sexta-feira, 4 de abril de 2008

Testemunhos do Liceu: Maria Alice Pinto Coelho


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?



Nome: Maria Alice Pinto Coelho Homem da Costa
Idade: 94
Profissão: Doméstica



O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?


Maria Alice – Ah… muita importância. E recordo esses tempos com saudade. Primeiro frequentei o Colégio Lisbonense, até ao 4º ano mas, como sonhava estudar Medicina, disse ao meu pai que precisava de frequentar o Liceu para me preparar melhor. O meu pai não queria que eu namorasse enquanto estudava, por isso tive de convencê-lo a deixar-me vir para o Liceu (risos). Fiz um exame de admissão ao Liceu e estudei cá, ou melhor, no antigo Liceu da Rua do Bispo, até ao 7º ano. O edifício, muito bonito, tinha sido um Convento e residência do Bispo, daí a origem do nome da rua onde se situa.Com a República, passou a ter uma outra finalidade. Foi então o Liceu. Antes ainda, segundo me contava o meu pai, o Liceu tinha funcionado na Rua dos Ferreiros, onde ele foi aluno e onde o meu avô, Jacinto de Ornellas Pinto Coelho, foi professor.Comecei por fazer o 4º e 5º ano, numa turma onde éramos seis meninas e os restantes alunos, a maioria, rapazes. Uma turma mista. Depois, no 6º e 7º escolhi uma turma de Ciências. Aí éramos só duas meninas, a Lucília Tavares Coelho e eu. Ela era filha do Prof. Capitão Tavares Coelho, que leccionava Canto Coral. Não era muito hábito, nessa época, as meninas estudarem no Liceu…


O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)


Maria Alice – Lembro-me, muito bem, de muitos professores e dos Senhores Reitores. Primeiro, o Senhor Reitor João Carlos de Sousa, que faleceu e, depois dele, veio o Senhor Reitor Dr. Ângelo Augusto da Silva, novinho na época. As meninas só entravam nas aulas acompanhadas do professor e também saíam das salas na companhia dos professores. Terminadas as aulas íamos para uma grande sala, com duas contínuas a tomar conta. Não convivíamos com os colegas rapazes, nem mesmo falávamos com eles nos intervalos. Eles iam para a parte norte, onde jogavam à bola e havia um jardim.Fui aluna do Dr. Pestana Júnior no 4º ano. O Cónego Homem de Gouveia foi meu professor de Alemão no 6º e 7º ano. Tive uma professora que veio com o pai, o general Sousa Dias, para a Madeira, quando ele veio deportado pelo governo de Salazar e apoiou a Revolução da Madeira. Também lembro o Dr. João Cabral do Nascimento, o Coronel Morais Sarmento e o Padre Eduardo Nunes Pereira. Outro professor que tive foi o Dr. Perdigão Falcão Pimpão, um nome muito engraçado (risos). Também me lembro bem de ser aluna do Coronel Santos Pereira e do Dr. Neves. Em Matemática tive o Dr. Dâmaso Rego e o Dr. Cristiano de Sousa. Este era contra a frequência de meninas no Liceu e, quando alguma não sabia alguma matéria, dizia: “ a menina está precisada de ir para casa pontear meias”! (risos)Havia contínuos muito correctos. Não me lembro dos seus nomes mas vivia-se um bom ambiente, no Liceu. O


Lyceu – Como vê a Educação?

Maria Alice – Hoje há toda a liberdade.No meu tempo era um exagero a falta de liberdade que tínhamos.

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais-valia para a aprendizagem do aluno?

Maria Alice – Desculpe, não sei dar uma opinião sobre os computadores mas vejo que os mais jovens têm muita dificuldade em fazer cálculo mental, e eu acho que é por usarem as máquinas (de calcular) cedo demais. Com os computadores julgo que o resultado é o mesmo: precisam de ter sólidos conhecimentos básicos antes de usarem muito os computadores, senão ficam com dificuldades na escrita, na leitura, na matemática… não é?...

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