosco, do mesmo modo que, gratos aos seus professores, nos ensinam, no presente, o valor do “mérito, do trabalho, da disciplina e do respeito pelos outros.”
Na actualidade, a nossa escola é um espaço criativo e criador de múltiplos eventos, onde a aliança entre tradição e mo-dernidade irrompe não só nas salas de aula, mas também em múltiplas conferências, sessões literárias, acções de formação, visitas de estudo, torneios desportivos, exposições artísticas, Semana dos Clubes e Projectos, Festival de Teatro, entre outros.
De olhos postos no futuro, “O Lyceu” procura reflectir, nas palavras do seu Director, “a Escola filha do seu tempo” que, face aos novos desafios que cada época impõe, almeja, invariavelmente, “ser um instrumento de valorização e de di-gnificação humana.”

A Equipa Editorial

Entrevista com Dr. Jorge Moreira


Jorge Moreira de Sousa
Presidente do Conselho Executivo da ESJM

Numa altura em que se comemoram os 170 anos do Liceu / Escola Secundária Jaime Moniz fomos ouvir o Presidente do Conselho Executivo, Dr. Jorge Moreira, sobre aquilo que podemos esperar para a nossa Escola, no futuro.


O Lyceu – Antes do 25 de Abril de 1974, a Escola e tudo o que se encontrava legislado sobre a Educação apontavam para um determinado “modelo” de País. Hoje em dia, ao analisarmos esses documentos, muitas vezes produto de intervenções avulsas, não compreendemos o perfil do Portugal que se quer.
A Escola/Educação actual alinha com aquilo que se pretende do Portugal futuro?

Jorge Moreira – O modelo educativo actual encontra-se em conformidade com o regime democrático, que tem como matriz referencial educar para a cidadania, para os valores do pluralismo, da tolerância e da liberdade. No entanto, a escola actual, influenciada por algumas correntes pedagógicas, não tem incentivado os jovens à cultura do mérito, do rigor, da exigência e da excelência, pilares fundamentais para uma educação de sucesso.


O Lyceu – A Escola Secundária de Jaime Moniz, face aos actuais mode-los de gestão, vai continuar com o mesmo modelo de gestão intermédia?

Jorge Moreira – Depende de a Região Autónoma da Madeira alterar ou não o actual modelo de gestão escolar. De qualquer forma, é necessário agilizar e melhorar a qualidade do desempenho de alguns órgãos de gestão intermédia, porque constituem o cerne e o suporte para a nossa instituição adquirir patamares de elevada qualidade. A prestação de serviços de qualidade passa, necessariamente, por uma gestão intermédia competente e exigente.

O Lyceu – As escolas vão poder adaptar os seus próprios modelos de gestão. Que modelo preconiza para a Jaime Moniz do futuro?

Jorge Moreira – Um modelo que procure conciliar duas formas de actuação: uma que assenta no rigor, na disciplina e na autoridade e uma outra que estimula a comunidade educativa para uma cultura de incentivo, de confiança e de estímulo à iniciativa e à inovação.


O Lyceu – Considera a hipótese de se recandidatar à Presidência do Conselho Executivo?

Jorge Moreira – Ainda estou a meio de um mandato e julgo ser cedo para pensar numa recandidatura. Tudo tem o seu tempo. Contudo, estarei sempre disponível para estar ao serviço da minha Escola no sentido de a engrandecer, de a tornar numa Escola de referência, ao serviço dos nossos jovens e ao serviço da Região.


O Lyceu – Um professor não é um gestor. Concorda com a entrada de gestores na gestão da Escola?

Jorge Moreira – Concordo com uma gestão profissionalizada que tenha como referência docentes muito bem preparados e qualificados para o exercício das funções, seja pela formação ou pela experiência na administração e gestão escolar, e que tenha capacidade de liderança. Defendo uma gestão que observe o primado dos critérios de natureza pedagógica sobre os critérios de natureza administrativa.


O Lyceu – A Escola tem cumprido objectivos: aumentou a taxa de aproveitamento; foi ao encontro dos pais, através da criação de escolas a tempo inteiro. E na perspectiva dos alunos? Perante a mudança social pulsante que o nosso século atravessa, a Escola pretende acompanhar e gerir este processo?

Jorge Moreira – Podemos afirmar que a Escola é filha do seu tempo, isto é, está sujeita às regras da temporalidade, às conjunturas económico-sociais e políticas, aos valores e às regras, às modas das diversas gerações. Deverá estar ao serviço de uma política educativa sufragada pela vontade democrática, de forma a dar resposta aos diversos desafios que cada época impõe, ser um instrumento de valo-rização e dignificação da pessoa humana.


O Lyceu – A Escola chama a si “Qualidade e Tradição”. Perante as exigências actuais, o Sr. Director admite a existência de, pelo menos, 50% de cursos tecnológicos na Jaime Moniz?

Jorge Moreira – O Projecto Educativo aprovado e em vigor defende uma matriz baseada na formação dos nossos jovens para os cursos de prosseguimento de estudos para o ensino superior e, de forma supletiva, em cursos de cariz tecnológico e profissional. Temos uma tradição que aponta para cursos de matriz superior e ajusta-se perfeitamente à nossa cultura organizacional, aos nossos recursos humanos e materiais.


O Lyceu – A efectivar-se a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, a nossa Escola está pronta para receber um maior número de alunos?

Jorge Moreira – Certamente que temos que estar preparados, como todas as escolas de Região, para ultrapassar quaisquer desafios que nos são colocados. A escolaridade obrigatória de 12 anos significa que estamos a dar mais um passo de gigante no sentido de melhor qualificar os nossos recursos humanos e, assim, dar cumprimento aos desafios que a modernidade nos coloca.


O Lyceu – Está satisfeito com a situação actual da Escola Secundária Jaime Moniz? O que melhorar ou mudar?
Professores?
Funcionários?
Alunos?
Instalações?

Jorge Moreira – Posso dizer que temos que ser inconformistas e nunca estar satisfeitos com uma determinada situação. Temos que exigir e procurar sempre mais e melhor, ser ambiciosos. Claro que temos uma escola de qualidade, com excelentes profissionais e com muito bons alunos. No entanto temos que fazer um esforço, a todos os níveis, para melhorarmos o nosso desempenho cada dia que passa, procurarmos melhores soluções e maiores níveis de exigência e de qualidade, temos que implementar novas práticas, novas tecnologias.


O Lyceu – A Escola apostou na implementação de fechaduras electró-nicas. Quais os aspectos positivos desta medida?
Há alguma ligação entre fechadura electrónica e sucesso dos alunos?

Jorge Moreira – Apenas pode ser um indício de abertura às novas tecnologias. Pode ser um sinal que a Escola incide nas práticas de automação. O Professor deixa de estar depende de um funcionário e torna-se mais autónomo, mais responsável. Esta medida, como outras que estão a ser aplicadas, nomeadamente a implementação do sumário digital, por si só, podem dizer muito pouco, mas apontam para uma mudança de paradigma, de mentalidade e de atitude que, a médio prazo, irão produzir efeitos muito importantes, permitindo libertar os professores e funcionários para outras tarefas, diminuindo as funções meramente burocrático-administrativas e aumentando a produtividade e a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem.



O Lyceu – Uma Escola desta dimensão não deveria fornecer diversos serviços à Sociedade e rentabilizar os seus próprios recursos humanos, incentivando um processo de auto-proficiência na Informática, no Desporto, na Literatura, no ensino das Línguas, na Formação pluridisciplinar …?

Jorge Moreira – A interacção Escola-Sociedade civil deve ser cada vez mais aprofundada. Porém a prestação de serviço à sociedade esbarra com preceitos e normas que enquadram o Estatuto da Carreira Docente.


O Lyceu – Considera a possibilidade de alargar as parcerias com outras entidades da sociedade madeirense? Quais? Porquê?

Jorge Moreira – A Escola Secundária Jaime Moniz sempre se pautou por ter iniciativas inovadoras em várias vertentes. A Escola tem como primeiro objectivo servir os seus clientes (alunos) e prestar-lhes um serviço de qualidade a que têm direito. Qualquer parceria que enri-queça o serviço prestado pela Escola é sempre bem vinda.


O Lyceu – O que pensa o Sr. Director fazer, a curto prazo, para desenvolver as TIC na Educação de uma forma integrada?

Jorge Moreira – Neste momento, a Escola encontra-se numa fase de estabilização a este nível e espera-se aproveitar mais e melhor os recursos humanos existentes. Assim aproveita todas as oportunidades ao nível de aquisição de equipamentos que os programas regionais permitem e assim como a hipótese de formação disponível, esperando optimizar e desenvolver as TIC para benefício dos alunos e comunidade educativa.


O Lyceu – Este ano, muitos professores, em especial os de AP, reclamaram a lentidão de acesso à Internet. Foi uma reclamação que chegou ao Conselho Pedagógico. Para quando a resolução do problema, uma vez que durante este ano lectivo a utilização das TIC foi um factor limitativo no trabalho desenvolvido com os alunos nas salas de aula?

Jorge Moreira – Estamos a estudar as configurações e arquitectura para encontrar uma solução alternativa à existente (rede Rei XXI). Após estar completo este estudo vamos pedir à tutela as necessárias autori-zações administrativas para implementar um novo acesso mais célere e eficaz.






O Lyceu – Hoje sabemos que o e-learning é uma mais-valia no processo de aprendizagem do aluno. Para quando a disponibilização de uma plataforma de e-learning para utilização dos nossos professores, alunos e funcionários? Por que motivo não utilizar o Moodle, por exemplo, uma vez que é uma plataforma gratuita? O que podemos esperar neste sentido?

Jorge Moreira – Após uma primeira experiência com a Dra. Maria Antónia Brito e tendo estabilizado o Prodesis, será utilizada a rede interna para disponibilizar a plataforma moodle em rede. No que concerne ao e-learning temos ainda que privilegiar o ensino presencial, não descurando o recurso às novas tecnologias, como percursoras de um novo paradigma de escola.


O Lyceu – A Direcção da Escola Secundária Jaime Moniz pretende ter um papel activo na avaliação dos professores?

Jorge Moreira – O Conselho Executivo não pode extrapolar das suas competências previstas na lei vigente. O Decreto Legislativo Regional atribui ao Conselho Executivo um conjunto de competências que estão devidamente especificadas. Tem um papel de parceria com outras entidades da escola, de modo a permitir uma avaliação mais adequada e ajustada ao perfil e ao desempenho de cada professor.


O Lyceu – Como idealiza uma avaliação de professores o mais justa possível?

Jorge Moreira – Uma avaliação que se baseie numa análise correcta e completa nas competências do professor, quer ao nível da sala de aula, quer ao nível do desempenho de cargos ou outras tarefas que lhe são cometidas. Deve ser discutida e pensada, por cada escola, tendo por base um normativo quadro, mas com o objectivo muito claro de ser, acima de tudo, um instrumento formativo e não punitivo e de ser um estímulo ao bom desempenho e um incentivo às boas práticas que devem ser generalizadas a toda a comunidade escolar.

XXIX Encontro de Teatro na Escola


O Moniz participa no XXIX Encontro de Teatro na Escola

Entre os dias 9 e 12 de Abril de 2008, o Clube de Teatro “O Moniz -Carlos Varela”, participou no XXIX Encontro de Teatro na Escola, que se realizou em Vila Real de Santo António, tendo apresentado a peça RTX 78/24, de António Gedeão.

Partimos da Madeira bem cedo, chovia imenso lá fora. A viagem correu bem, chegámos a Lisboa num ápice e, logo no mesmo instante, pusemo- -nos a caminho do Algarve. Vila Real de Santo António teimava em não aparecer. Após quase cinco horas de viagem, chegámos à cidade. Estávamos cansados, molhados, com fome. Exaustos, se é que me entendem. Fomos conhecer a nossa “Residencial Villa Marquez”, para mim uma autêntica casinha de bonecas e, de seguida, a escola que organizou o encontro, Escola Básica 2/3 D. José I. Descansámos por algumas horas e, mais tarde, jantámos no refeitório com tantos outros alunos, de tantas outras escolas. E assim foi o primeiro dia. Os outros quatro? Passaram a correr! Foram os ateliês de formação, as peças de teatro, os debates, os passeios. Foram as pessoas, os grupos, as pronúncias de que eu tanto gosto! A troca de experiências, a partilha de emoções, a paixão comum pela arte de representar! Os almoços e os jantares com todas as brincadeiras, canções e histórias a que têm direito. Momentos para recordar por muito tempo, não tenho dúvidas. Por fim, voltámos à nossa ilha, deixando para trás cinco dias memoráveis. Hoje, ficam as saudades.

Bítia Vieira - 12º 6

Testemunhos do Liceu: David Pinto Correia




Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: João David Pinto Correia
Idade: 68 Anos
Profissão: Professor Universitário (Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras)
Área de formação: Letras / Humanidades


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
David Pinto Correia – Antes de mais, gostava de reconhecer que estas respostas foram elaboradas de modo muito espontâneo, como uma quase evocação imediata do que ainda ficou desses todos anos de Liceu (sete anos); são, portanto, breves notas que deveriam merecer mais reflexão… No entanto, devo acrescentar que quis desenvolver as duas primeiras questões, reservando-me o direito de ser muito sucinto em relação às duas últimas. Do facto peço perdão.
Transitando da Escola Primária (a minha foi a de S. Gonçalo, com professores excepcionais, principalmente o Prof. Mendes), o Liceu foi naturalmente outro mundo: aulas diferentes, com seis tempos lectivos diários, vários docentes, instalações muito boas. A princípio um pouco confuso com a mudança, logo me fui habituando e foi no Liceu de Jaime Moniz que passei esses sete anos lectivos.
Em primeiro lugar, creio que foi aí que tive pouco a pouco a aprendizagem da camaradagem e da amizade. Os colegas e amigos do Liceu ficaram, de facto, para toda a vida; claro que nos lembramos principalmente dos do sétimo ano, em que éramos finalistas e, ao tempo, quase todos seguiam para o Continente. Mas esses que chegavam ao fim dos estudos do secundário, com alguns mais que vinham de fora (de outros estabelecimentos de ensino ou mesmo de outras partes do território nacional) eram, e se não tinham perdido nalgum ano, quase os mesmos do 1º ano (das diferentes turmas). Deste modo, podemos lá de tempos a tempos juntar-nos ainda em convívio, mormente em jantares de Natal ou de comemoração de uma data importante (como no ano passado, a de 50 anos de fim do curso liceal).
Depois, penso nos meus professores, avalio-os após tantos anos: há aqueles que nos marcaram pelo saber e capacidade pedagógica, há também outros (é evidente que os anteriormente referidos podem estar incluídos neste grupo) que nos revelaram a grandeza humana e simpatia, há ainda todos aqueles a que faltavam capacidade pedagógica, mas tentavam cumprir uns com esforço, outros mais desajeitadamente, a sua tarefa de docentes. Lembro, como grandes mestres ou como docentes que muito me influenciaram, o Dr. Joaquim Lufinha, de Português (a quem devo muita da minha formação), meu professor durante cinco anos, e, já no 3º Ciclo, o Dr. Emanuel Paulo Ramos, meu grande tutor no estudo da Literatura Portuguesa, o Dr. Clementino de Sousa, de Ciências Naturais (homem difícil, mas pedagogicamente admirável), o Dr. Fonseca, a Dra. Judite e a Dra. Conceição, estes de Matemática, mas também a Dra. Maria Ângela, de Desenho e Trabalhos Manuais (disciplinas em que não tinha nenhuma dificuldade e sempre com notas bastante razoáveis), assim como, já mais no 2º ciclo, a Dra. Helena Pires de Lima, de Inglês, o Dr. Canedo, de Ciências, o Dr. Saraiva, que nos dava aulas bem práticas de Física e Química, e, já no 3º Ciclo, o Dr. Cardeal, que me formou muito rigorosamente em Latim e Grego (não esquecendo não as lições, mas a avaliação dos meus exames de sétimo ano, a Dra. Margarida Morna), o Dr. Figueiredo (e fico espantado por ele nos ter leccionado Filosofia e Organização Política e Administrativa da Nação, com um rigor extraordinário, o que, na última dessas disciplinas, me levou a tirar 19,8 no exame final do 7º), o Dr. Horácio Bento de Gouveia, em Geografia e em Filosofia (nesta disciplina, só durante um ano), ou a Dra. Eulália de Sousa, em Francês (no Preparatório), ou a Dra. Adelaide Saraiva, em Francês, no 3º Ciclo, e, por outras razões, bem vivas na minha memória, o Dr. Figueira César (eu era aluno do afamado 4º C).
Gostava também de mencionar professores que, não tendo missão considerada de co-nhecimentos fundamentais, me tornaram diferente e me orientaram no sentido de uma mais completa formação humana: são eles os professores de Religião e Moral, na altura o Padre Manuel Ferreira Cabral, mais tarde Arcebispo de Braga, e o Padre Mata, que teve profunda influência em muitos dos jovens dos anos 50, sobretudo através da Juventude Escolar Católica e das Conferências de S. Vicente de Paulo; de Canto Coral, entre eles o nosso “Capitão” e o Cónego Agostinho Gonçalves, que teve a iniciativa do Orfeão do Liceu (lembro-me da nossa récita no átrio-museu, com, entre outras composições, o «Va pensiero” de Verdi); e de Educação Física, com a ginástica e jogos, com o Dr. Santos Lã e, depois, o Prof. Ferreira. A todos eles devo muito, quase tudo em determinados aspectos…
Curiosamente, também poderia falar dos castiços funcionários que nos orientavam pelos corredores e pátios (o Sr. Plácido, por exemplo, com o seu famoso chaveiro em cima das nossas cabeças…).

O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)
David Pinto Correia – Serei o mais resumido possível. E obrigado por me ter sido suge-rido um quase plano.
Quanto a pessoas: muitas delas já ficaram enumeradas na resposta anterior. No entanto, gostaria de ressaltar algumas que tiveram uma grande importância na minha formação, não só em preferência da minha futura actividade científica e académica, mas também humanista. Na escolha da minha carreira, e principalmente para a minha profissão de professor universitário e, de certo modo, escritor, quero salientar não só os professores Dr. Lufinha e Dr. Paulo Ramos, mas também o acompanhamento sempre prestado pela esposa, Dra. Marília Ramos; no entanto, não esqueço as conversas, por vezes nos corredores, sobre estes assuntos das “Letras”, com os Drs. Horácio Bento de Gouveia, Carlos Lélis, Margarida Morna e Alfredo Nóbrega. Na sensibilidade à pedagogia, alguns destes agora citados, mas também, na condução das aulas, os Drs. Clementino de Sousa e Helena Pires de Lima. Noutro plano, há que reconhecer a influência profunda dos Padres (na altura) Ferreira Cabral e Mata.
Espaços: foram as salas de aula no rés-do-chão da ala oriental do Liceu, junto do pátio dos rapazes: todas aquelas salas de impecável aspecto (pelo menos na altura e creio que ainda o mantêm) e os agradáveis intervalos e mesmo os tempos livres (alguns devi-dos às compreensíveis faltas dos professores): tempo de jogos, brincadeiras, tropelias mesmo, importantes para os adolescentes que éramos. Mas também a sala de Ciências Naturais, nas aulas do Dr. Clementino, com os desenhos e esquemas que ele escrevia no quadro, o contacto com o esqueleto, a observação nos microscópios (e daí data o meu interesse por este grande campo, que vai dos animais às plantas; até a mineralogia me fascinava). No campo das Ciências, também as nossas aulas nos laboratórios de Física e Química, para acompanharmos as experiências (era já um ensino prático na medida do possível, com os instrumentos da altura, mas sempre gratificantes…).
As aulas de Português, com a leitura de alguns clássicos sempre me seduziram, desde os textos dos compêndios e antologias (então, eram os “aprovados como livros únicos”) e, depois, a descoberta de obras como O Bobo, Lendas e Narrativas, Auto da Alma e outros, mas sobretudo Os Lusíadas e a Lírica, de Camões. Quanto a Os Lusíadas, o docente, o já mencionado Dr. Lufinha, pôde com muita competência levar-nos a compreender o poema e motivar-nos para a sua leitura nas partes que teríamos de ler e convencer-nos de que uma tarefa que muitos criticam, como fastidiosa, a divisão de orações, foi maneira magnífica de vir a descobrir o sentido mais profundo da obra. Fiquei-lhe muito grato…Sobretudo pela forma como soube tornar a tarefa aceitável e mesmo fascinante.
Memórias há que posso registar como parte da minha experiência que, talvez para muitos hoje seja considerada como indisciplina, e só para discriminar algumas, penso em certas aulas em que havia infracções, que actualmente penso foram exageradas, no entanto importantes para a nossa / nossa afirmação. Cito as que se passavam na Turma 4º C, com grandes incorrecções, de carácter indisciplinado, e que nos ficaram como momentos centrais da nossa vivência. Hoje, com as experiências e situações outras que vejo estampadas em jornais e televisão, considero tais momentos como significativos: as brincadeiras que, por vezes, roçavam o desrespeito pelo professor constituíam situações negativas sem dúvida, por isso sancionadas, mas, por outro lado, humanas, até porque o docente em causa, de Inglês, embora protestando, as consentia e mesmo quase as provocava.
E que dizer, neste contexto, das nossas idas à mercearia do outro lado da rua, para beber uma laranjada ou munirmo-nos de feijões, arroz, grão, etc., para as «malandrices» de adolescentes com sangue na guelra, sobretudo quando, na transição para o pátio dos maiores, víamos o nosso estatuto melhorado, já como jovens mais crescidos.
Um aspecto gostaria de salientar: não podia haver no nosso código de conduta qualquer tolerância para as denúncias: aquele que as fazia era um “queixinhas”. Hoje, parece que a denúncia, a queixa se tornaram quase obrigatórias. A minha geração não as suportava, nem ainda as suporta (principalmente da parte dos “bufos”) e ai daquele que se atrevesse a fazê-las.
Até as actividades de canto, de exercícios físicos no estádio, nos campos de futebol ou de basquetebol, ficaram na saudade de um aluno como eu.
E, a propósito, lembro que fui um aluno médio, senão medíocre durante os primeiros anos: no entanto, no momento de reagir para aumentar o rendimento lá estava eu a tentar recuperar com coragem, estudo… Quase ia perdendo o 2º ano, quando me faltavam notas para completar a soma dos 19 valores globais nos três períodos; como exemplo, o Dr. Clementino deu-me em Ciências Naturais, 10 no 1º período, 7 no 2º, e trabalhei para o 12 do 3º. E verifiquei como um docente exigente como ele foi sério e íntegro. Pouco a pouco, fui melhorando; no entanto, tive dificuldades na Matemática no 2º ciclo. A docente, a Drª Conceição, deu-me negativas no 1º e 2º período, mas, com esforço, consegui ultrapassar a dificuldade. Tendo sido dispensado em Letras, com 16, tive da fazer provas orais nas Ciências, e o grande problema era Matemática; consegui e a professora, muito exigente e que não era para brincadeiras, foi mesmo, com algum receio meu, a minha examinadora na prova oral dessa disciplina; apertou-me quanto pôde e va-lorizou-me com um 16. Confessou-me ela no final das provas, já cá fora, e, visto que regressava a Lisboa, que o meu percurso seria uma das suas melhores recordações do Liceu. Muito grato lhe fiquei por esse sincero cumprimento.
No 3º ciclo, já foi tudo bem encaminhado: consegui das melhores notas, porque estudei muito (diziam que eu era mesmo um dos “marrões”), tendo conseguido a melhor classificação do 7º ano com a melhor média de 17,6 ou 17,7, o que me levou a ter o 1º prémio do Liceu e da Câmara Municipal do Funchal. Foi recompensa do trabalho, mas também a resposta ao excelente trabalho dos meus professores. Foi sobretudo um dos melhores convites a prosseguir no Superior.
Mais duas breves notas: a gratidão para com o casal dos excelentes professores Paulo Ramos (marido e mulher), que, sabendo que eu ia para Filologia Românica, puseram ao meu dispor a sua magnífica biblioteca, recebendo-me em sua casa e incentivando-me à pesquisa pessoal; e, recuando no tempo, também todo o meu reconhecimento pela Dra. Maria Augusta Drummond, a primeira mulher licenciada da Madeira em universidades portuguesas, embora em Farmácia, senhora admirável de saber e enorme pedagoga, minha vizinha no Ribeiro Seco, S. Gonçalo, que, com explicações em várias disciplinas, me possibilitou (a mim e a outros meus colegas) um melhoramento e sucesso contínuo em matérias que nos eram mais difíceis.

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
David Pinto Correia – Repetindo o lugar-comum, a Educação é o fundamento do Cidadão e do Homem. Creio que, nos meus tempos de Liceu, e não querendo dizer que na época é que estava tudo bem, houve programas, agentes e meios que, para a prática de conhecimento e de pedagogia então possíveis, confluíram numa acertada adequação para a formação dos jovens.
O que pode chocar-me hoje em dia é o contínuo experimentalismo que, neste campo, se verifica desde há anos: uma incrível preocupação com a tecnocracia, com tudo orientado por decretos-leis, com regulamentos e instruções, com tudo formatado por uma burocracia desumanizada. Não posso deixar de reconhecer que a Educação terá de exigir a colaboração da Escola, da Família e da Sociedade…

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?
David Pinto Correia – São, sem dúvida, uma mais-valia, como auxiliares da aprendizagem, mas, nesta questão, será necessário encontrar um equilíbrio: não só o computador, mas também a biblioteca; não só a calculadora, mas ainda a tabuada; não só o jogo ou o divertimento ao serviço do conhecimento, mas também o esforço e a exigência do trabalho intelectual.
Na minha opinião, a Educação deve conjugar instrução (com literacia inclusive) e civismo (cidadania inclusive), com liberdade e responsabilidade. As novas tecnologias têm de ser integradas nesta vasta concepção.

Testemunhos do Liceu: Mónica Teixeira


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Mónica Teixeira
Idade: 60 Anos
Profissão: Docente e Investigadora do Arquivo Regional da Madeira (Secção de Espólios de Autores da Madeira).
Área de formação: Licenciatura em Filologia Românica; Mestrado em Literaturas Comparadas – Portuguesa e Francesa, com a tese: «Cabral do Nascimento, a Palavra da Confidência e a Herança do Simbolismo Francês», e Doutoramento em Literaturas Contemporâneas, com a tese: «As Tendências da Literatura na Ilha da Madeira – séculos XIX e XX».


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Mónica Teixeira – O Liceu foi tudo na minha vida. Fiz aqui o exame de admissão da Escola Primária para o Ensino Secundário e ainda consigo ver-me, com o meu melhor vestido, os melhores sapatos que tinha e um laço na cabeça, pronta para fazer o meu primeiro exame. É que, naquela altura, fazer um exame era um evento grandioso para a Escola e para a família.
Sinto ainda muito carinho pela Dra. Margarida Morna, que me colocou questões de interpretação sobre um texto que referia as andorinhas. Ela pediu-me que lesse o texto e foi colocando as suas perguntas, sempre de forma agradável. Lembro-me de ela me ter perguntado o que eram para mim as andorinhas e que eu respondi que eram a Primavera. Ora, ela ficou deliciada com a minha resposta, como se tivesse sido um verdadeiro fenómeno, aquela menina a entrar pelos caminhos da simbologia.
Tive tanta pena de os meus pais não me terem deixado estudar no Liceu depois de ter passado no exame, mas este era um meio muito grande e eles temiam por mim.
Contudo, no meu 10º Ano, tive a oportunidade de vir para a escola na qual gostaria mesmo de estar.
Este foi um grande espaço. Mudou a minha vida e condicionou toda a minha formação social.
As saudades do Liceu são as da minha infância e da minha juventude, porque foi aqui que elas se formaram. Foi aqui que, além de todos os conhecimentos adquiridos, aprendi a respeitar e a amar as pessoas. E tive muitos dissabores como todos os jovens, mas aprendi a conhecer os sentimentos, o amor, a amizade e a desilusão.
Foi aqui também que aprendi que havia um espaço maior do que a Ilha, o Continente, de onde saiu a minha formação. Contudo, na ilha, está preso o meu espírito.

O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Mónica Teixeira – Pessoas… foram tantas as que passaram pela minha vida.
Já referi a Dra. Margarida Morna. Evoco ainda o Dr. Emanuel Paulo Ramos, que teve um papel fundamental na minha formação, visto ter descoberto em mim a vocação para a Literatura e que me obrigou a explorar essa vertente que, eu, na imaturidade da minha juventude, julgava que não tinha importância.
Foi ele que me ensinou a ler Os Lusíadas e os tornou aliciantes a ponto de eu gostar da retórica e da sintaxe latina, que marcaram a minha formação académica.
Penso que foi a pessoa que mais me marcou e que, sem querer, me conduziu ao rumo que eu tomei.
Prova da sua importância é o facto de eu ter tido 16 valores no exame de 7º Ano de Português, que foi a nota mais alta da Escola, na altura.
A esposa, a Dra. Marília, também contribuiu para esse meu gosto pela Literatura e o Dr. Louro, que estava ligado à dramatização e ia representando na própria sala de aula, lendo expressivamente os textos, de modo que, aos poucos, nos foi aproximando da leitura.
É por esse motivo, pela dedicação, pelo profissionalismo, pelo humanismo dessas pessoas, que muitos querem ser alunos do Liceu e muitos professores querem leccionar cá.
Há que ver também que esta instituição tem uma história escrita por muitas pessoas ligadas à Política, à Investigação, à Medicina, à Economia e às mais diversas áreas, na Ilha da Madeira e no Continente.

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Mónica Teixeira – Vejo a Educação de hoje com muita preocupação, preocupação pelos alunos e pelos professores.
Não sei porque é que isto está a acontecer. Há psicólogos, sociólogos e uma panóplia de profissionais que se debruçam sobre estas questões, mas há que entender que a Escola não é tão complicada quanto as pessoas estão a representá-la.
Como defende o Professor Lobo Antunes, os professores são pessoas vocacionadas e não vêm para o Ensino sem vocação, porque esses, se realmente o fazem, acabam por sair desta área.
É necessário que se perceba que o professor é aquele que vai abrir as portas aos alunos para áreas diversas, fomentar em si “competências transversais” à disciplina que ele lecciona.
Por isso, não se pode encaixar os professores em padrões, esperar que estejam todos formatados para o mesmo. Há que haver orientações, é natural, contudo, é importante não cairmos num exagero.
Muito daquilo que a Escola é se deve ao professor, que transmite os conhecimentos e os valores, o empenho, o espírito de ajuda ao aluno. Quando este percebe que o professor não tem essa componete humana, além de uma boa formação científica, desinteressa-se.
Há que haver um entendimento entre ambas as partes, em conciliação com o Ministério. Os professores têm de mostrar que trabalham. As orientações rígidas do Ministério deixam de ter lugar. Assim, os professores menos competentes têm de prestar provas de melhoramento pedagógico-didáctico.
Em suma, há que encontrar o sistema educativo mais válido para os professores dos nossos dias.

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno?
Mónica Teixeira – Acho que é mesmo uma mais valia.
Na era em que vivemos, é impensável que a Escola não esteja ligada a essa área.
Hoje em dia, é impossível viver sem computador, por isso, acho que a Escola deveria tirar horas, dentro do horário do professor, para o formar nessa área.
O próprio Ministério de Educação deveria decidir que o horário dos docentes contemplasse um espaço para formação, que seria obrigatório, no âmbito das novas tecnologias, de modo a que todos aprendessem a utilizá-las e os que já soubessem pudessem actualizar-se.
E digo que esta deveria ser uma componente obrigatória porque há muitas pessoas, muitas colegas minhas, que são renitentes em relação às novas tecnologias, à Informática.
Hoje em dia, mesmo na vida prática, nas coisas mais banais, como pagar contas, fazer o IRS, a Internet e o computador são fundamentais.
Aceder às novas tecnologias é ter tudo em casa.

Tesmunhos do Liceu: Ana Margarida Falcão


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Ana Margarida Falcão
Idade: 59 Anos
Profissão: Professora
Área de Formação: Letras



O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Ana Margarida Falcão – O Liceu foi a minha segunda família. Ali aprendi a equacionar as minhas experiências, os meus afectos e os meus pensamentos, não só em função de um alargamento do mundo vivencial mas também através de um reconhecimento mais lato da aprendizagem e de uma perspectivação amplificada dos outros.


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Ana Margarida Falcão – Foi nas velhas salas, nos amplos corredores, nos aconchegantes pátios e nos quase secretos jardins do Liceu que desenvolvi aprendizagem de saberes mas também – e sobretudo – aprendizagem da descoberta do crescimento do corpo e de sentimentos novos e desconhecidos, como as amizades que ficam para sempre a atravessar-nos a vida ou o inesquecível primeiro amor.
Nessa época, os professores eram, na sua quase totalidade, admirados e respeitados pela sua competência e saber, mas seria injusto deixar de referir a Drª Elisabete Vieira da Luz, que me fez descobri Sebastião da Gama, a poesia, o diário literário e o gosto de escrever; ou ainda o Dr. Carlos Lélis, que tantas portas entreabertas deixou, nas suas aulas, para que os alunos mais tarde as pudessem abrir e explorar os caminhos a que levavam; ou ainda o Dr. Louro que connosco transformava o teatro numa realidade vivida tanto na aula como no palco do ginásio.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Ana Margarida Falcão – A solidariedade e a justiça eram parâmetros inquestionáveis que ofereciam aos alunos um sentido ético do comportamento. Por entre risos e zangas, gargalhadas e choros, ilusões e desilusões, egoismos e altruismos, sucessos e insucessos, essa verticalidade atravessava a nossa vida liceal e acompanhava-nos, indelével, pela vida fora. Também a dimensão cultural da arte era valorizada em actividades que não eram só receptivas mas também produtoras, ao contrário do que hoje frequentemente se julga acerca desse tempo. Sempre pensei e senti que estes parâmetros haviam sido o melhor legado educacional que recebi, por isso os desejo fervorosamente presentes nas directrizes educacionais de hoje.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Ana Margarida Falcão – Li algures que o homem de hoje não constrói a modernidade: ele vive na, da e pela modernidade. As novas tecnologias fazem parte dessa natural e inevitável modernidade. O que importa é não admitir que se falhou a «revolução cultural» e continuar a lutar por ela. No seio de um povo que não tenha educação e cultura não pode sobreviver a democracia.

Testemunhos do Liceu: Alberto João Jardim


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim
Idade: 65 Anos
Profissão: Funcionário Público: Presidente do Governo Regional da Madeira
Área de formação: Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Albeto João Jardim – Contribuiu decisivamente para a formação nos Princípios e Valores que professo, bem como estruturou os alicerces da minha permanente construção cultural ao longo da vida. Foi berço das amizades perenes.


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Albeto João Jardim – Tive o privilégio de ser aluno de grandes Mestres que me marcaram, não apenas no aspecto do Conhecimento, mas sobretudo nas grandes opções de vida. De resto, foram sete anos vividos com intensa Alegria, experiências inolvidáveis… e uma certa indisciplina q.b.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Albeto João Jardim – É a causa principal do actual impasse nacional. Não incentiva hábitos de trabalho, pouca exigência científica e cultural, falta de reconhecimento do Mérito, nada de Valores intrínsecos ao Povo Português, desconhecimento da Disciplina como valor democrático, inexistência de articulação com o mercado de Emprego. É pena, porque a Região Autónoma tem Professores capazes mas que a legislação colonial impede.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Albeto João Jardim – São decisivas, mas têm que ser complementadas com um esforço de Formação ética, cívica e cultural dos Alunos. A próxima mudança de ciclo económico no arquipélago exigirá mais investimento privado, bem como uma posta prioritária nas Novas Tecnologias, no Turismo e nos Serviços. Considerando que, à partida, a Região Autónoma está penalizada pela exígua dimensão do mercado, pela dependência energética, pela absoluta dependência dos transportes externos, pela densidade populacional tripla dos Açores e do Continente, pela orografia que reduz a exploração das fracas potencialidades apenas a um terço do território insular e pela falta de poder legislativo adequado às circunstâncias, será preciso dar conteúdo profícuo e prático à palavra-chavão “Inovação”.

Testemunhos do Liceu: Raimundo Quintal


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?


Nome: José Raimundo Gomes Quintal
Idade: 53 Anos
Profissão: Geógrafo e Investigador
Área de formação: Geografia


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Raimundo Quintal – É evidente que o Liceu teve grande importância na minha vida, foi onde passei a minha adolescência, onde encontrei pessoas que foram marcantes na minha formação, como a Dr.ª Ângela de Matos, que foi minha professora durante quatro anos e foi decisiva na minha opção por esta área. Esta foi uma professora muito vanguardista, pois, na altura, já ensinava ecogeografia, antes mesmo de esse conceito exis-tir.
Aqui, nesta escola, muito mais importante do que os programas eram os professores, que nos ensinaram a encontrar um trilho para percorrermos. Foram alguns deles, a Dr.ª Ângela de Matos, já referida, a Drª. Eugénia Bonito e a Dr.ª Sara Cabral Fernandes.


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Raimundo Quintal – O que mais me marcou, relativamente à época, foi o espírito de solidariedade, a cooperação que havia entre alunos, para superar as dificuldades da altura.
Quando queríamos, por exemplo, organizar um baile, não tínhamos acesso a subsídios. Nós éramos os responsáveis por rentabilizar os nossos próprios meios, por administrar os exíguos recursos financeiros. O que, de certa forma, nos dava uma noção mais clara da realidade.
Outro aspecto é o facto de as turmas, na altura, serem só masculinas ou femininas, o que não permitia o relacionamento homem – mulher, que é um factor importante na adolescência. Era como se houvesse duas escolas dentro da Escola.
Apesar das adversidades, se compararmos os dias de então com os de hoje, éramos muito solidários; agora, há uma forte concorrência pelas notas. Na altura, havia essa vantagem.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Raimundo Quintal – Vejo-a com optimismo moderado. A escola de hoje já não tem a função que tinha quando eu era aluno, a de fonte exclusiva de conhecimento. Com os meios de informação agora disponíveis, nomeadamente a T.V. e a Internet, à escola, fica reservado um papel diferente, o de ajudar a seleccionar a informação.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Raimundo Quintal – Hoje, um aluno tem a possibilidade de recolher, com despesa reduzida, um manancial de informação que lhe permite compreender o Mundo, como a minha geração não conseguiu.
Contudo, há que olhar para as novas tecnologias não como um manancial para “copiar e colar”, mas como fonte de conhecimento e é necessário que sejamos críticos face à informação que elas difundem e que saibamos aproveitá-la e recriá-la.

Testemunhos do Liceu: Miguel Albuquerque


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Miguel Filipe Machado de Albuquerque
Idade: 47 anos
Profissão: Advogado
Área de formação: Licenciado em Direito


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Miguel Albuquerque – Uma grande importância. Sobretudo a nível dos valores da disciplina e da convivência, que enriquecem a nossa personalidade ao longo da vida.

O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)
Miguel Albuquerque –Indiscutivelmente as pessoas. Os colegas e os professores.

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Miguel Albuquerque – Com algum cepticismo. Mas também com alguma esperança. A autoridade dos professores tem de ser rapidamente restabelecida. O mérito, o trabalho, a disciplina, o respeito pelos outros e o civismo são alicerces essenciais de um bom sistema de educação.

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?
Miguel Albuquerque – São uma mais valia. Mas não devem ser um instrumento de facilitismo ou de denegação da memória e do raciocínio.

Testemunhos do Liceu: Virgílio Pereira




Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Virgílio Higino Gonçalves Pereira
Idade: 67 Anos
Profissão: Professor Provisório do Ciclo Preparatório – actualmente aposentado da vida político-administrativa
Área de formação: Ciências


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Virgílio Pereira – O Liceu foi o espaço preponderante onde se desenvolveu parte importante da minha infância e toda a minha adolescência. Além da família e da Sociedade, foi nele que talhei o esqueleto da minha personalidade, adquiri a base do meu conheci-mento e onde medraram as minhas capacidades e competências.

O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)
Virgílio Pereira – Durante a minha frequência do Liceu, marcou-me sobremaneira a descoberta da verdadeira amizade resultante da vivência em grupo e da convivência, valor que norteou toda a minha vida.

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Virgílio Pereira – A Educação de hoje difere da que tive, em resultado da influência que vai sofrendo da modernidade. É potencialmente mais rica no campo da aquisição de conhecimento, mas é mais pobre no campo da defesa de valores, como a solidariedade e o respeito pelos que têm mais experiência de vida ou mais saber.

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?
Virgílio Pereira – As novas tecnologias proporcionam muito mais fontes de informação à Comunidade Escolar e a possibilidade de uma aprendizagem mais racional, ainda que tenham sido abusivamente usadas, em muitos casos, em desfavor de uma memorização equilibrada que, quanto a mim, continua a ser imprescindível na formação científica do Homem. Por outro lado, as novas tecnologias têm incentivado menores hábitos de leitura.

Testemunhos do Liceu: Sérgio Borges




Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Sérgio Borges
Idade: 64
Profissão: Cantor
Área de formação: Direito (12º Ano)


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Sérgio Borges – “Mais uma vez se abrem as portas deste Liceu, para dar entrada a centenas de alunos que, em busca do Saber, acabam, para além disso, por criar uma vivência e um ciclo de Amizade que duram uma Vida”.
Fim de citação.

Mais palavra, menos palavra, este era o contexto, invariávelmente o mesmo, usado pelo então Reitor (décadas de 1950//1960), Ângelo Augusto da Silva, para saudar a abertura do novo ano lectivo e a entrada de novos alunos.
Quão verdadeiras se vieram a revelar as suas palavras!


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Sérgio Borges – Então, agora e sempre – as pessoas.
08.30. Ano 1955. Outubro 7. Turma D. 1º ano. 1ª aula.
Prof. Figueiredo. C. Naturais. Austero. Alguém bate à porta. Era o nº 28, L. Manuel Olim, o único atrasado. Reprimenda.
Estávamos a iniciar o tal ciclo, de Amizades. Foi ele. Foi o António Almada Cardoso. Eram os gémeos Ameal, o Rui e o Nuno. O Bruno Brazão – indiscutível Chefe de turma.
Grandes Amigos que ainda o são!
Ao longo dos 8 anos de Liceu, três professores não irei esquecer nunca:

Margarida Morna – uma Senhora Professsora
Horácio Bento – Imprevisível. Brilhante.
Alfredo F. Nóbrega – Previsível. Altamente carismático.
Finalizando a resposta como comecei, as pessoas – Sempre!


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Sérgio Borges – Diferente.
Nem é para mim relevante saber se melhor, se pior.
A Educação nunca pode ver passar ao lado os ventos da Mudança. Ela acontece.
E só não mudam as estátuas. Vejam bem o que os pombos lhes fazem!


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Sérgio Borges – Como diria La Palisse: “são uma mais valia”.
Os meus professoress atrás citados diziam que eu tinha um bom poder de síntese.
Provado está!

Testemunhos do Liceu: Paulo Santos


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?


Nome: Paulo Sérgio Garanito Santos
Idade: 31 anos
Profissão: Jornalista
Área de formação: Licenciado em Biologia


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Paulo Santos – O liceu surgiu na minha vida nos últimos três anos de escola, antes da entrada para a universidade. Foi o momento de transição da adolescência para idade adulta e sem dúvida uma oportunidade para contactar com um a escola cheia de tradição. Os valores, a história, a importância que a escola dá ao seu passado estiveram sempre patentes e são dados a conhecer aos alunos.
A existência dessas raízes e as ligações que criamos com os colegas e com a escola são fundamentais para o nosso futuro e para a nossa afirmação como adultos. Não deixa de ser um facto que, grande parte das personalidades de referência da Madeira das últimas décadas, foram estudantes ou professores do Liceu. Isso e as vivências estudantis são algo que nunca mais se esquece e que, por exemplo, têm o seu ponto alto na noite dos finalistas e na bênção das capas, que continua a ser a mais importantes de todas as escolas da Madeira.


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Paulo Santos – Há dois lugares que sempre achei emblemáticos no Liceu, pela sua beleza e pela invocação que fazem da história escola. Um deles é o Largo do Museu, onde sempre me identifiquei com as peças mais antigas e curiosas e também porque foi um dos primeiros lugares que conheci, já que tive a minha primeira aula numa das salas dessa zona do edifício. O outro lugar é o pátio, onde no fundo conheci e contactei a maior parte dos meus colegas, onde namorei, onde eram combinadas as saídas com amigos.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Paulo Santos – A educação é um processo contínuo e por isso sempre a ser aperfeiçoado. Acho que as tecnologias e o acesso à informação tornam mais exigente o papel do professor e do estudante. O professor já não é o único veículo de conhecimento, ele é mais uma espécie de mentor de um processo de aprendizagem que deve pertencer ao estudante. No entanto parece-me que ao nível da formação académica os cursos de via ensino das faculdades deviam ter maior capacidade de adaptação a um mundo globalizado, porque penso ser aí que se pode intervir em todo o ciclo e processo educativo.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Paulo Santos – As novas tecnologias são quase a linguagem universal da comunicação e aprendizagem. No entanto exigem que o aluno seja acompanhado por princípios e regras que o norteiem nesse acesso à informação, porque caso contrário o manancial de conhecimento pode ser tão grande que dificulta o processo de aprendizagem. Mas em suma creio que a tecnologia é imparável e por isso um parceiro privilegiado nas escolas.

Testemunhos do Liceu: Jorge Borges


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Jorge António Camacho Borges
Idade: 56 Anos
Profissão: Professor do Ensino Secundário (Economia) e Músico
Área de formação: Licenciatura em Economia (ISE – Lisboa)


O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Jorge Borges – Frequentei o Liceu de Jaime Moniz durante sete anos a fio, de 1962/63 a 1968/69. No tempo do “Conjunto Académico de João Paulo”, dos “Beatles” e da guerra colonial. Dos dez aos dezassete anos. Todas as manhãs e algumas tardes. Assim, o Liceu foi, em anos absolutamente decisivos para a minha vida, a minha segunda casa. Aí consolidei hábitos de estudo, criei amizades duradouras e encontrei as primeiras namoradas. Aí vivi os melhores anos da minha juventude e me tornei o homem que sou. Aí abracei as grandes opções que emolduraram toda a minha existência: a formação em Ciências Económicas e a paixão pelo Piano e pela Música.

O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)
Jorge Borges – A esta distância de quatro décadas, retenho sobretudo, pela positiva, o convívio com os meus colegas e amigos, a minha iniciação musical e participação como pianista em duas récitas do antigo 7º ano com a banda de alunos “Caleidoscópio”, e a figura de uma grande Professora que teve a arte de me sensibilizar para a língua e lite-ratura portuguesas, a Dra. Margarida Morna. Pela negativa, alguns excessos de rigor disciplinar e a inadmissível separação entre alunos e alunas.

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Jorge Borges – Com muita preocupação e indignação, face aos atentados à dignidade da classe docente, onde me incluo, perpetrados pelo Governo. O sucesso dos alunos ou o êxito de qualquer reforma passa inevitavelmente pela valorização do papel dos professores.

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?
Jorge Borges – Ninguém porá em causa a imensa importância das novas tecnologias na Educação, em particular como instrumentos de aprendizagem, de acesso à informação, de produção e partilha de informação, de comunicação. Errado será concluirmos daí que o papel do professor passa para plano secundário. Bem pelo contrário. A relação pedagógica e humana do professor com o aluno assume um papel ainda mais vital.

Testemunhos do Liceu: Bernardo Trindade


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Bernardo Trindade
Idade: 38
Profissão: Economista
Exerce presentemente o cargo de Secretário de Estado do Turismo
Área de Formação: Economia

O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Bernardo Trindade – É de facto com saudade que recordo a frequência do Liceu Jaime Moniz. Representou o ingresso numa grande escola. Grande na verdadeira acepção da palavra. Edifício do Sec. XIX, onde, por norma, as divisões estavam pensadas para proporcionar qualidade de uso a quem as frequentava. Foi importante na minha formação cívica e humana. Uma infra-estrutura única para aprender, conviver, praticar desporto…namorar. Recordo que foi no Liceu que comecei a namorar a pessoa com quem estou casado há 16 anos. Tínhamos 16 anos – não sei se os alicerces do Liceu Jaime Moniz tiveram influência, mas a relação mantêm a intensidade dessa altura.



O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Bernardo Trindade – Recordo os professores: no 7º ano um professor de geografia cujo nome não recordo, que tinha como alcunha “o pantera”. Lembro-me de que nos obrigava literalmente a decorar definições como os pontos cardeais, a linha do horizonte, a la-titude, a longitude, etc.. A dificuldade não estava em compreender o conceito, mas em decorar palavra por palavra o que estava no caderno diário. Notas para professores por quem mantenho ainda hoje grande simpatia: Dr.ª Helena Rosa Gomes, Dr.ª Maria do Carmo Araújo, Prof. Miguel Pita, Dr.ª Violante Matos, Dr.ª Teresa Silva, Dr.ª Inês Costa Neves, entre outros.
Recordo a turma de 9º ano de Desporto – uma lição de vida! Para os alunos, uma animação – peripécias todos os dias; para os professores, uma aflição – a Dra. Águeda Lima teve uma paciência evangélica para suportar tanta insolência. Depois dessa experiência, lá se foram as boas notas (paulatinamente recuperadas...).
Quanto às instalações, ninguém fica indiferente ao enorme pátio com os arcos ao fundo, os tectos altíssimos e os ponteiros do relógio junto aos laboratórios e às instalações desportivas, do melhor que há. Sem dúvida, uma experiência marcante.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Bernardo Trindade – Vejo a Educação como um objectivo universal, uma educação que chegue a todos de modo inclusivo e democrático. Esta depara-se, hoje, com múltiplos desafios: responder a um mercado empregador cada vez mais exigente, responder às necessidades das famílias que confiam às escolas a formação e o futuro dos seus filhos e responder às ameaças do insucesso e do abandono.
Vejo a Educação de hoje como resultado e também como etapa de um processo contínuo, isto é, ela destina-se, de facto, a todos. Os níveis de escolarização actuais são incomparavelmente melhores do que há 20 ou 30 anos, mas o esforço no sentido de uma escola de qualidade continua a ser feito e estaremos, certamente, melhor dentro de 5 ou 10 anos.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Bernardo Trindade – Para os jovens de hoje, as tecnologias já não são novas, fazem parte deles próprios, são indissociáveis. A utilização de tecnologias no sistema de Ensino é, assim, uma mais-valia em duas perspectivas:
1. Aproxima e motiva o estudante para a aprendizagem;
2. Permite e facilita a acessibilidade à informação, estabelecendo novas abordagens impensáveis pelos métodos tradicionais.
Neste sentido e na área que tutelo, temos feito uma aposta determinada na modernização das Escolas de Hotelaria e Turismo, reformulando currículos, reestruturando as escolas, disponibilizando recursos tecnológicos como computadores, acesso à Internet e instalação de quadros interactivos, aliás, como previsto no Plano Tecnológico da Educação, ao qual aderimos.

Testemunhos do Liceu: Emanuel Jardim Fernandes


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Emanuel Jardim Fernandes
Idade: 64 anos
Profissão: Advogado e Deputado do Parlamento Europeu
Área de formação: Licenciatura em Direito

O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Emanuel Jardim Fernandes – O Liceu de Jaime Moniz foi foi um marco fundamental na minha vida e na minha formação. Recordo a satisfação da minha entrada no Liceu, em Outubro de 1954. Não no dia 1, como previra e desejava, mas no dia 15. A gripe asiática levara a que a abertura das aulas tivesse de ser adiada. Foi a minha primeira saída de casa. O ensino secundário só funcionava no Funchal. Penso hoje e fui formando essa ideia, já no Liceu, que a formação, no seu sentido amplo, resulta muito do que se recebeu e partilhou, na família, na escola, nos grupos de amigos, na vivência de situações concretas. A passagem pelo Liceu de Jaime Moniz foi muito rica e fundamental para a minha formação e para as fases seguintes, na universidade, no cumprimento do serviço militar e na minha vida profissional e política. Muitos dos amigos de Liceu, como alguns da instrução primária, no Seixal e, depois na universidade e na vida profissional e política, são os que ainda hoje guardo no meu coração e na minha memória. É no Liceu que faço a minha primeira saída da Madeira, às Canárias, numa viagem de finalistas. É no Liceu que sou sensibilizado para as questões sociais, no 4º ano, por participação em acções de apoio aos mais pobres, uma delas para resolver um problema de habitação, estimulado, como muitos amigos e muitos colegas, pelo Padre Mata, então professor de moral e dinamizador de movimentos de jovens estudantes e operários. Foi ainda no período de Liceu que conheci a Madeira no seu todo, nas suas belezas, mas também com suas dificuldades, já que tínhamos o hábito de, com frequência, dar passeios, em grande parte a pé, nas zonas povoadas da ilha, mas também nas serras da Madeira e Porto Santo.


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Emanuel Jardim Fernandes – Os sete anos que passei no Liceu de Jaime Moniz são apenas um pouco menos de um décimo da minha vida, mas foram marcantes e, certamente, decisivos para o meu percurso e para a formação da minha personalidade. Os valores que procurei e ainda procuro seguir, o sentido de responsabilidade, a prática da tolerância, a disponibilidade para a solidariedade, o valor da amizade, a partilha, o respeito pelos outros, pela diferença, a procura de novos conhecimentos, o sentido que não somos nem sabemos tudo foram sendo consolidados nesse período que não pode ser esquecido. Pelo contrário, está vivo. É e será sempre motivo de recordação, saudade e gratificação. Era diferente a vida de um jovem do meu tempo e a de hoje. Nas disponibilidades, nos meios de transporte, na diversão, embora talvez com o mesmo espírito de vivência. Como esquecer a abertura de uma turma mista, no 4º e 5º ano de Liceu (1957-1958-1959), a única que juntava os excedentes das outras duas turmas, uma de rapazes e outra de raparigas, que funcionava numa sala de espera da Reitoria. Foi uma espécie de turma percursora do que veio, muito mais tarde, a ser prática normal, a participação sem distinção de sexos, na escola. Como esquecer as idas à neve, no Poiso e Pico do Arieiro, quando era possível lá chegar, que eram motivo de suspensão de aulas para gozarmos essa maravilha que uma terra temperada como a nossa só raras vezes propiciava. Não esqueço, ainda, momentos marcantes que acompanhei nesse tempo e que, contribuíram para o despertar da consciência politica, como o assalto do Santa-Maria, um verdadeiro terramoto na contestação ao regime ditatorial e a invasão pela Índia dos territórios portugueses de Goa, Damão e Índia, que suscitou a ordem de Salazar para resistir até ao último momento e originou, na Madeira (como noutros pontos do País), uma manifestação "espontaneamente" organizada a que os jovens foram "chamados" a participar. De tal forma que, quando em 1961 chego à faculdade participo na greve de estudantes, durante a crise académica de 61-62 e no movimento associativo estudantil.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Emanuel Jardim Fernandes – Falar do Liceu, dos nossos dias, e da educação em geral é falar de uma experiência diferente. São outros os meios, a conjuntura, o enquadramento dos alunos. A primeira e grande diferença no sector da Educação, quando observamos a prática actual e a da década de cinquenta, deriva do 25 de Abril, do fim da ditadura e da instauração da Democracia.
A democratização do ensino foi a primeira das consequências e o primeiro dos objectivos da Revolução dos Cravos.
Com a Democracia e com a constituição de 1976, vem a Autonomia que abre condições à descentralização do Ensino na Madeira. Alarga-se o número de escolas, no Funchal e nas zonas rurais. A população estudantil aumenta. O Liceu de Jaime Moniz continua, no entanto, a assumir a sua função, com responsabilidades acrescidas, mas não já com a predominância e exclusividade que tinha no meu tempo de Liceu. Estou certo de que continuará a assumir um papel de referência na formação da juventude madeirense, havendo motivo para preparar as suas Bodas de Diamante, em 2014.
A Educação está melhor, sobretudo, porque chega a mais jovens e prepara-os para saídas mais alargadas. A Educação e a formação, dos jovens e da população em geral continuam a ser o desafio mais estimulante e mais decisivo para o futuro desenvolvimento da nossa região, das nossas empresas, das cidadãs e dos cidadãos madeirenses em geral. A melhoria da qualificação deve ser a prioridade das prioridades para o futuro da Região Autónoma da Madeira, necessariamente integrada no País, na União Europeia e no Mundo.
A Educação exige uma permanente actualização. A avaliação do sucesso e eficácia do sistema educativo, a preparação e exercício das suas reformas, sempre que necessárias, como acontece hoje, exige a participação de todos os actores, alunos, famílias, professores, quadros envolvidos, mas, também, a ponderada e oportuna responsabilidade do Governo e das demais autoridades Pública, a todos os níveis, nacional, regional, local, mas também europeia.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Emanuel Jardim Fernandes – Em meu entender, as novas tecnologias são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade madeirense e da Região.
Os jovens têm de obter qualificação profissional e é responsabilidade das escolas, das universidades e dos demais parceiros sociais colaborarem para tal, utilizando, também, as novas tecnologias e promovendo a investigação e a inovação. É o que tenho defendido no Parlamento Europeu.
É evidente que este é um dos aspectos em que a Educação é diferente, mas tem de o ser, uma vez que a própria sociedade evolui, porque o Mundo também. Até porque as novas tecnologias trazem desenvolvimento.

Testemunhos do Liceu: Sérgio Marques


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Sérgio Marques
Idade: 51 anos
Profissão: Deputado do Parlamento Europeu
Área de formação: Licenciatura em Direito

O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Sérgio Marques - Enorme importância! Porque o Liceu ajudou-me a crescer: crescimento físico, psicológico e emocional. Depois porque me formou, me preparou e me qualificou para a vida activa e para a cidadania. Muito do que sou hoje devo ao Liceu.


O Lyceu - O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Sérgio Marques - A experiência de socialização e aprendizagem que vivi no Liceu foi única. Marcou-me a cultura da instituição assente em valores como os do trabalho, exigência, mérito, disciplina e iniciativa individual. Mas marcou-me também a excelente qualidade global da escola, desde as instalações ao corpo docente e trabalhadores au-xiliares.
Mas acima de tudo marcou-me os grandes professores que tive o privilégio de ter e as amizades que fiz, muitas que ainda perduram.


O Lyceu - Como vê a Educação hoje?

Sérgio Marques - Com preocupação. Porque estamos ainda muito longe de ter resolvido os problemas decorrentes da democratização do sistema tornada possível com a Revolução do 25 de Abril de 1974.
Há que fazer tudo para garantir a excelente qualidade de antes num contexto de acesso generalizado à Educação.


O Lyceu - Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Sérgio Marques - Constituem apenas um instrumento fácil de acesso por parte dos alunos à informação e ao conhecimento. São portanto uma mais valia para a aprendizagem do aluno. Mas não dispensam de forma nenhuma o papel crucial que a Escola desempenha no processo de aprendizagem dirigido para o saber ser, estar, fazer e inovar.

Testemunhos do Liceu: João Cunha e Silva



Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?


Nome: João Carlos Cunha e Silva
Idade: 50 anos
Profissão: Advogado, presentemente a exercer as funções de Vice-Presidente do Governo Regional da Madeira
Área de formação: Licenciatura em Direito

O Lyceu - Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

João Cunha e Silva - A palavra saudade surge associada ao Liceu, mas sobretudo também por trazer à memória os tempos passados de uma juventude fantástica, de uma geração que cresceu e se formou no Liceu em tempos historicamente conturbados.
Guardo do Liceu a memória das lições que nele recebi de um conjunto de professores notável, que em muito influenciaram positivamente a formação da personalidade de uma geração de jovens que a todos eles hoje muito devem.
E a experiência única de ter vivido por dentro a fase mais efervescente da história do Liceu do Funchal, em pleno período revolucionário que se sucedeu ao 25 de Abril de 1974.


O Lyceu - O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

João Cunha e Silva - Obviamente que o mais marcante dos anos de frequência do Liceu são as pessoas e toda uma convivência que ainda hoje recordo com particular saudade, sobretudo nos momentos de reencontro. Refiro-me a todos, desde os colegas a professores e funcionários, alguns destes imagino que ainda hoje continuam ao serviço do Liceu.


O Lyceu - Como vê a Educação hoje?

João Cunha e Silva - Como qualquer português, com preocupação. Creio que a nível regional estamos num patamar distinto, para melhor, daquilo que se faz e passa no país, mas não podemos fechar os olhos e ignorar a realidade nacional, assobiando para o lado e fingindo que não se conhece a realidade.
Para mim, como ex-aluno de um tempo diferente, é inadmissível que aconteçam episódios como os que ultimamente foram conhecidos, que são a constatação de uma inaceitável falta de respeito e de uma completa inversão de valores.
Algo vai mal quando chegamos a este ponto, que ilustra um bater no fundo do poço, e que diz muito do país em que vivemos…


O Lyceu - Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

João Cunha e Silva - As novas tecnologias são cruciais não apenas para o processo de aprendizagem do aluno, mas também e sobretudo para o futuro da sociedade e da economia madeirense.
Como região ultraperiférica que somos, pequena, afastada dos grandes centros e ca-racterizada pela sua orografia difícil, temos de apostar em novos paradigmas que nos permitam mudar o modelo de desenvolvimento que temos vindo a desenvolver até agora.
Temos claramente de apostar na economia e sociedade do conhecimento, no imaterial, em tudo o que seja novas tecnologias geradoras de maior valor acrescentado. É isso que temos feito.
Passámos do discurso à prática, e isso vê-se desde logo nos bancos da escola: estamos claramente à frente da média nacional no rácio de computador por aluno, e vamos continuar a apostar na educação dos jovens como factor crítico de sucesso da Região.
Basicamente, o nosso objectivo e o que fixámos como meta a atingir é que os nossos alunos, quando atinjam o ensino universitário, possam, por esta via, distinguir-se dos demais pelo facto de serem portadores de uma mais-valia que é efectivamente um fa-ctor de diferenciação positivo.

Nuno Jesus


O Lyceu: Fala-nos do Nuno Jesus, do seu projecto de vida, dos seus sonhos, dos seus gostos…
Nuno Jesus: No que diz respeito ao meu projecto de vida, pretendo continuar a estudar e formar-me em Medicina, na especialidade de Cirurgia. Gostaria de continuar a praticar pesca desportiva e natação pura que são os meus desportos favoritos e também gosto de estar com os meus amigos.
Quanto aos meus sonhos, gostaria de ser cirurgião para poder ajudar quem necessitar e ser campeão mundial de pesca desportiva.

O Lyceu: Como nasceu a tua apetência pela Pesca Desportiva?
Nuno Jesus: Nasci com as idas à pesca com o meu tio, até que este resolveu inscrever--me em provas, que até não correram nada mal. O gosto por este desporto e pela competição foi aumentando e agora o difícil é parar.

O Lyceu: Descreve a pesca enquanto actividade desportiva.
Nuno Jesus: É uma actividade que exige muita paciência e calma e é preciso respeitar as regras. É também uma actividade um pouco dispendiosa pois exige muito material e, se queremos obter bons resultados, para além da técnica, é necessário ter o material apropriado para cada situação, assim como o isco.

O Lyceu: Ser um desportista de alta competição é um desafio? Até que ponto?
Nuno Jesus: Sim, porque tento sempre fazer o melhor resultado e, quando não consigo, resolvo treinar mais e adquirir material mais sofisticado. O que implica um gasto maior de tempo e dinheiro.

O Lyceu: Como consegues conciliar a alta competição, no que se refere às tuas partici-pações em torneios internacionais ou nacionais, com a vida escolar?
Nuno Jesus: Nem sempre é fácil, porque, por vezes, tenho de faltar às aulas para ir às provas. Depois, tento passar a matéria pelos meus colegas mas não é a mesma coisa do que assistir às aulas e acabo por ficar prejudicado.

O Lyceu: Vale a pena ser um atleta de alta competição, quer em termos de pessoais quer em termos profissionais?
Nuno Jesus: Acho que sim. Para quem gosta realmente da modalidade que pratica, é aliciante poder competir com os melhores atletas do mundo. Além disso, permite-nos contactar com outros países e trocar experiências aumentando, assim, os nossos co-nhecimentos. Ajuda-nos a abrir novos horizontes o que também pode ser uma mais valia em termos profissionais.

O Lyceu: Certamente que já és considerado uma referência para os Madeirenses, tendo em conta o teu palmarés. Como lidas com essa “fama”? É fácil geri-la?
Nuno Jesus: Acho que não sou assim tão conhecido. A pesca não é dos desportos mais divulgados pelos meios de comunicação social, mas isso, para mim, não é importante. Pratico este desporto porque gosto e não para ser conhecido.

O Lyceu: Que mensagem deixas aos teus colegas da Jaime Moniz e para os jovens em geral?
Nuno Jesus: Que lutem sempre por aquilo que ambicionam e que experimentem praticar pesca desportiva que vão ver que é um desporto interessante e divertido.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Como é que as novas tecnologias, ferramentas e plataformas, podem ser usadas no ensino e na aprendizagem?


Como é que as novas tecnologias, ferramentas e plataformas, podem ser usadas na aprendizagem?


Marisa - 11º 35 - As novas tecnologias podem ser usadas com proveito porque lá podem ser colocadas as matérias para os alunos estudarem. Em relação à informação e à comunicação, penso que está a ser muito bem divulgada pelos sites que as empresas criam para as pessoas se informarem sobre os vários problemas ou as soluções para as suas vidas.
Fábio Camacho - 11º 35 - Estas devem ser usadas sem excesso, porque também é importante o contacto com professores/alunos, mas devem propriamente ser usadas no caso de sites/blog’s para que o aluno no caso de dúvidas possa rever a matéria, funciona como um segundo caderno. É importante referir que estas proporcionam ao aluno/professor uma rápida e boa informação.
Ricardo Vieira 11º 35 - Atraves de aulas com PC; quadros electrónicos; haver PCs suficientes os alunos poderem fazer pesquisas sobre algum trabalho ou mesmo trabalhar na aula.
Jerónimo Fernandes - 11º 35 - As novas tecnologias podem ser usadas de forma que os alunos tenham algum entretimento durante as aulas e menos trabalho, como por exem- plo haver algo que conforme o professor fosse escrevendo nós tínhamos um “caderno di-gital” que iria armazenando a informação.
Carla Rodrigues e Isabel Correia – EnglishNet - O aluno tem um papel importante neste processo de ensino-aprendizagem, daí que o professor deverá ter uma atitude diferente perante aquilo que vai realizar com os seus alunos utilizando novas estratégias.Para professores de línguas, envolvidos no processo de comunicação, o recurso à Internet é o mais perfeito. Os professores de línguas estão constantemente à procura de material pedagógico autêntico e de qualidade, de forma a haver uma boa exploração em sala de aula.Para qualquer professor, a Internet pode ser um recurso infinito de arquivo de textos, estímulos visuais, material de “listening”, vocabulário, informação, arquivos de vídeo, televisão e rádio ao vivo, jornais de todo o mundo. A lista é infindável.Desta forma, podemos verificar que as Tecnologias de Informação detêm potencialidades indispensáveis ao ensino, conduzindo a um contínuo enriquecimento dos saberes, levando a que o sistema educativo e a formação ao longo da vida sejam repensados à face do desenvolvimento destas tecnologias.Assim, as TIC como ferramenta de aprendizagem de uma Língua Estrangeira, pode fomentar:- Maior motivação dos alunos, dado o seu carácter inovador;- Comunicação mais autêntica e natural;- Enriquecimento linguístico e consciencialização sócio-cultural, decorrente do contacto com falantes nativos;- Contextos de comunicação do mundo real e acesso a diversos conteúdos;- Maior interesse pela aprendizagem da língua e consciência da sua importância;- Utilização da língua de forma autêntica e significativa;- Aprendizagem de vocabulário e temáticas para além das do currículo;- Melhorias na capacidade de produção escrita e, consequentemente, oral;- Linguagem mais próxima da oralidade, mais informal, pessoal e expressiva, que apela mais aos jovens;- Auto-aprendizagem;- Criação de uma ponte entre a escola e o mundo;- Alargamento do horizonte dos alunos;- Desenvolvimento da literacia informática.
Márcio Martins - Grupo 500 - As novas tecnologias podem, em primeiro lugar, ser um forte aliado em termos da motivação dos alunos. No contexto global em que, hoje em dia, os nossos alunos se encontram, perante o fácil e generalizado acesso à internet e a toda a informação e diversão que gratuitamente dedica aos jovens, o papel que o professor assume é ingrato, uma vez que competir com esta rea-lidade é, diga-se abertamente, um jogo desequilibrado.Existem professores que usam a internet para disponibilizar materiais aos seus alunos. Os alunos por sua vez, em alguns casos, disponibilizam materiais aos professores. Por exemplo, imagine-se um trabalho que os alunos têm que realizar e entregar até amanhã ao professor, os alunos podem enviar via internet até à meia-noite de amanhã, a partir daí não entregam porque o sistema não o permite. Desta forma o sistema responsabiliza os alunos em termos de prazos e como os alunos são informados sabem que se não cumprem é como se não fizessem o trabalho.
Rui Duarte - Grupo 550 - Depende daquilo que se quer fazer e da concepção de futuro, definida pelos decisores, como sendo a melhor para a escola.Existe um conjunto de plataformas open source (gratuitas) com os mesmos benefícios do software pago, que podem ser implementadas na escola para optimizar processos escolares e promover o trabalho colaborativo a vários níveis da organização escola, inclusivé ao nível do ensino-aprendizagem.
Conceição Campanário - Grupo 520 - Poderão ser utilizadas desde que seja de forma contextualizada.
FILOSOFIA - GRUPO 410 - As novas tecnologias podem ser usadas para promover a informação e a comunicação, como fonte e aprofundamento de conteúdos abordados nos ma-nuais escolares (recorrer à Wikipédia).

Sociedade de Informação e as TIC na Educação


SugestõesO Decreto-Lei nº 6/2001 de 18 de Janeiro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 209/2002 de Outubro, aprovou a organização curricular do ensino básico, estabelecendo os princípios orientadores da organização e gestão curricular desse nível de ensino, neles incluindo a formação para a utilização das tecnologias de informação e comunicação.Este estudo, bem como os estudos já realizados a nível nacional, revela alguns constrangi-mentos referenciados pela comunidade educativa em geral, na implementação do currículo nacional do ensino básico. Nesses constrangimentos avultam as questões ligadas à ge-neralização do acesso e uso das novas tecnologias de informação e comunicação. Se tivermos em conta que a escolaridade obrigatória é até ao 9º ano de escolaridade, e que os alunos devem adquirir competências na utilização das TIC antes de concluírem a escolaridade obrigatória, é urgente que exista mais e melhor utilização das TIC de uma forma integrada e plena, de modo a dar uma maior eficácia na aplicação de programas de apoio aos alunos e uma maior igualdade de oportunidades aos mesmos. Desta forma, sugerimos que AP é a melhor disciplina para aprender e utilizar as TIC na educação, atendendo ao facto de AP ser uma área curricular não disciplinar e de ter uma função importante na “valo-rização da contextualização e da utilização do saber,...”.
Recomendações relativas à integração das TICTendo em conta os resultados e conclusões do presente estudo, pareceu oportuno apresentar algumas recomendações relativas à integração das TIC no processo de ensino e no processo de aprendizagem.
Os professores de AP, incluídos os do 8º ano, devem, possivelmente:- usar as TIC de uma forma sistemática e não pontual, devendo utilizar preferencialmente o turno de 90 minutos;- utilizar as TIC de uma forma contextualizada. Por exemplo, não aprender o Excel por aprender, mas usar o Excel para resolver um problema de cálculo concreto;- desenvolver projectos articulados com o Conselho de Turma, através de saberes de diversas áreas curriculares;- desenvolver projectos em torno de problemas ou temas de pesquisa ou de intervenção de acordo com as necessidades e os interesses dos alunos;- ter mais e melhor formação relacionada com a utilização das TIC na sala de aula. A falta de formação é geradora de grande insegurança;- informar, por escrito, os órgãos de gestão das escolas, directamente ou através dos co-ordenadores de departamento, das suas necessidades de formação;- “exigir” aos órgãos de gestão da escola a presença de um computador com ligação à Internet nos laboratórios e nas salas de aula.Os professores com cargos pedagógicos, coordenadores de departamento e delegados de disciplina devem, possivelmente:- Envolver e responsabilizar os elementos dos grupos disciplinares para a utilização das TIC em contexto de sala de aula, fazendo constar, das respectivas planificações, actividades baseadas ou apoiadas nas TIC, idealizadas por todos os professores em trabalho conjunto.A integração das TIC nas práticas lectivas não é compatível com a prática convencional, sendo necessário inovar as formas de concretizar os objectivos propostos.
Os órgãos de gestão das escolas devem, possivelmente:- reduzir o número de alunos por turma;- reorganizar os espaços;- reorganizar os horários do modo de funcionamento das turmas, facilitando o acesso dos alunos aos computadores nas salas de aula, garantindo a existência de, pelo menos, um computador em todas as salas de aulas, com prioridade para os laboratórios de ciências e salas destinadas às áreas curriculares não disciplinares: estudo acompanhado, área de projecto;- elaborar planos de formação para os professores da escola, tendo em vista a utilização das TIC de uma forma integrada;- incluir as TIC no Projecto Educativo de Escola, de forma consistente e transversal, de modo a servir de referencial para todas as outras actividades e projectos;- Definir critérios de avaliação dos alunos no âmbito das TIC, a serem aplicados nas áreas curriculares disciplinares e não disciplinares;- investir na formação de professores orientadores de estágio, aptos na utilização das TIC no contexto de sala de aula;- Definir, em colaboração com as instituições de nível superior, responsáveis pela formação inicial de professores, critérios de avaliação dos professores estagiários relativamente à exploração das TIC no processo de ensino e no processo de aprendizagem;- Fazer diagnóstico das competências do seu corpo docente, com a participação dos principais interessados, de forma a identificar lacunas de formação na área das TIC e elaborar um plano de formação de escola;- Proporcionar ao seu corpo docente formação na área das TIC e apoio aos professores com mais dificuldade na sua utilização na sala de aula;- Incentivar a criação de uma comunidade virtual de aprendizagem. Inicialmente, poderá ser através dos grupos disciplinares, criando, por exemplo, a comunidade virtual dos professores de Biologia da escola “x”, onde os professores aproveitam o espaço para partilharem a sua experiência pedagógica com os outros colegas, através de fóruns apenas para professores. Nessa comunidade, também deveria haver fóruns onde os alunos pudessem comunicar com os vários professores de Biologia dessa escola, através da colocação de dúvidas, sugestões, entre outras coisas.
Sugestões para futuras investigaçõesConsiderando que as limitações do presente estudo estão relacionadas com o facto de os resultados reflectirem práticas declaradas e não observadas, seria interessante a reali-zação de uma investigação que tivesse como método a recolha de dados para observação, com o objectivo de conhecer de que modo as TIC estão presentes no contexto da sala de aula.



António Freitas - Grupo 520



Inovar


A inovação é quase sempre um fenómeno perturbador, na medida em que obriga ao confronto com novas ideias que alteram a forma como vemos o mundo e seguimos por ele. É como algo que, de alguma forma, nos surge no caminho e não podemos mover. Podemos contornar mas não ignorar, sendo provavelmente a melhor estratégia reflectir sobre como rentabilizá-la para o bem da comunidade. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) provocaram essa perturbação na vida de muitas pessoas e, em particular, no quotidiano de muitos professores. A citação com que abro esta introdução é demonstrativa disso mesmo. Podemos e devemos preparar-mo-nos para enfrentar as perturbações que a inovação acarreta, comprometendo todos os nossos pares nessa tarefa, pela partilha da informação, aprendendo juntos a solucionar os problemas e a rentabilizar o que de bom ela possa trazer ao nosso dia-a-dia. Esta aprendizagem, como qualquer outra, em especial se estamos a falar da escola, requer preparação prévia por parte dos professores. A única garantia que temos é a de que por mais bem preparados que estejamos isso não significa que os nossos alunos aprenderão. A aprendizagem é um processo no qual os professores têm um papel importante, mas não absoluto.Durante muitos anos, os modelos de formação de professores, sempre muito centrados nos processos, métodos e técnicas de ensinar, cimentaram a ideia de que o papel do professor era o de detentor do conhecimento. Ainda não há muitos anos, mesmo em espaços que não a escola, quando se discutiam questões relacionadas com o saber, se estava presente um professor, recorria-se a ele para dar a palavra final, mesmo que não tivesse vivências na matéria. O reconhecimento público do professor como detentor do saber funda-se nos modelos clássicos de ensino da antiguidade, quando o conhecimento, publicamente aceite numa determinada área, era passível de ser quase todo dominado por uma pessoa, e se acreditava que este só poderia ser construído por uma “cabeça iluminada”, fugindo ao domínio do cidadão comum. Segundo Marguerite Altet (2001), a formação de professores abraçou, ao longo dos tempos, vários modelos: do modelo “magister” ao “profissional ou reflexivo”, passando por modelos que já deveriam estar abandonados, mas que por motivos que se prendem com a tradição se mantêm muito presentes nas nossas escolas, como o modelo “técnico” e o “engenheiro ou tecnológico”. É comum ouvir dos professores, quando confrontados com a possibilidade de utilização de novos meios, os mesmos receios manifestados pelo professor Joe: perda de controlo na aprendizagem, por incapacidade de acompanhar os seus alunos na aquisição de competências no uso dos computadores. Os modelos de formação inicial destes professores foram ainda muito centrados no ensino e menos na aprendizagem. A permanência destes modelos deve-se, fundamentalmente, à crença de que a profissão docente é uma profissão técnica e de que o domínio de todo o conhecimento é fundamental, pois garante segurança nos processos de transmissão. O alerta de Paulo Freire contra a “educação bancária”, que tem como objectivo depositar nos alunos o conhecimento para que possam devolvê- -lo quando necessário, onde nem se prevê nenhum acréscimo de juros, continua a estar presente no nosso sistema. “Ensinar é fazer aprender e, sem a sua finalidade de aprendizagem, o ensino não existe. Porém, este “fazer aprender” dá-se pela comunicação e pela aplicação, o professor é um profissional da aprendizagem, da gestão de condições de aprendizagem interativa em sala de aula.” (Altet, 2001: 26) A formação de professores, num primeiro momento, deve mudar a ênfase do “ensinar” para o “aprender”. É necessário, muitas vezes, sermos o professor Joe da história que nos conta Papert, e percebermos que temos que nos despir de preconceitos, correr o risco de não saber tudo e estarmos disponíveis para aprender colaborativamente com os nossos alunos.Cada dia se torna mais claro que o papel do professor não é ser um banco de saber, mas sim um representante do mesmo, que informa sobre a sua localização e o seu uso mais adequado. No ensino presencial, movimentamo-nos na crença de que apenas o contacto visual entre o professor e o aluno proporciona uma comunicação didáctica mais directa e humana, do que através de qualquer sistema de comunicações. Nem o ensino presencial pressupõe comunicação efectiva e apoio ao aluno, nem o ensino à distância deixa inteiramente o processo de aprendizagem nas suas mãos. Se nos centrarmos no processo de ensino-aprendizagem, devemos observar como ensinam os professores, mais do que os conteúdos que explicam, e perceber que as deficiências didácticas e metodológicas que apresentam têm origem na sua formação pedagógica inicial. Uma das características da sociedade de informação é a construção de novos perfis pessoais e, sobretudo, profissionais, capazes de se adaptarem a esta necessidade de profissionais com qualidades, experiência e capacidade de mudança dia-a-dia. Os conhecimentos adquiridos durante a formação inicial dos professores convertem-se, rapidamente, em obsoletos, se este deixar de se preocupar em continuar a aprender. A aprendizagem e a formação deverão ser um desafio constante. Os professores necessitam, cada vez mais, de ter conhecimentos adequados sobre o uso dos novos meios tecnológicos, audiovisuais e informáticos. É impres-cindível a literacia informática dos professores, para que a introduzam no seu saber docente e, com a mesma naturalidade quotidiana com que agora usam os manuais, possam usar qualquer software ou CD-Rom educativo nas suas aulas. Ainda que algumas pessoas gostem de andar de burro, e achem mais interessante do que andar de autocarro, para galgar grandes distâncias este não será certamente o meio mais adequado. No entanto, às vezes, parece que utilizamos o “burro pedagógico” com muita frequência nas escolas, ignorando e depreciando a existência das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, e alegremente lá vamos...Estamos convencidos da necessidade de implementar a tecnologia como modelo para o trabalho do professor. É urgente capacitar os professores nestes domínios da comunicação, através duma pedagogia da imagem e do uso racional e crítico dos recursos tecno-lógicos na sua aplicação à educação. Daí que um dos desafios que hoje se coloca, de uma forma mais premente às escolas seja a capacitação dos professores no domínio das TIC’s adaptadas aos seus contextos de intervenção.A escola ao longo dos tempos tem assumido várias funções, que passam pela formação dos indivíduos nas suas várias vertentes, formando-os em todas as dimensões da pessoa humana. À escola é reconhecida, fundamentalmente, uma missão: a de ensinar. Esta dimensão, centrada na instituição, tem ignorado, muitas vezes, a importância do aprender.A educação serve a sociedade, e por isso tem de se adequar às mudanças que a sociedade vive. Ela passa pelas mesmas transformações que outras instituições sociais também passam. As TIC podem contribuir de modo decisivo para mudar a escola e o seu papel na sociedade. A escola pode passar a ser um lugar da exploração de culturas, de realização de projectos, de investigação e debate. O professor poderá ser um elemento determinante nestas actividades. Isso não acontecerá por ensinar novos conteúdos de literacia informática, muito menos como administrador de pacotes de EAC, e menos ainda como instrutor de Microsof Word ou de Mozilla Firefox. Acontecerá porque ele se envolve na aprendizagem com o aluno, com os colegas e com outras pessoas da sociedade em geral, deixando de ser aquele que apenas ensina, para passar a ser, sobretudo, aquele que (co)aprende e promove a aprendizagem.As novas tecnologias deverão assumir um duplo papel na escola. Primeiro deverão ser uma ferramenta para permitir a comunicação de profissionais da escola, consultores e investigadores exteriores à escola. Segundo poderão ser usadas para apoiar a realização de uma pedagogia que possibilite a formação dos alunos, possibilitando o desenvolvimento de habilidades que serão fundamentais na sociedade do conhecimento. É importante deixar claro que somente a inclusão da informática na escola não representa mudança. O facto de proporcionarmos ao aluno o uso do computador para realização de tarefas não é indicativo que ele compreende o que faz. A qualidade da interacção criança-objecto, de que nos fala Piaget é, particularmente pertinente no caso do uso da informática e de diferentes softwares.

Mestre Fernando Correia - UMa