O Lyceu: O que é a Planktos?
Philip Lloyd: A Planktos é uma empresa que vê no fictoplâncton a chave para a saúde do mar e, consequentemente, de todo o planeta.A ideia é estudar ambientes marinhos, após a colocação de pedacinhos de ferro em algumas partes do oceano. O ferro origina a produção de fictoplânton, que é tido como um elemento que retém dióxido de carbono.Isto não tem nada a ver com o lixo que se deita ao mar e eu não acredito que o fictoplâncton possa alterar o ADN dos peixes, como alguns reaccionários fazem crer. Além disso, se houvesse impactos negativos nestas medidas, haveria estudos que os provassem, estudos que viriam na sequência dos que já foram feitos e que vêem o fictoplâncton como retendor de CO2.
O Lyceu: Qual a missão do Weatherbird II?
Philip Lloyd: Neste momento, a nossa missão é regressar à Florida e vender este navio à SPERC, que é uma empresa de investigação dos recursos naturais. Então, a Planktos terá de se reestruturar e analisar o que fez com que este projecto não tivesse funcionado.Julgo que o projecto não funcionou porque o investidor queria resultados a curto prazo, queria pôr 25 toneladas de ferro no mar e, naturalmente, os países envolvidos recusaram.O que foi feito, efectivamente, foram algumas experiências a bordo do navio, com água retirada do mar para bidões e um pouco de ferro, de um saco pequenino, que é o que nós temos connosco. Só estou com a empresa há três meses e só há pouco tempo percebi quais eram os seus objectivos. Muito sinceramente, estou feliz porque vamos vender o navio. Contudo, é preciso ver que a maior parte dos elementos da Planktos está aqui pelos motivos certos, que é travar o aquecimento global e se tornar uma potência mundial na investigação do fictoplâncton. Há muito pouca pesquisa a respeito da vida nos oceanos.
O Lyceu: Como surgiu, da sua parte, a vontade de proteger a Natureza?
Philip Lloyd: Sempre tive o gosto pelas actividades ao ar livre, andar de bicicleta, pescar, observar os pássaros.Na Nova Zelândia, para proteger os pássaros é preciso fazer alguns sacrifícios.
O Lyceu: Fala-se de aquecimento global. Para quando as consequências?
Philip Lloyd: Ontem! Já começámos a ver.Devido ao aquecimento global, um estado da Polinésia, Tuvalo, no Oceano Pacífico, ameaça ficar submerso, pelo que estão a considerar evacuar os seus habitantes.Tudo isto se deve à excessiva emissão de gases e à oxidificação do mar, que resulta na destruição dos corais. Perdemos tanto gelo do Ártico no último ano quanto havíamos perdido nos últimos dez. Os estudos que tenho feito sobre os glaciares dizem que estes estão a derreter a uma velocidade impressionante. Creio que estamos a aproximar-nos muito ra-pidamente de uma frase crítica, até o Ministro Inglês da Ecologia diz que as coisas estão a ficar terríveis. Estamos a chegar a um ponto de necessidade de sobrevivência, não de alerta para o problema. Neste momento, são necessárias soluções. O escritor e cientista James Lovelock referiu, no seu livro The Great Extinction, que apenas um bilião de pessoas sobreviverá até ao próximo século. Na verdade, somos demasiado ineficazes na utilização dos nossos recursos. Tenho observado, a título de exemplo, os autocarros que saem daqui do Porto do Funchal com turistas que vêm buscar aos navios; vejo saírem autocarros de instante a instante, com três a cinco pessoas e pergunto: porque não tomam todos o mesmo autocarro? Não seremos nós capazes de rentabilizar aquele transporte e emitir menos gases?
O Lyceu: Na sua opinião, qual tem sido o papel de Al Gore na conservação do planeta?
Philip Lloyd: Al Gore teve oportunidade, em 1997, aquando da elaboração do Protocolo de Quioto, de ajudar a impedir a emissão excessiva de gases, como apregoara no seu livro, contudo, ele voltou atrás e optou por baixar o alvo…
Talvez um pouco por responsabilidade sua, porque ele não aproveitou a oportunidade, neste momento, a China produz mais CO2 do que todos os outros países, ou melhor, esta nação poduz a quantidade de CO2 que todas as outras estão a evitar emitir.
Contudo, o que Al Gore começou por fazer para combater o aquecimento global foi muito importante. As iniciativas da Greenpeace para alertar o mundo para o problema haviam sido ineficazes, porque não haviam conseguido intimidar as pessoas, e Al Gore conseguiu precisamente isso, mostrar às pessoas, sobretudo às camadas mais jovens, que estamos pe-rante um problema terrível.O problema é que ele não se preocupou muito com as soluções; apenas ajudou a alertar. Todavia, neste momento, já precisamos de mais, precisamos urgentemente de soluções, porque estamos perante um caos climático, como as pragas de mosquitos, entre outras.
O Lyceu: Como justifica que a Planktos continue a sua acção embora muitos ecologistas se oponham à forma de agir desta empresa, nomeadamente às descargas de ferro para o mar?
Philip Lloyd: Na altura, quando tomaram as decisões, eu ainda não era comandante do Weatherbird II.Nós fomos convidados, pela Universidade de Las Palmas, a integrarmos o projecto de investigação do fictoplâncton empreendido por aquela instituição, que conseguiu os fundos para o navio e para investigar. O governo espanhol opôs-se às descargas de ferro no mar e impediu-os de fazer funcionar o projecto.
Na Madeira, também disseram que eles eram um “bando”, o que não faz sentido nenhum visto estarmos todos relacionados à Ecologia, da tripulação do Weatherbird II fazem parte climatologistas, biólogos marinhos, entre outros.O barco foi inspeccionado nas Bermudas e os resultados foram mostrados às autoridades do Porto do Funchal.Na verdade, o que corre por aí são boatos e confusões e o que espero é que um dia possamos todos trabalhar juntos, para um mesmo objectivo.
O Lyceu: Há mais alguma coisa que gostaria de dizer aos nossos jovens?
Philip Lloyd: Gostaria de aconselhor os jovens a aceitarem os desafios, a perceberem o que se passa no Mundo.Já se vê que os pais começam a pensar no assunto, no facto de terem tido filhos num mundo que está a caminhar para o seu fim. Agora, resta aos jovens serem menos superficiais, deixarem de se preocupar apenas em combinar a mala com os sapatos, em terem um MP4 e uma XBOX. É urgente que eles procurem também soluções, que procurem “recuperar as suas almas”. O problema é eles pensarem que os cientistas resolvem tudo, que é só eles pensarem e encontram logo a solução, como se tivessem uma varinha de condão… Há que fazer um esforço mundial para combater o aquecimento global e esta tendência terrível para sermos superficiais e destrutivos.
Micaela Martins - Grupo 300
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