Aos meus companheiros do Lyceu Nacional do Funchal
Ai! Adeus companheiros que eu parto,
Vou pr’a sempre estas aulas deixar,
Vou do mundo no triste penar
Nutrir mágoas, saudades e dor!
Já lá vai essa infância ditosa
Esses tempos de eterna ventura!
Como o Inverno lá mirra a verdura
Vai a ausência meu peito transpor.
Minha infância, tão rica de encantos
Co’as esp’ranças a vejo esvahir;
E quem sabe que negro porvir
D’amanhã pode a aurora trazer?!
Tudo é luto, tristeza, saudade
Desses tempos de estudo, de amores!
Como o bosque sem relva, sem flores,
O meu peito vai triste sofrer.
E quem sabe se irado o destino
Só tormento a meus olhos vá abrir;
E não vejo só encantos sorrir
Como então entre nós desfrutei!
Oh quem sabe que horrível tormento
Há de envolta no peito açoitar
E não deixei os prazeres libar
Que outrora na infância gozei?
Mas que importa se n’alma conserve
Mas que importa se n’alma conserve
A saudade, do pobre o alento,
Se depois de amargura e tormento
Virão dias de amor e prazer!
Adeus, pois, que me resta no peito
“Uma esp’rança que est’alma alimenta”
Que do mundo na triste tormenta
Há sempre a meu lado jazer!
Ai adeus! Bela infância de encantos,
Companheiros, colegas, amigos,
Que em meu peito, em todos os pr’igos
Terei sempre a amizade devida!
Ai! Adeus! Eu vos deixo e p´ra sempre
E da ausência já sinto amargura!
Nutrir mágoas sem luz sem ventura
Vou no oceano revolto da vida!
In: O Recreio, 10/10/1863
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