sexta-feira, 4 de abril de 2008

Visita de Estudo à Direcção Regional de Pescas


No passado dia 17 de Outubro de 2007, a turma 11º31 realizou uma visita de estudo à Direcção Regional de Pescas do Funchal, com o intuito de complementar as aulas de Geografia, visto que o primeiro tema do 11º ano na disciplina são os “Recursos marítimos”.
A visita foi coordenada pela professora Filomena Soares e teve início pelas oito horas e trinta minutos da manhã, terminando por volta das doze horas e trinta minutos da tarde.
Depois da chegada ao Porto do Funchal, a turma teve algum tempo para observar as instalações e tirar algumas fotografias. Em seguida, iniciou-se a visita.
Numa primeira fase pudemos falar com o Sr. Ferreira, um pescador do barco “Rainha Santa”. Este pescador serviu-nos como testemunho, visto que já trabalhou na pesca do peixe-espada preto trabalhando, actualmente na área pesca da “Ruama”. Assim, este pescador pôde falar-nos um pouco de dois tipos de pesca já praticados por ele: a longínqua e a costeira. O Sr. Ferreira para além de caracterizar os dois tipos de pesca, ainda classificou, como “muito rigorosa e difícil” a pesca do peixe-espada preto e devido a estas características é que mudou de tipo de pesca. Para uma mais fácil, a pesca da “Ruama”. Em relação à frota, o pescador classificou-a como razoável e acrescentou que hoje em dia já tem melhores equipamentos (arcas frigorificas e sistemas/ utensílios que facilitam a actividade).
Por fim, um elemento da turma colocou uma questão ao pescador – Para si quais os maiores problemas da pesca da Região? - Obtendo como resposta a inexistência de fábricas de transformação do peixe, causando a ida de aproximadamente dez toneladas de peixe, com dimensões muito pequenas, para o mar (já mortos), por semana em vez de ser aproveitado para o fabrico de farinha e o facto de os pescadores madeiren-ses não poderem ultrapassar à ZEE (Zona Económica Exclusiva) madeirense, pois não lhes é permitida a navegação em águas pertencentes à ZEE de Portugal continental.
Para além do Sr. Ferreira ainda pudemos ter o privilégio de falar com o Sr. Fernando, outro pescador do barco “Lola”, que realmente tem uma história de vida muito interessante, pois já foi pescador nos Estados Unidos, Panamá, Colômbia, México, Equador e Ilhas de Samoa. Este pescador já teve uma postura diferente da do outro pescador pois já viajou por muitas águas e isso faz de si uma pessoa mais bem informada sobre té-cnicas de pesca. O Sr. Fernando classificou de imediato a nossa pesca, pois afirmou que esta “é uma miniatura das outras pescas que já praticou”, tanto a nível da frota como da venda do peixe, dizendo que aqui as vendas são muito menores, fazendo com que cada vez mais haja pessoas a quererem ir para outras águas e outros países praticar esta actividade, embora afirmasse que o que se aprende fora do nosso país não lhes sirva para nada aqui, visto que tudo é muito menos desenvolvido. O Sr. Fernando ainda nos falou dos pei-xes que mais pescou fora (gaiado e atum).Na segunda parte da visita pudemos visitar o local onde o peixe é pesado, separado em caixas e em sacos e onde este é guardado, ou seja, em túneis de refrigeração.
Esta parte da visita foi guiada pelo Sr. Jaime Vasconcelos, que nos mostrou e falou da maneira como o peixe era tratado, ou seja, este após a chegada ao porto é pesado, colocado por cima um papel com o número do lote e enviado para a lota.
Entretanto, após a passagem pela lota o peixe que sobra é colocado em caixas com gelo e colocado em túneis a uma temperatura de aproximadamente vinte e cinco graus negativos. Nós pudemos ver e entrar nesses túneis de refrigeração e assim ver como é exactamente o congelamento do peixe.
No seguimento da visita aos túneis de refrigeramento do peixe, fomos ate à Lota, tendonos sido apresentados os aspectos principais daquela área. Esta abre à meia-noite, pois os pescadores chegam ao porto por volta das três horas da manhã e, como durante a viagem de regresso eles já vão separando o peixe por tamanhos, quando chegam ao porto é só passar pela balança para que sejam enviadas as caixas para a lota. Depois, pelas cinco/seis horas da madrugada, é feito o leilão para a venda do peixe, a partir de um sistema informático. Este leilão processa-se de uma maneira muito rápida e simples.
Na lota, existem dois monitores nos quais são apresentadas as informações sobre o peixe que está a ser leiloado, tais como, lote, espécie, barco, avisos, caixas, tamanho, frexx, comprador, peso e resultado. O leilão processa-se do seguinte modo: cada comprador tem um comando programado com o seu código (de comprador de peixe), depois no ecrã vão aparecendo os dados do peixe, o preço vai-se alternando até haver alguém a carregar no botão do comando, quando isto acontece, esse lote é vendido e o primeiro comprador a carregar no botão desloca-se à secretaria para lhe ser dado o recibo da sua compra. Depois é só ir buscar o peixe.
Entretanto seguiu-se a passagem pelo laboratório. Aqui, fomos acompanhados pela Dr.ª Filomena e pela Dr.ª Ana Rita onde ficámos a conhecer o que é lá feito e de que maneira, tendo-nos sido ainda possível visualizar dois estudos que estavam a ser feitos no momento - o estudo da reprodução da lapa e o estudo da idade da cavala a partir da observação dos otolitos da mesma.Este laboratório não trabalha sozinho, pois tem a colaboração de várias instituições.
O laboratório do Centro Regional das Pescas tem como objectivo fazer mostragens dos peixes da Madeira (tunidios; espada; chicharro; cavala; pargo; cherne e garopa), estudando os metais pesados nos peixes madeirenses.
A partir dos estudos aqui feitos, é possível chegar a uma conclusão sobre o futuro das pescas na Madeira, se devem existir limitações de captura, os períodos de desova das diversas espécies, etc.Para finalizar a visita visualizámos um filme apresentado pelo técnico Paulo Henriques, sobre as diferentes técnicas de pesca e de espécies.
Em primeiro lugar, foi-nos mostrada a filmagem de uma ida ao mar com um barco comer-cial (catorze a quinze metros) para praticar uma pesca “longínqua”, ou seja, pesca do peixe-espada preto.
Estes barcos antes de seguirem para o mar são enchidos de gelo picado, visto que não têm arcas, e são também carregados com caixas de lulas salgadas, lulas estas que já foram limpas e cortadas às tirinhas, pois é este o isco preferencial da espada. Depois, por volta das três horas da tarde, saem para o mar com uma viagem prevista para dez ou quinze dias e que pode exigir dezassete a dezoito horas de trabalho consecutivas.
Estes dias de serão, passados com muito trabalho, a água doce existente é apenas para consumo, ou seja, os pescadores não tomam banho durante essas viagens.
O trabalho torna-se muito rigoroso devido ao facto de ser uma pesca artesanal, pois apenas as bóias são puxadas pelos oladores, e por isso é que são necessárias tantas pessoas a trabalhar nos barcos (cerca de dez).E começa a dura e rigorosa viagem. Enquanto o barco avança até ao local de pesca os tripulantes vão preparando os anzóis, ou seja, vão colocando duas tiras de lulas em cada anzol (cento e vinte e cinco anzóis por cada banheira), um branco e outro preto de maneira a parecerem-se com os tentáculos das lulas no fundo do mar.Depois aos mil e cem metros da costa, é lançada a primeira bóia e os cento e vinte e cinco anzóis de cada banheira ao mar, indo o barco à velocidade máxima nesta altura, de maneira a que o aparelho fique esticado. Após a largada de todos os iscos e passado algum tempo, por volta das três horas e meia da manhã, inicia-se a recolha do aparelho. As espadas já chegam à tona mortas, devido à diferença de profundidade (1500metros), o que traz algumas consequências para os pescadores, pois por vezes os tubarões e as lulas aparecem e começam a comer todas as espadas o que traz um grande transtorno para o barco de pesca.Enquanto o aparelho é recolhido já são preparados os anzóis para a próxima largada ao mar, sendo este ciclo repetido de quatro a cinco vezes.No fim, após ter o barco cheio dá-se o regresso do barco a descarga do peixe a separação e a venda.
Em seguida, vimos a técnica de pesca do atum. Uma pesca mais fácil e não tão trabalhosa, feita de uma maneira diferente da espada. É feita por saltivara, ou seja, ou através de uma vara feita de cana de bambu com um anzol (utilizada para atuns de pequeno porte), ou por um salto, que consiste numa vara de madeira também com um anzol (utilizada ara atuns de grandes dimensões). Para esta pesca, são necessários iscos vivos, isto é, chicharro ou cavala, dai ser a captura destes iscos a primeira coisa a fazer durante a viagem. Depois, estes iscos são colocados em poços e alimentados com peixe moído.
A pesca do atum é feita durante o dia, pois os cardumes são localizados a olho nu, por vezes com o auxílio de binóculos e noutras vezes devido à reacção das aves.
Quando é localizado um cardume mas se este se encontra muito perto da embarcação, é deitado ao mar o isco luminoso (suquete, composto por duas tiras de bóias antigas luminosas), de maneira a que a captura seja mais rápida, visto que este isco pode ser lançado ao mar várias vezes consecutivas.Quando ainda há tempo, ligam-se os jactos de água para proporcionar um mar mexido o que atrai o atum. Entretanto começa-se a lançar o isco vivo ao ao mar e os anzóis. Com a chegada do atum à superfície com um gancho é dada uma pancada na parte da cabeça do atum para que este tenha uma morte rápida e para que haja qualidade naquele peixe. Depois o processo é o mesmo, quando o barco está cheio regressam ao porto dá-se a descarga a passagem pela balança e a venda.
Posteriormente, seguiu-se a técnica de pesca da Ruama (cavala, chicharro, gelro, sardinha e boga). A pesca da Ruama é uma pesca costeira e muito mais fácil do que os ou-tros dois tipos de pesca que nos foram apresentados. É utilizado o método de pesca por cerco, através de redes de pesca, dai a necessidade de existirem duas embarcações.
Os pescadores utilizam luzes fortes para aproximarem os cardumes, depois enquanto uma embarcação mais pequena vai deitando o iodo ao mar, a outra, ou as outras, vão fazendo o cerco, passado algum tempo este é puxado para dentro do barco com o auxílio do olador.
Durante a viagem de regresso ao porto o peixe já é separado por tamanhos em caixas, de maneira a que quando chegarem ao porto ser tudo mais rápido, pois basta pesar colocar o lote e seguir para o leilão.Para além dos três tipos de pesca praticados na Madeira, no filme, ainda pudemos ver alguns locais madeirenses onde é praticada a aquicultura, como por exemplo as trutas do Ribeiro Frio, isto em água doce e alguns recifes criados no mar madeirense, como por exemplo através de um autocarro velho, de cubos e torres de cimento. Estes recifes foram criados com o intuito de fazer estudos sobre os ecossistemas, através da recolha de amostras. Ainda pudemos saber como funciona uma reserva natural de dourada, ou seja, a partir de jaulas of shore, em que são recolhidos os peixinhos ainda pequeninos (com duas gramas) e colocados em quatro jaulas unculares até atingirem as quatro gramas, isto porque depois deste peso são transferidas para uma outra jaula construída em aço e preparada para aguentar com uma ondulação até cinco metros.
Quando as douradas atingem as trezentas e cinquenta gramas são mortas devido à sua colocação em caixas com gelo.E assim acabou a nossa visita.
A partir dela, para além de enriquecermos a nossa cultura geral sobre a pesca, conhecendo as técnicas e as infraestruturas existentes na nossa Região, pudemos assim completar os nossos conhecimentos para a disciplina de Geografia sobre o assunto para o 1º teste, a 24 de Outubro de 2007.
Em relação às infraestruturas portuárias, concluímos que até temos boas condições em terra, pois já se está a apostar nas novas tecnologias (como, por exemplo, o facto do leilão ser feito de maneira informática).
A partir do que observámos e do que nos foi dito, percebemos que, infelizmente, a mão-de-obra continua envelhecida e sem formação na área, embora agora já esteja a ser pedido o 6º ano e o 9º ano de escolaridade para trabalhar neste sector. Para além disto, agora muitos já optam por fazer um curso que tem a duração de três meses.Para tirar a carta de mar é exigido o 9º ano de escolaridade.
Quanto ao destino do pescado, uma parte é para venda às indústrias e outra é para o leilão que é feito todos os dias por volta das seis horas da manhã, na lota.Na minha opinião, esta visita foi muito gratificante visto que fiquei a conhecer de uma maneira mais directa a realidade das pescas na minha Região.
Conselhos: - Nunca congelar o peixe solto, ou seja, a contactar directamente com o frio, deve ser sempre congelado dentro de um saco.- Nunca descongelar o peixe em água.- Nunca comer peixe “Escolar” fresco, porque este é muito forte e provoca diarreia. Dica: - Se tem muito peixe no congelador e acha que este se vai estragar, tire-o do congelador, passe por água fria e volte a colocar num saco no congelador, esse peixe pode ser utilizado nos próximos três anos porque estará sempre bom.

Anita Rodrigues - 11º 31

Sem comentários: