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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Poema (inspiração Álvaro de Campos)

À derradeira luz da tecnologia
Sinto entusiasmo e insónias,
Que me fazem perder noites,
Noites intermináveis de downloads!

Manter-me a par de tudo isto leva-me à loucura.
O meu corpo é invadido pelo avanço tecnológico
E sinto o êxtase a percorrer-me as veias,
Sedento de mais, de melhor, de poderosa evolução.

Laura Coelho nº
Sara Ornelas nº26

12º3

quinta-feira, 26 de março de 2009

Auto-retrato



Simples, magra, alta
é amiga do amigo
mas diz com toda a "lata"
"sou dona do meu umbigo".

Vibra com o PC
é mesmo quando melhor fica
só muda para o LCD
quando na RTP joga o Benfica.

É sua grande paixão
ir de mota para a escola
com os amigos entra em vibração
e sem o telemóvel de casa não descola.

Eis Carolina, que se achou poeta
e quem sabe se não é a sua rota
não fez isto em troca de moeda
mas sim pela sua nota!

Carolina Rodrigues, 10º42

sábado, 31 de janeiro de 2009

Não sei quantos seremos, mas que importa?!‏



Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.



Miguel Torga

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Uns olhos


Uns olhos

Que olhos formosos que eu vi nesse dia
Que ao bardo, trouxeram segredos de amor
Tão meigos, tão castos, tão cheios de encantos
Que a lyra acordarão do pobre cantor

Que brilho dos astros no céu a luzir
Que encanto suave de mago condão
Minh’alma extasia e o peito só pode
Erguer doce hymno, suave canção.

Amor, alegria seu rosto inspirava
Seus olhos tão puros, celeste brandura
Dos astros formosos, saphyras brilhantes
Que a alma embriagam com maga candura?

Que meigo olhar sedutor
Que brilho d’astro fulgente
Em ondas de luz de amor
Como se enrosca a serpente.

Como a gota matutina
Que no seio Luís retrata
Como a lua ao reflectir-se
Na lympha de lisa prata

Tinham o olhar brando e puro
Dum anjo, dum cherubim
Como a nívea, branca folha
Do perfumado jasmim.

Eram meigos feiticeiros,
Eram dous astros brincando,
Num lago de branca neve
Douradas visões gozando.

Nem Rapahael o sublime
Imaginou tal candura
Nem pagão, grego, romano
Adorou tal formosura!

Mas não, ai do vate, lá vem a negra nuvem,
Que a meiga estrelinha lhe tolda o fulgor,
Lá vem o sopro intenso de norte furioso,
Que ao bosque florento lhe despe o vigor!

E arcanjo risonho, ou virgem ou fada,
Julguei ter no rosto, nos olhos, amor;
Mas ai! Pobnre crença, funesta alegria,
A esp’rança fagueira perdeu seu alvor!

E a lyra do bardo cantou doce endeixa,
E ao ver esses olhos o vate então creu,
Mas triste, bem cedo da terra a desgraça
Roubou-lhe esses olhos sem norte, sofreu!

In: O Recreio, 06/07/1863

A beleza de Maria


A beleza de Maria


De Maria a formosura
Na terra não tem rival
Que é mais formosa que a rosa
E do que o jasmim do vale.

É como meiga visão
De noite de Primavera
Queando a lua meiga e triste
Poesia n’alma gera.

É azul mais sancto e puro
Que o azul dos olhos seus
Na terra ver não se pode
Somente o azul dos céus.

Que só ele é grande, imenso,
Profundo e misterioso
Como esse olhar sancto e puro,
Tão terno, tão amoroso.

E cabelos mais formosos
Que ela quem os terá?
Mais louros, mais ondulosos,
Virgem de certo os não há.

E essa fronte tão singela
Tão alva, tão delicada
E esse talho tão esbelto
E essa mão tão afilada?!

Mas p’ra que louco pretendo
Belezas taes esboçar?
Não será isto ofendê-la,
Seus encantos profanar?

Virgem dos olhos azuis
Oh! Perdoa ao teu cantor!
Perdoa-lhe, foi loucura.
Perdoa-o, que foi amor.

Z

In: O Recreio, 09/09/1863

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Adeus



Aos meus companheiros do Lyceu Nacional do Funchal


Ai! Adeus companheiros que eu parto,

Vou pr’a sempre estas aulas deixar,

Vou do mundo no triste penar

Nutrir mágoas, saudades e dor!

Já lá vai essa infância ditosa

Esses tempos de eterna ventura!

Como o Inverno lá mirra a verdura

Vai a ausência meu peito transpor.


Minha infância, tão rica de encantos

Co’as esp’ranças a vejo esvahir;

E quem sabe que negro porvir

D’amanhã pode a aurora trazer?!

Tudo é luto, tristeza, saudade

Desses tempos de estudo, de amores!

Como o bosque sem relva, sem flores,

O meu peito vai triste sofrer.

E quem sabe se irado o destino

Só tormento a meus olhos vá abrir;

E não vejo só encantos sorrir

Como então entre nós desfrutei!

Oh quem sabe que horrível tormento

Há de envolta no peito açoitar

E não deixei os prazeres libar

Que outrora na infância gozei?
Mas que importa se n’alma conserve


A saudade, do pobre o alento,

Se depois de amargura e tormento

Virão dias de amor e prazer!

Adeus, pois, que me resta no peito

“Uma esp’rança que est’alma alimenta”

Que do mundo na triste tormenta

Há sempre a meu lado jazer!

Ai adeus! Bela infância de encantos,

Companheiros, colegas, amigos,

Que em meu peito, em todos os pr’igos

Terei sempre a amizade devida!

Ai! Adeus! Eu vos deixo e p´ra sempre

E da ausência já sinto amargura!

Nutrir mágoas sem luz sem ventura

Vou no oceano revolto da vida!


In: O Recreio, 10/10/1863

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Aos cursos de … Presentes, Pretéritos e Futuros


Não há maior desventura
Do que termos de estudar!...
O tempo da formaturaÉ d’um imenso pensar!...
É fazer gastos insanos
É viver por cinco anos
Sem ser útil a ninguém
É sofrer mil dissabores
P’ra no fim sermos doutores
Se acaso ficamos bem!...
E assim p’ra não ficar mudo
P’ra dar lição regular
Hei-de sentar-me ao estudo
Logo que a cabra tocar.
E à noite, à banca de pinho
Sem dormir, hei-de sozinho
C’os calhamaços gemer
Dizer adeus ao cavaco,
À batota, à troça, ao taco
Da cábula ao gran prazer!
E se fosse isto somente
O que sofremos aqui!...
Assim não chega a mesada
A família está zangada
De fazer despesa tal!
Mas eu nada remedeio
Pois que em ‘stando o mês em meio
Já não tenho um só real!
Depois não tenho sossego
Se eu não possuo vintém.
Lá vão os livros p’ro prego
E vai o fato também
Maldito o dia primeiro
De todos que os meses têm:
Vem a servente, o padeiro,
Da tenda recados vem.
É dia de altas maçadas
Que enquanto cheira a mesadas
Saltam-nos todos os cães.
São mesmo como as harpias
Que nos vêm naqueles dias
Chupar todos os vinténs…
E como se fosse pouco
Tanto tormento aturar
Sai um homem como louco
Vai ao jardim passear
Cansado de aturar brutos
Nem se lembra dos estatutos
E as calças deixa cair;
Eis que um archeiro o apanha
E diz-lhe com muita manha
Que por força preso há-de ir.
Assim tudo se revolta
Contra o que quer ser doutor
Se p’rás pândegas se volta
Acha nelas dissabor.
Se, às vezes, por brincadeira
Toma a sua borracheira
Dão-lhe más informações.
Se vai à batota um dia
Volta c’o a bolsa vazia
Depois de ter mil ferrões.
Vai passear, rompe a capa.
As botas já rotas são.
Tem má frequência de banco
E leva um R por fim.
Lá vai o triste p’ra férias
Suas desgraças carpir.
Conta ao velhote mil lérias
Que ele não quer engolir.
Fala à mãe duma doença
Em que fez despesa imensa
Que ainda não pôde pagar…
Mas ela abana as orelhas
Que é, como todas as velhas,
Mui difícil de embaçar!
Assim, até mesmo a família
Vem o pobre arreliar
Volta cheio de quezília
Sua carreira acabar.
Volta aos trabalhos insanos
E assim vai passando os anos
Num contínuo dissabor
E no fim de tanto estudo
Está habilitado p’ra tudo
Porque chegou a Doutor!!!

L e J, “O Noticioso”,21/07/1864