sexta-feira, 4 de abril de 2008

Sociedade de Informação e as TIC na Educação


Nesta revista, como ficou prometido no número anterior, apresentam-se os resultados obtidos através do questionário aplicado a alunos que estão a frequentar o 9º ano de escolaridade nas escolas da Região Autónoma da Madeira no ano lectivo 2005/2006. De modo a facilitar a interpretação dos resultados, estes são apresentados numa sequência que coincide com a ordem pela qual as questões surgem nos respectivos questionários. Assim, a secção foi dividida em diversos pontos onde serão descritos os resultados relativos: à caracterização da amostra; equipamentos existentes na casa do aluno; utilização das TIC pelo aluno; equipamentos existentes para utilização das TIC em AP; utilização das TIC na AP. Os resultados obtidos em cada questão são analisados, sempre que possível, em articulação com a bibliografia e com os dados recolhidos noutras questões deste mesmo estudo.Atendendo ao facto de não se terem realizado os outros dois trabalhos previstos, não foi possível fazer alguns cruzamentos de informação considerados inicialmente.

1 - Caracterização da amostra. Esta secção do questionário é constituída por 5 perguntas, onde se pretende saber os dados dos alunos, da turma e da família no que diz respeito à profissão e utilização do computador.Escolas participantes.Na Região Autónoma da Madeira, no ano lectivo de 2005/06 existiam 30 escolas do 3º ciclo com 9º ano de escolaridade. Em 3 das escolas não foi possível aplicar o inquérito aos alunos pelo facto de a Direcção das mesmas não ter autorizado.Alunos inquiridos:Foram inquiridos 959 alunos do 9º ano de escolaridade de 27 escolas da Região Autónoma da Madeira, de um universo de 2639 alunos, dos quais 1206 eram do sexo masculino e 1433 do sexo feminino, o que corresponde a uma amostragem aproximada de 36%. Como utilizámos uma amostragem por conveniência, escolhida pela direcção da escolas, estas escolheram turmas que melhor representavam a realidade das mesmas. Pretendia-se que, pelo menos, 20% dos alunos respondessem ao inquérito. De modo a não excluir alunos pertencentes à mesma turma, foram aceites os questionários de todos os alunos, originando um valor final de 36%.

2 - Conclusões e implicações do estudoApesar das limitações que se reconhecem existir neste estudo, pareceu possível, da análise dos dados, retirar algumas indicações capazes de apresentar um conjunto de reflexões sobre as questões iniciais, respondendo também a algumas das mesmas.Foram inquiridos 959 alunos do 9º ano de escolaridade de 27 escolas da Região Autónoma da Madeira, de um universo de 2639 alunos, 1206 alunos e 1433 alunas, o que corresponde a uma amostragem aproximada de 36%.

2.1 - Resultados obtidos:Os resultados obtidos neste estudo podem ser consultados no anexo 10.

2.2 - Resposta às questões de investigação.
De forma a facilitar a compreensão das conclusões apresentadas, serão relembradas as questões da investigação e sempre que necessário os objectivos definidos para as alcançar. Relativamente às conclusões apresentadas para cada questão de investigação serão referidas, sempre que possível, aspectos positivos e negativos encontrados no trabalho.

2.2.1 - Quais a TIC disponíveis em casa?A maioria dos alunos afirma ter computador em casa, 72,3%. Alguns alunos não responderam, 13,6%, possivelmente por não haver a opção de resposta entre os 2 e 3 anos.

2.2.1.1 - Profissão do pai, versus existência do computador em casa.Quase todos os alunos afirmam ter computador em casa, 86,44%. Os alunos que têm computador há mais de 5 anos são filhos dos pais de classes mais elevadas, 19,3%.

2.2.2 - Qual a formação dos pais na utilização das TIC?A grande parte das mães e dos pais não sabem usar, 52,6% das mães e 46,6% dos pais. Poucos navegam na Internet e utilizam o e-mail; apenas 23% o fazem.

2.2.3 - Que “Formação” têm os alunos em TIC e como a obtiveram?Os alunos aprenderam a utilizar as TIC de uma forma informal e formal. Num processo informal, com os irmãos, 25,4%; ou com os amigos, 10%. A nível formal, na disciplina de TIC, 9,9%; curso de computadores, 3,3% e na disciplina de AP, 1,8%.Grande parte dos alunos não respondeu (45,8%).

2.2.4-Onde utilizam os alunos os computadores?A maioria dos alunos afirmam utilizar os computadores em casa quase todos os dias (66,8% dos rapazes e 59,5% das raparigas).Os alunos afirmam utilizar os computadores na escola quase todas as semanas (48,3% dos rapazes e 53,2% das raparigas).

2.2.5- Quais as ferramentas utilizadas pelos alunos fora da escola, em casa?Os alunos afirmam utilizar quase todos os dias o processador de texto (66,8% dos rapazes e 59,5% das raparigas). Possivelmente para a realização de trabalhos de casa. Posteriormente, os alunos dizem jogar (40,6% dos rapazes e 32,5% das raparigas); e-mail (32% dos rapazes e 38,4% das raparigas) e IRC (30,31% dos rapazes e 30,59% das raparigas). Quase todas as semanas, os alunos utilizam a pesquisa e consulta de informação na Internet (37,1% dos rapazes e 34,5% das raparigas).

2.2.6 - Onde utilizam os alunos as TIC na Escola, fora da disciplina de AP?A maioria dos alunos, 55,2%, afirma que há espaços disponíveis para a utilização das TIC. Esses espaços são: A biblioteca (39,8% dos rapazes e 54,8% das raparigas); Sala de TIC quando está livre (16,3% dos rapazes e 24,8% das raparigas); Oficina de Aprendizagem (17,1% dos rapazes e 11% das raparigas).

2.2.7 - Quais as ferramentas utilizadas pelos alunos, na escola, fora da disciplina de AP?Alguns alunos afirmam utilizar quase todos os meses as apresentações electrónicas (22,3% dos rapazes e 24% das raparigas); processador de texto (18,9% dos rapazes e 24,6% das raparigas); pesquisa e consulta de informação na Internet (16% dos rapazes e 21,1% das raparigas.Poucos alunos consideram as escolas bem equipadas.

2.2.8 - Como se trabalha em AP?2.2.8.1 - Quem escolhe os temas?A maioria dos alunos, 70,8%, afirma que os temas são propostos e escolhidos pelos alunos e/ou professores.

2.2.8.2 - Que temas?Quase metade dos alunos, 46%, afirma que os temas são desligados da realidade/vivência dos alunos. Alguns discentes, 19,1%, afirmam que os temas não visam a resolução de situações problemáticas e conflitos.
É intrigante o modo como se trabalha em AP, por um lado parece haver uma negociação dos temas, por outro, esses temas não vão ao encontro das necessidades dos alunos nem visam a resolução de situações problemáticas.

2.2.8.3 - Quais as disciplinas que colaboram?Ao contrário do que seria de esperar, os alunos afirmam que as disciplinas que colaboram são: a disciplina de TIC. 38,5%, a disciplina de Ciências da Natureza, 25,5% e Educação Visual, 25,4%.

2.2.8.4 - Como é feito a avaliação do trabalho realizado?Verifica-se que nem sempre o processo é avaliado, o que é afirmado por 38% dos alunos. Poucos alunos consideram a avaliação boa ou muito boa, 38,1%.Nota-se que há falta de colaboração, por parte dos alunos, e de satisfação com a avaliação do trabalho realizado.

2.2.9 - Quais as ferramentas utilizadas pelos alunos, na escola em AP?Alguns alunos afirmam que utilizam quase todas as semanas o processador de texto (34,4% dos rapazes e 35,9% das raparigas) e pesquisa e consulta de informação na Internet (28,3% dos rapazes e 26,4% das raparigas). As apresentações electrónicas são utilizadas quase todos os meses, afirmação feita por 28,3% dos rapazes e 27,9% das raparigas.É notório que muitas das ferramentas informáticas não são exploradas, como, por exemplo, as ferramentas de produção.

2.2.10 - De que modo, do ponto de vista dos alunos, o professor incentiva as TIC na sala de aula?A maioria dos alunos afirma que os professores incentivam a utilização das TIC na sala de aula, através de apresentações electrónicas (56,9% dos rapazes e 68,6% das raparigas); processador de texto (48,5% dos rapazes e 58,2% das raparigas); pesquisa e consulta de informação na Internet (43,7% dos rapazes e 60,3%d as raparigas).Verifica-se que há um grande desconhecimento ou falta de incentivo à utilização das TIC por parte dos professores de AP.

2.2.11 - Obstáculos à utilização das TIC em AP?Verifica-se que há tendência para atribuir relevância à falta de equipamento ou equipamento inadequado e inacessível; falta de tempo lectivo; falta de interesse/motivação dos alunos e dificuldade de integração das TIC; falta de fontes de informação adequada.Os obstáculos são uma consequência/confirmação dos resultados obtidos nas perguntas anteriores.

2.2.12 - Vantagens da utilização das TIC em AP?Há tendência para atribuir relevância ao aumentar a motivação e participação dos alunos; desenvolver competências nas áreas da comunicação, aprendizagem, acesso à informação, entre outras; contactar com novas tecnologias e novas fontes; abordagem de forma diferente aos conteúdos e pelo facto de permitir troca de ideias com colegas de locais diferentes.Curiosamente, ao contrário do que se passa na sala de aula, os alunos têm perspectivas diferenciadas e interessantes, que vão ao encontro das orientações do Ministério e dos estudos feitos. Perguntamos: será que os alunos leram os documentos da reorganização curricular e a literatura da disciplina de AP antes de responderem ao inquérito? Será que os professores desconhecem as fundamentações em causa e tratam a AP como mais uma disciplina?

2.2.13 - Mais valia da disciplina de TIC para AP?A maioria dos alunos considera que sim, 61,7%. As explicações são muito generalistas, possivelmente devido a ser a resposta a uma pergunta aberta. As explicações são do tipo: Útil porque “aprendi muita coisa”; não é útil porque “Já sabia o que aprendi”.

2.3 - Conclusões gerais.Perante os resultados obtidos, podemos concluir que os alunos têm acesso às TIC em casa. Utilizam-nas de forma mais diversificada, processador de texto e lúdica, e mais frequente do que na escola. Têm noções concretas sobre a mais valia das TIC em AP. No entanto, a utilização das TIC em AP é feita ainda de uma forma muito incipiente. Apesar dos grandes esforços realizados nos últimos anos, no sentido de equipar as escolas, a realidade é que estas continuam a apresentar grandes défices de equipamento disponível para uso de alunos e professores em contexto educativo, relacionado quer com as áreas disciplinares, quer nas áreas curriculares não disciplinares. Verifica-se que o equipamento não está instalado nos locais considerados espaços privilegiados para a integração curricular das TIC, em todas as escolas, nomeadamente, na sala de aula, nos laboratórios de ciências, nas salas de estudo acompanhado e de projecto. Este facto terá implicações, obrigatoriamente, na não utilização sistemática das TIC, em contexto de sala de aula.A análise dos resultados do presente trabalho mostra-nos que os usos efectivos das TIC estão aquém das suas potencialidades, ou seja, passa-se o conteúdo de uma tecnologia para outra sem ter em consideração pela aparência, facilidade de utilização ou as potencialidades da segunda tecnologia – Schovelware - Anexo 9. Reforça ainda a convicção de que é necessário desenvolver diversos estudos que possibilitem pensar a introdução das TIC na Escola numa vertente pedagógica, de forma a criar oportunidades e experiências de aprendizagem que favoreçam a construção do conhecimento, dotando o aluno de meios que lhe permitam tirar partido das novas tecnologias, não só na escola mas também ao longo da vida.De facto, parece-nos que num país como o nosso, onde se verificam lacunas de vária ordem no sistema de ensino, é natural que os professores manifestem algumas resistências e desconfianças relativamente aos novos meios e não se sintam vocacionados para investir na sua formação nesta área, considerando prioritário alicerçar o sistema, atacando velhos problemas que teimam em constituir um entrave ao sucesso. Sendo assim, perante a omnipresença das novas tecnologias da informação e comunicação, a atitude da escola tem vindo a ser serena e racional, evitando endeusar as tecnologias, ao ponto de pensar resolver os problemas pelo simples enxerto tecnológico.Paralelamente, não pode ser ignorado ou subestimado o papel relevante das instituições escolares enquanto mediadoras entre o sujeito e o conhecimento. É esta relação que, mais do que incentivada pela disponibilização de artefactos tecnológicos, tem de ser estudada, fundamentalmente no que diz respeito aos processos cognitivos envolvidos. Este investimento, intangível, é decisivo e, embora menos visível, deve imperar sobre o investimento físico. O trabalho que agora apresentamos confirma a existência de um claro afastamento entre as expectativas depositadas nas novas tecnologias, em particular no computador, e os usos concretos que dele fazem os nossos alunos, numa situação específica. Este salto qualitativo implica uma mudança de atitude por parte dos professores, que, mais do que esperar receitas milagrosas que resolvam os problemas, devem desenvolver projectos de investigação que lhes permitam questionar as suas práticas, colocar problemas e propor soluções. Estas nossas propostas devem inserir-se em programas de formação que contemplem a figura do professor como um profissional crítico, reflexivo e criativo. A formação referida, assente num processo contínuo de valorização teórica e prática da actividade docente, deve ter como objectivo fundamental o desenvolvimento de estratégias que permitam a integração do computador na escola, na sua vertente didáctica e pedagógica.

3 - Limitações do estudo:Uma primeira limitação, que decorre da técnica de recolha de dados utilizada, está relacionada com o facto das conclusões resultantes reflectirem perspectivas acerca das práticas pedagógicas declaradas e não observadas. Este facto pode constituir um elemento desviante da realidade, uma vez que podem ter sido desvalorizados aspectos com grande significado para a descrição da situação real; esta desvalorização pode ter ocorrido durante as fases de recolha e análise de dados, sem que tenham havido possibilidades de confirmar ou esclarecer no terreno algumas respostas.O tipo de amostra utilizado, amostragem por conveniência, tem desvantagem no facto de os resultados e as conclusões, em rigor, só se aplicarem à amostra, não havendo garantia que a amostra seja razoavelmente representativa do Universo. O questionário foi apenas aplicado aos alunos. Não houve cruzamento com os resultados inicialmente previstos, dos professores e órgãos de gestão, nem houve tratamento estatístico inferencial dos dados recolhidos.Relativamente ao momento escolhido para proceder à recolha de dados, no final do ano, este pode não ter sido o mais oportuno por coincidir com o momento da avaliação das disciplinas, realização dos exames nacionais e encerramento do ano lectivo. Também ocorreu a mudança dos órgãos de gestão das escolas, nalguns casos continuaram os mesmos, noutros casos não.Na próxima revista vou apresentar algumas sugestões de modo a melhorar a situação.


António Freitas - Grupo 520

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