segunda-feira, 30 de junho de 2008

Inovar


A inovação é quase sempre um fenómeno perturbador, na medida em que obriga ao confronto com novas ideias que alteram a forma como vemos o mundo e seguimos por ele. É como algo que, de alguma forma, nos surge no caminho e não podemos mover. Podemos contornar mas não ignorar, sendo provavelmente a melhor estratégia reflectir sobre como rentabilizá-la para o bem da comunidade. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) provocaram essa perturbação na vida de muitas pessoas e, em particular, no quotidiano de muitos professores. A citação com que abro esta introdução é demonstrativa disso mesmo. Podemos e devemos preparar-mo-nos para enfrentar as perturbações que a inovação acarreta, comprometendo todos os nossos pares nessa tarefa, pela partilha da informação, aprendendo juntos a solucionar os problemas e a rentabilizar o que de bom ela possa trazer ao nosso dia-a-dia. Esta aprendizagem, como qualquer outra, em especial se estamos a falar da escola, requer preparação prévia por parte dos professores. A única garantia que temos é a de que por mais bem preparados que estejamos isso não significa que os nossos alunos aprenderão. A aprendizagem é um processo no qual os professores têm um papel importante, mas não absoluto.Durante muitos anos, os modelos de formação de professores, sempre muito centrados nos processos, métodos e técnicas de ensinar, cimentaram a ideia de que o papel do professor era o de detentor do conhecimento. Ainda não há muitos anos, mesmo em espaços que não a escola, quando se discutiam questões relacionadas com o saber, se estava presente um professor, recorria-se a ele para dar a palavra final, mesmo que não tivesse vivências na matéria. O reconhecimento público do professor como detentor do saber funda-se nos modelos clássicos de ensino da antiguidade, quando o conhecimento, publicamente aceite numa determinada área, era passível de ser quase todo dominado por uma pessoa, e se acreditava que este só poderia ser construído por uma “cabeça iluminada”, fugindo ao domínio do cidadão comum. Segundo Marguerite Altet (2001), a formação de professores abraçou, ao longo dos tempos, vários modelos: do modelo “magister” ao “profissional ou reflexivo”, passando por modelos que já deveriam estar abandonados, mas que por motivos que se prendem com a tradição se mantêm muito presentes nas nossas escolas, como o modelo “técnico” e o “engenheiro ou tecnológico”. É comum ouvir dos professores, quando confrontados com a possibilidade de utilização de novos meios, os mesmos receios manifestados pelo professor Joe: perda de controlo na aprendizagem, por incapacidade de acompanhar os seus alunos na aquisição de competências no uso dos computadores. Os modelos de formação inicial destes professores foram ainda muito centrados no ensino e menos na aprendizagem. A permanência destes modelos deve-se, fundamentalmente, à crença de que a profissão docente é uma profissão técnica e de que o domínio de todo o conhecimento é fundamental, pois garante segurança nos processos de transmissão. O alerta de Paulo Freire contra a “educação bancária”, que tem como objectivo depositar nos alunos o conhecimento para que possam devolvê- -lo quando necessário, onde nem se prevê nenhum acréscimo de juros, continua a estar presente no nosso sistema. “Ensinar é fazer aprender e, sem a sua finalidade de aprendizagem, o ensino não existe. Porém, este “fazer aprender” dá-se pela comunicação e pela aplicação, o professor é um profissional da aprendizagem, da gestão de condições de aprendizagem interativa em sala de aula.” (Altet, 2001: 26) A formação de professores, num primeiro momento, deve mudar a ênfase do “ensinar” para o “aprender”. É necessário, muitas vezes, sermos o professor Joe da história que nos conta Papert, e percebermos que temos que nos despir de preconceitos, correr o risco de não saber tudo e estarmos disponíveis para aprender colaborativamente com os nossos alunos.Cada dia se torna mais claro que o papel do professor não é ser um banco de saber, mas sim um representante do mesmo, que informa sobre a sua localização e o seu uso mais adequado. No ensino presencial, movimentamo-nos na crença de que apenas o contacto visual entre o professor e o aluno proporciona uma comunicação didáctica mais directa e humana, do que através de qualquer sistema de comunicações. Nem o ensino presencial pressupõe comunicação efectiva e apoio ao aluno, nem o ensino à distância deixa inteiramente o processo de aprendizagem nas suas mãos. Se nos centrarmos no processo de ensino-aprendizagem, devemos observar como ensinam os professores, mais do que os conteúdos que explicam, e perceber que as deficiências didácticas e metodológicas que apresentam têm origem na sua formação pedagógica inicial. Uma das características da sociedade de informação é a construção de novos perfis pessoais e, sobretudo, profissionais, capazes de se adaptarem a esta necessidade de profissionais com qualidades, experiência e capacidade de mudança dia-a-dia. Os conhecimentos adquiridos durante a formação inicial dos professores convertem-se, rapidamente, em obsoletos, se este deixar de se preocupar em continuar a aprender. A aprendizagem e a formação deverão ser um desafio constante. Os professores necessitam, cada vez mais, de ter conhecimentos adequados sobre o uso dos novos meios tecnológicos, audiovisuais e informáticos. É impres-cindível a literacia informática dos professores, para que a introduzam no seu saber docente e, com a mesma naturalidade quotidiana com que agora usam os manuais, possam usar qualquer software ou CD-Rom educativo nas suas aulas. Ainda que algumas pessoas gostem de andar de burro, e achem mais interessante do que andar de autocarro, para galgar grandes distâncias este não será certamente o meio mais adequado. No entanto, às vezes, parece que utilizamos o “burro pedagógico” com muita frequência nas escolas, ignorando e depreciando a existência das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, e alegremente lá vamos...Estamos convencidos da necessidade de implementar a tecnologia como modelo para o trabalho do professor. É urgente capacitar os professores nestes domínios da comunicação, através duma pedagogia da imagem e do uso racional e crítico dos recursos tecno-lógicos na sua aplicação à educação. Daí que um dos desafios que hoje se coloca, de uma forma mais premente às escolas seja a capacitação dos professores no domínio das TIC’s adaptadas aos seus contextos de intervenção.A escola ao longo dos tempos tem assumido várias funções, que passam pela formação dos indivíduos nas suas várias vertentes, formando-os em todas as dimensões da pessoa humana. À escola é reconhecida, fundamentalmente, uma missão: a de ensinar. Esta dimensão, centrada na instituição, tem ignorado, muitas vezes, a importância do aprender.A educação serve a sociedade, e por isso tem de se adequar às mudanças que a sociedade vive. Ela passa pelas mesmas transformações que outras instituições sociais também passam. As TIC podem contribuir de modo decisivo para mudar a escola e o seu papel na sociedade. A escola pode passar a ser um lugar da exploração de culturas, de realização de projectos, de investigação e debate. O professor poderá ser um elemento determinante nestas actividades. Isso não acontecerá por ensinar novos conteúdos de literacia informática, muito menos como administrador de pacotes de EAC, e menos ainda como instrutor de Microsof Word ou de Mozilla Firefox. Acontecerá porque ele se envolve na aprendizagem com o aluno, com os colegas e com outras pessoas da sociedade em geral, deixando de ser aquele que apenas ensina, para passar a ser, sobretudo, aquele que (co)aprende e promove a aprendizagem.As novas tecnologias deverão assumir um duplo papel na escola. Primeiro deverão ser uma ferramenta para permitir a comunicação de profissionais da escola, consultores e investigadores exteriores à escola. Segundo poderão ser usadas para apoiar a realização de uma pedagogia que possibilite a formação dos alunos, possibilitando o desenvolvimento de habilidades que serão fundamentais na sociedade do conhecimento. É importante deixar claro que somente a inclusão da informática na escola não representa mudança. O facto de proporcionarmos ao aluno o uso do computador para realização de tarefas não é indicativo que ele compreende o que faz. A qualidade da interacção criança-objecto, de que nos fala Piaget é, particularmente pertinente no caso do uso da informática e de diferentes softwares.

Mestre Fernando Correia - UMa

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