sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Testemunhos do Liceu: João Tomaz Figueira da Silva


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: João Tomaz Figueira da Silva
Idade: 87 Anos
Profissão: Escultor
Área de formação: Curso de Belas Artes

O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?


Tomás Silva – Foi quando tive a noção do que tinha de aprender. O seio da família não nos dá a noção do que realmente temos de aprender. Só a experi-ência de vida nos ensina.

O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu?


Tomás Silva – Isso já foi há tanto tempo. Recordo-me de algo que marcou todo o curso da minha vida. Pelos meus 11 anos, no meu 1º Ano de Liceu, tive um professor de Desenho que andara a combater na Guerra de 1914, juntamente com Ângelo Silva, que veio a ser Reitor. Ora, um dia, este professor apanhou-me com um desenho que eu fiz era de um navio, o Alcântara, a entrar no porto de Lisboa. Perguntou-me entusiasmado: «O menino como é que fez isso? O menino como é que fez isso?». Expliquei que gostava de ver os navios nas gravuras e nos postais. Elogiou-me a perspectiva e, a partir desse dia, chamava-me para ir ao quadro todos os dias, para desenhar algo.Ora, foi esse entusiasmo que me impulsionou, anos depois, para o Curso Superior de Belas Artes. Nessa altura, era trabalhador-estudante e, como tinha aulas à noite, optei por seguir escultura e não pintura porque, à noite, as cores têm outras tonalidades. Agora, quando não estou a desenhar, sinto-me um zero. Creio que qualquer artista o é quando não está a trabalhar, que vale o que vale pela obra.Recordo-me ainda de outro episódio. Andaria eu no 3º Ano quando apanhámos um livro do Dr. António Mattoso, um livro de História Universal. Vi nele as pirâmides do Egipto e perguntei-me se algum dia iria lá. Curiosamente, há quatro anos estive lá. Tinha 13 anos na altura, o que significa que passei aproximadamente setenta anos a desejá-lo…

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?


Tomás Silva – Adaptada à época.É porque, quando eu cheguei ao 7º Ano, havia reformas. Nessa altura, o “pacote” era geral do 1º ao 7º anos, quer para as Ciências quer para as Letras. Havia duas provas escritas e não havia oral. Passei tudo, até o Latim.Escolhia-se a melhor prova para classificar o aluno e eu falhei a de Matemática, porque tive de ir a uma Junta de Recrutamento.

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valiapara a aprendizagem do aluno?


Tomás Silva – O ensino, como já referi, tem de se adaptar às necessidades de cada época. Por isso, hoje temos os computadores e os telemóveis. Porém, a linguagem utilizada não é a melhor. A meu ver, as máquinas devem ser utilizadas sem adulterar a língua. O nosso Fernando Pessoa, no túmulo, há-de ficar muito aborrecido com estas linguagens, ele que dizia "a minha pátria é a língua portuguesa". Contudo, não me compete a mim mas aos professores serem uma espécie de "juízes" da língua nesta matéria.

Micaela Martins - Grupo 300

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