sexta-feira, 4 de abril de 2008

Adeus



Aos meus companheiros do Lyceu Nacional do Funchal


Ai! Adeus companheiros que eu parto,

Vou pr’a sempre estas aulas deixar,

Vou do mundo no triste penar

Nutrir mágoas, saudades e dor!

Já lá vai essa infância ditosa

Esses tempos de eterna ventura!

Como o Inverno lá mirra a verdura

Vai a ausência meu peito transpor.


Minha infância, tão rica de encantos

Co’as esp’ranças a vejo esvahir;

E quem sabe que negro porvir

D’amanhã pode a aurora trazer?!

Tudo é luto, tristeza, saudade

Desses tempos de estudo, de amores!

Como o bosque sem relva, sem flores,

O meu peito vai triste sofrer.

E quem sabe se irado o destino

Só tormento a meus olhos vá abrir;

E não vejo só encantos sorrir

Como então entre nós desfrutei!

Oh quem sabe que horrível tormento

Há de envolta no peito açoitar

E não deixei os prazeres libar

Que outrora na infância gozei?
Mas que importa se n’alma conserve


A saudade, do pobre o alento,

Se depois de amargura e tormento

Virão dias de amor e prazer!

Adeus, pois, que me resta no peito

“Uma esp’rança que est’alma alimenta”

Que do mundo na triste tormenta

Há sempre a meu lado jazer!

Ai adeus! Bela infância de encantos,

Companheiros, colegas, amigos,

Que em meu peito, em todos os pr’igos

Terei sempre a amizade devida!

Ai! Adeus! Eu vos deixo e p´ra sempre

E da ausência já sinto amargura!

Nutrir mágoas sem luz sem ventura

Vou no oceano revolto da vida!


In: O Recreio, 10/10/1863

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