quarta-feira, 2 de julho de 2008

Tesmunhos do Liceu: Ana Margarida Falcão


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Ana Margarida Falcão
Idade: 59 Anos
Profissão: Professora
Área de Formação: Letras



O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Ana Margarida Falcão – O Liceu foi a minha segunda família. Ali aprendi a equacionar as minhas experiências, os meus afectos e os meus pensamentos, não só em função de um alargamento do mundo vivencial mas também através de um reconhecimento mais lato da aprendizagem e de uma perspectivação amplificada dos outros.


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)

Ana Margarida Falcão – Foi nas velhas salas, nos amplos corredores, nos aconchegantes pátios e nos quase secretos jardins do Liceu que desenvolvi aprendizagem de saberes mas também – e sobretudo – aprendizagem da descoberta do crescimento do corpo e de sentimentos novos e desconhecidos, como as amizades que ficam para sempre a atravessar-nos a vida ou o inesquecível primeiro amor.
Nessa época, os professores eram, na sua quase totalidade, admirados e respeitados pela sua competência e saber, mas seria injusto deixar de referir a Drª Elisabete Vieira da Luz, que me fez descobri Sebastião da Gama, a poesia, o diário literário e o gosto de escrever; ou ainda o Dr. Carlos Lélis, que tantas portas entreabertas deixou, nas suas aulas, para que os alunos mais tarde as pudessem abrir e explorar os caminhos a que levavam; ou ainda o Dr. Louro que connosco transformava o teatro numa realidade vivida tanto na aula como no palco do ginásio.


O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Ana Margarida Falcão – A solidariedade e a justiça eram parâmetros inquestionáveis que ofereciam aos alunos um sentido ético do comportamento. Por entre risos e zangas, gargalhadas e choros, ilusões e desilusões, egoismos e altruismos, sucessos e insucessos, essa verticalidade atravessava a nossa vida liceal e acompanhava-nos, indelével, pela vida fora. Também a dimensão cultural da arte era valorizada em actividades que não eram só receptivas mas também produtoras, ao contrário do que hoje frequentemente se julga acerca desse tempo. Sempre pensei e senti que estes parâmetros haviam sido o melhor legado educacional que recebi, por isso os desejo fervorosamente presentes nas directrizes educacionais de hoje.


O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Ana Margarida Falcão – Li algures que o homem de hoje não constrói a modernidade: ele vive na, da e pela modernidade. As novas tecnologias fazem parte dessa natural e inevitável modernidade. O que importa é não admitir que se falhou a «revolução cultural» e continuar a lutar por ela. No seio de um povo que não tenha educação e cultura não pode sobreviver a democracia.

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