quarta-feira, 22 de abril de 2009

Da doce quimera à amarga realidade

”O deputado do PSD pela Emigração, Carlos Gonçalves, defendeu esta segunda-feira que a questão da exploração de trabalhadores portugueses na Holanda é «uma gota de água no oceano», por considerar que existem situações piores noutros países.
«A questão da Holanda é uma gota de água no oceano, que só ganha visibilidade porque aparece na televisão», disse o deputado eleito pela Europa à Agência Lusa.
Carlos Gonçalves diz estar «mais preocupado com a situação no Reino Unido, onde o número de portugueses numa situação próxima da miséria é muito superior do que na Holanda».
O deputado falava depois de ter surgido mais uma denúncia de portugueses vítimas de exploração laboral na Holanda, com alguns a afirmarem que estavam sem dinheiro e sem comida.
Referindo-se à alegada falta de apoio da embaixada e do consulado aos portugueses vítimas de exploração na Holanda, o deputado afirma que essas estruturas «não têm recursos e meios para darem uma resposta».
Contudo, defende que «deveria haver recursos humanos vocacionados para a área social». «O Governo nunca foi muito sensível a esta questão. Só fez uma campanha (a alertar os portugueses que pensam emigrar), que foi positiva, mas não resolve o problema», afirmou.
Carlos Gonçalves considera ainda que o Governo deve reconhecer que há cada vez mais portugueses a ir para o estrangeiro à procura de trabalho, apesar de admitir com isso que «talvez o país não esteja tão bem como querem dar a entender».
De acordo com o deputado, no ano passado chegaram oito mil portugueses ao Luxemburgo e 10 mil à Suíça.
Quem mais procura trabalho no estrangeiro são jovens à procura do primeiro emprego, pessoas com 40 ou mais anos que ficaram desempregadas e não têm qualificações profissionais e famílias endividadas, que deixam de poder pagar os créditos e não têm outra alternativa senão emigrar, segundo Carlos Gonçalves.
O deputado disse ainda à Lusa que pediu ao Governo para aproveitar a presidência portuguesa da União Europeia, no segundo semestre de 2007, para levantar o problema da exploração de trabalhadores na Europa.
«São cidadãos europeus e não lhes estão a ser garantidos os seus direitos», afirmou Carlos Gonçalves, sublinhando que esse problema não se põe apenas com trabalhadores portugueses.”
In IOL PORTUGAL DIÁRIO 20/04/2009 - “Portugueses “quase na miséria” no Reino Unido”.

Em Março passado tive o grato prazer de, nesta Escola Jaime Moniz, me dirigir a um auditório quase pleno de Professores e Alunos, para uma comunicação sob o tema “Tráfico de Seres Humanos – Uma perspectiva em Portugal”, apresentação essa que me deu muito prazer em mostrar e que, pelos comentários que tiveram a gentileza de lhe fazer, provocou saudável e criativa polémica, assim como profícuas trocas de impressões, entre Docentes e Discentes e no seio dos próprios grupos profissionais.
No rescaldo dessa mesma minha participação cívica e cultural foi-me dado a conhecer que alguns, espero que poucos alunos haviam abandonado a sua carreira de estudantes, ou pelo menos a teriam suspendido, devido às dificuldades económicas que a nossa economia regional e nacional tem vindo a sofrer e dos inevitáveis reflexos dessa mesma crise no plano das famílias e dos indivíduos em si, com as consequências daí advindas, entre as quais nos importa aqui realçar o já anteriormente dito abandono escolar.
Compreendemos perfeitamente que tal possa acontecer mas, na sequência da nossa citada intervenção, muito gostaríamos agora de dar o nosso contributo, desta vez, por escrito e uma vez mais a convite de membros do Corpo Docente sobre, não as consequências para o plano de estudos prosseguido e abandonado pelos alunos que desertam da Escola, mas dos eventuais proveitos e também das quase certas menos valias, na vida presente de estudantes e na sua vida futura de cidadãos inseridos na economia.
Quanto ao abandono escolar, melhor do que eu, os Professores e os Alunos, como profissionais conscientes estão conscientes que uma saída prematura, mais configura um abandono quase definitivo do plano de estudos, com correspondência numa futura actividade profissional, uma vez que se sabe que a cada ano perdido e não recuperado, corresponde um valor matematicamente possível de quantificar, de menos valia perdida ou arduamente recuperado em actividade profissional, não alicerçada em currículo académico adequado.
Mas essa não é de modo algum a nossa intenção hoje e aqui mas sim, valendo-nos da nossa experiência profissional, alertar os nossos eventuais leitores para os riscos, alguns deles de natureza até física e moral, que correm ao abandonar, a meio do percurso um projecto e ao abraçarem outro, para eles desconhecido, tutelados por alguém ou alguns cujo objectivo essencial é a maximização do lucro, usando as pessoas de que dispõem como máquinas, ou ferramentas ou mesmo animais, inseridos num projecto de exploração maciço e criminoso.
Os riscos são muitos e os proventos, esses serão alguns ou nenhuns, como tivemos ocasião de apresentar e de nada adianta avançar com raciocínios desculpabilizantes do género de que é mão-de-obra jovem, não formada ou imperfeitamente adequada às funções que se lhe exige, porque esse é muitas vezes o argumento base de jornadas de exploração, risco físico e moral e de inenarráveis sofrimentos, frustrações e amarguras, sofridas muitas vezes solitariamente, longe de qualquer protecção ou aconchego, seja ele familiar ou de grupo.
Por gerações, para o Havai, passando pelas chamadas “West Indias”, como aqui se designavam, o Brasil, África do Sul, Venezuela, Austrália, Angola, os Madeirenses emigraram em grupo ou individualmente, para aplicarem o seu saber, a sua inenarrável vontade de trabalhar e vencer, muitas vezes, quase sempre chamados por aqueles que haviam partido antes e que tão bem quanto mal os integravam, protegiam ou enquadravam em esquemas produtivos, que já mal ou bem dominavam, servindo de almofada para uma mudança radical.
Mais tarde e durante algum tempo partiram da Madeira, para as chamadas Ilhas do Canal – Jersey, Guernsey, Alderney e Sark, muitos jovens Portugueses, e tive ocasião de ver que em muitos dos aviões quase só partiam jovens mulheres, as quais se deslocavam em grupo para a prossecução de actividades ligadas ao sector agrícola ou actividades de hotelaria, desenvolvidas em período sazonal, em que se partia em Abril e se regressava em Novembro e, tal como a formiga, se amealhava no Verão para se gastar no Inverno.
Posteriormente, e após a entrada de Portugal na União Europeia, muitos dos nossos concidadãos começaram a deslocar-se para o Reino Unido, a França, a Suíça, Luxemburgo e Holanda e concomitantemente foram perdendo a sua apetência pela imigração definitiva para os destinos tradicionais, num movimento que suavemente se foi transformando num reforço da emigração sazonal e enfraquecimento dos destinos mais tradicionais, fruto da menor atractividade desses mesmos destinos, por razões políticas, económicas ou até de moda.
Hoje e é esse o tema essencial deste nosso trabalho é mais o destino sazonal, transformado muitas vezes quimericamente num destino definitivo que abordamos, fazendo lembrar que as quimeras, se por um lado, tal como as paixões, são muito motivantes, são também por vezes intoxicantes e obnibiliadoras da realidade, deixando o, chamemos-Lhe, apaixonado, desmunido de recursos, protecção e capacidade de defesa face à adversidade, para a qual não estava de forma alguma preparado e que fantasiosamente não esperava.
Assim importa, primeiro do que tudo avaliar de forma criteriosa, responsável, fria e objectiva se os eventuais proventos, benefícios e mais-valias correspondem na pior hipótese à situação que se deixa, sabendo nós que a fase curricular e de estudos deve ser vista como uma fase essencial de investimento pessoal, não visível, aparentemente não produtiva ou pelo menos não remível em dinheiro ou valores fiduciário, mas essencial como currículo, a qual jamais deve ser vista como “perdida”, mas sim sempre e muito mais como “ganha”.
Deve-se depois, como salvaguarda e protecção pessoal física e moral, verificar se a proposta é sólida, profissionalmente inatacável e com potencial de futuro, quer no aspecto profissional, quer no aspecto de valorização do activo, muitas vezes o único que nesse momento possuímos, que é a nossa força de trabalho e a nossa mais-valia potencial, ou seja, aquilo que nos interessa a nós mas e muito mais interessa ao “outro”, numa perspectiva de valorização constante e crescente das nossas capacidades em gerar recursos e valor.
Será também essencial, na nossa perspectiva, que a saída não seja um reconhecimento implícito e explicito de falência do projecto que abandonamos, com a quebra dos laços que fomos granjeando ao longo do nosso percurso anterior, nomeadamente da família e do grupo social em que nos inserimos, incluindo a própria escola que rejeitamos, mas que o façamos de uma forma clara, transparente e substancial, de maneira a que para nós próprios tal saída, seja construtiva, valorizadora e pessoal e profissionalmente geradora de mais potencial.
Importa que nos socorramos com o máximo de informação possível e que dessa mesma informação façamos partilha, pelo menos com os nossos familiares e amigos, para que a mesma possa ser um capital repartido, partilhado e mutuamente securizante e jamais partir como que fugido, sem deixar rasto ou traço e que, e se mesmo assim o fizermos, tenhamos consciência de que partimos ainda mais sós e desprotegidos, não permitindo aqueles que nos gostam a possibilidade de intervir, para eventualmente nos proteger.
Existem múltiplos recursos de informação e há que os usar de forma responsável e criteriosa, em nosso benefício, proveito e protecção. A própria família e amigos conhecem, de experiência própria ou induzida, casos anteriores de sucesso e também de insucesso, devendo nós ter consciência de que a vergonha, o orgulho e a vaidade muitas vezes levam ao escamotear das realidades e que algumas das informações recebidas estão muitas e quantas vezes feridas de fantasia, na melhor das hipóteses e na pior, de maldade e inveja.
Importa também cruzar as informações recebidas com a protecção que as Instâncias Estatais e Regionais nos podem proporcionar, que no primeiro caso são os Departamento do Ministério do Trabalho e do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou as Instâncias Comunitárias mas que mais próximo de nós e de mais fácil e profícuo acesso temos a Secretaria Regional dos Recursos Humanos e o seu Centro do Emigrante ou mesmo a Direcção Regional do Trabalho ou ainda na Região, os próprios Sindicatos e até as Organizações Religiosas.
Idealmente e já que somos jovens e desejamos legítima e compreensivelmente ganhar dinheiro e autonomia, sugerimos que o momento de abandonar a escola seja postergado, que se cumpram os currículos, se termine pelo menos o ano lectivo, de forma a que se não aparente sairmos vencidos, nos auto afastemos da nossa comunidade de origem, não permitindo aos nossos amigos e “amigos” que nos julguem sistematicamente por defeito e que nos não empurrem para soluções que, apenas aparentemente, parecem vantajosas.
Finalmente a Internet é hoje uma ferramenta extraordinária de informação e validação de conhecimentos e os jovens melhor do que ninguém a sabe utilizar, para o melhor e para o pior e que no âmbito desta problemático os “links” que deixamos, poderão ser úteis numa fase inicial de prospecção e segurança das propostas que nos são apresentadas, na condição essencial de que as mesmas devem ser trabalhadas, não em regime fechado mas sim em regime suficientemente partilhado e confiante. “Duas cabeças pensam melhor do que uma”.
Sítios web que recomendamos:
http://www.uma.pt
http://www.portugal.gov.pt
http://www.sef.pt
http://www.iefp.pt
http://www.igt.pt
www.youtube.com – emigrante português
http://rjms.blogspot.com/2008/06/emigrantes.html
http://www.srrh-recursoshumanos.pt

José Felisberto de Gouveia Almeida