sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Testemunhos do Liceu: Rui Ricardo Gomes Vieira


Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?

Nome: Rui Ricardo Gomes Vieira
Idade: 48 Anos
Profissão: Advogado
Área de Formação: Licenciatura em Direito

O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?

Ricardo Vieira – Cheguei ao Liceu vindo de um ciclo preparatório (era assim que se chamava na altura) tirado no Seminário Menor. A ansiedade de uma escola nova facilmente cedeu ao apreço pelo edifício, pelos seus espaços, pela comunidade que me acolheu e com quem convivi durante cinco anos da minha vida. Ontem como hoje, o Liceu era um símbolo que dava estatuto! Ali passei horas fundamentais da minha adolescência nos acesos anos quentes da década de setenta. Aprendi o gosto pelo co-nhecimento, a importância da reflexão, da dúvida e da racionalidade, o valor da amizade, a virtude da tolerância, até na política, o sabor dos primeiros amores! Aquele edifício foi fundamental na minha formação humana, cívica e cultural. Essa Saudade de que fala a pergunta é no meu caso açucarada pela gratidão que não me canso de recordar.

O Lyceu – O que mais o/a marcou durante os anos de frequência do Liceu?

Ricardo Vieira – Tive professores notáveis (Margarida Morna, Lídia Homem da Costa, Sales Caldeira, Manuela Pita, Sena Lino, Isabel Spranger, Raimundo Quintal e outros tantos), lidei com funcionários que eram muito mais que empregados; marcaram o meu crescimento colegas de carteira, de ano ou de Escola... mas se há uma marca profunda desses anos, essa foi a do ambiente único e irrepetível que foi o Liceu nessa época, na Região e no País que pulsava! A constituição e as eleições para as Associações de estudantes, as “greves” e as RGA’s, as ocupações, as discussões intermináveis no Gimnásio, na sala de aulas, no Café Sinai... o desafio de conciliação entre as avaliações que exigiam e o deleite de uma participação em crescendo que, apesar dos muitos abusos, alguns até imperdoáveis, deixou gravada uma experiência que muito me serve no dia a dia da minha vida.

O Lyceu – Como vê a Educação hoje?

Ricardo Vieira – Sem dúvida que mais participativa e “interactiva”. Também muito mais actualizada e útil no seu conteúdo! Em contrapartida muito menos exigente e laxista. Descredibilizada socialmente, desautorizada e fundamentalmente olhada com um preocupante e crescente desinte-ressante ou desleixo pelas famílias. No meu tempo de Liceu, a sociedade acreditava na educação, nos seus agentes, nos seus processos e conferia estatuto de relevo ao seu papel. Hoje não é infelizmente assim! Os alunos desinteressam-se, os pais não acreditam, os professores desmobilizam-se e os políticos baralham-se. A acreditação deixou de corresponder à excelência. A educação hiberna e é apenas o esforço de alguns pais e professores, nem sequer reconhecido, que faz surgir oásis neste deserto!...

O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno?

Ricardo Vieira – No meu tempo, a aprendizagem era mais passiva e monolítica quer nos conteúdos, quer nos métodos. Hoje que tanto se critica o sistema educativo - muitas vezes com razão, diga-se! - é justo reconhecer que as novas tecnologias e os inúmeros e novos meios de transmisssão e recepção de conhecimentos deram ao ensino novos desafios mas propiciaram aos educandos novas competências.Sou 100% favorável ao uso de todas as novas tecnologias até como forma de cativar ao ensino jovens que trazem de casa, do clube ou de outras experiências, valências nestas áreas que não podem deixar de ser reflectidas na escola. A Escola está na sociedade e deve naturalmente acompanhar todas as inovações nessas áreas!

Vanda Gouveia - Grupo 300

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