1. Introdução
É quase impossível referirmo-nos às vivências e circunstâncias do mundo actual, sem que o termo Stress surja, geralmente eivado de uma conotação negativa. Embora o stress tenha consequências positivas, ou seja o designado eustress, que assegura o estímulo necessário para enfrentar os desafios ou provocando as respostas físicas e comportamentais necessárias para se adaptar a um novo contexto, são sobretudo os seus efeitos negativos ou distress que são usualmente referidos e alvo de investigação.Graziani e Swendsen (2004), consideram que uma das razões que explicam o interesse transdisciplinar pela investigação sobre o stress, tem a ver com a esperança de explicar, e portanto de controlar os seus efeitos. Estes autores referem que 80% dos indivíduos que recorrem a uma consulta médica o fazem devido a doenças associadas ao stress, como a depressão, a ansiedade e fobias, agressividade e problemas de dependência, dores de cabeça, cansaço crónico, asma, insónia, hipertensão, problemas intestinais e outros síndromes.A Organização Mundial de Saúde (2001), no seu relatório «Saúde Mental: Nova Concepção, Nova Esperança», refere que as doenças mentais têm vindo a aumentar significativamente, e que nos próximos 20 anos a depressão será a segunda causa de doença no mundo. Está previsto ainda que irão crescer de forma significativa outras formas de perturbação como sejam as dependências de drogas lícitas e ilícitas, a esquizofrenia, os suicídios e as tentativas de suicídio.No contexto português, Moreira e Melo (2005), referem estudos que situam o país com uma das mais elevadas taxas de alcoolismo, assim como, o facto de os medicamentos mais vendidos serem os ansiolíticos e os anti-depressivos. Pocinho, Pereira e Nunes (2007), citam dados da Organização Internacional do Trabalho, que em 1981, considerou o stress como uma das principais causas de abandono da profissão docente, sendo esta vista como uma actividade de risco físico e mental.Neves de Jesus (2005), menciona investigações que permitem constatar que os professores apresentam níveis de stress superiores comparativamente a outros profissionais. Refere estudos efectuados em Portugal, em que 65% (Cruz, 1989) e 54% (Pinto, Silva e Lima; 2000) dos docentes percepcionam a sua actividade profissional como muito geradora de stress enquanto que noutros países os resultados têm oscilado entre 20% e 44%. Noutro estudo (Cardoso e Araújo, 2000) com 2108 professores, um em cada três sente que a sua profissão é stressante e um em cada seis encontra-se em estado de exaustão emocional. Os factores que contribuem para o stress da classe docente, de acordo com outra investigação (Jesus, Abreu, Santos e Pereira, 1992), são os associados a situações de indisciplina do aluno, às relações com colegas e com a sobrecarga de trabalho. Nas investigações realizadas em vários países, o factor de stress mais frequentemente considerado é a dificuldade em gerir a desmotivação e a indisciplina dos alunos.
2. Conceitos de Saúde Mental e de Stress e suas relações.
Na história da Psicologia, a Saúde Mental teve tendência a ser conceptualizada na perspe-ctiva psicopatológica inerente ao modelo bio - médico. Só a partir da década de 70 do século xx deu-se uma mudança de paradigma que ocorreu em consequência entre outras de uma evidência: as principais causas de mortalidade e de morbilidade estavam associadas ao comportamento humano. Sendo este considerado numa perspectiva lata como incluindo para além da acção em si, os antecedentes, os concomitantes e os consequentes da acção, tais como: expectativas, crenças, motivações, atitudes, atribuições, variáveis de referência pessoal (auto-conceito, auto-estima, auto-eficácia), locus de controlo, etc. Estas variáveis podiam ser quer dependentes, quer independentes das doenças, podendo ainda assumir uma relação mediacional ou moderadora.Numa perspectiva transcultural é quase impossível definir Saúde Mental de uma forma completa. Porém há consenso quanto ao ponto de que saúde mental é algo mais do que ausência de transtornos mentais. Neste contexto, as definições dos estudiosos de diferen-tes culturas abrangem aspectos como: o bem-estar subjectivo, a auto-eficácia percebida, a autonomia, a competência, a dependência intergeracional e a auto-realização do potencial intelectual e emocional. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental é perspectivada como estando vinculada ao bem-estar, à qualidade de vida, à capacidade de amar, trabalhar e de se relacionar com os outros. Esta definição surgiu na sequência natural da Saúde passar a ser entendida como um «um estado positivo de bem-estar, físico, mental e social, económico e espiritual e não apenas a ausência de doença ou dor». Este cons-tructo multifactorial inclui como determinantes a idade, sexo, factores hereditários, estilo de vida individual, influências sociais e comunitárias, condições de habitação e trabalho, assim como, condições socioeconómicas, culturais e ambientais. Passou-se de uma visão centrada no carácter negativo da doença, no sofrimento e na incapacidade para uma que coloca em evidência a natureza positiva da saúde, na qual é essencial a experiência de bem-estar psicológico, constituída por vivências associadas à percepção de controlo sobre a vida, à liberdade de escolha, à autonomia e à satisfação. Segundo Vaz Serra (2005), uma pessoa está em stress quando desenvolve a percepção de não ter controlo sobre um acontecimento que é importante para si e perante o qual sente que as exigências do mesmo ultrapassam as suas aptidões e recursos pessoais e sociais. Numa das mais conhecidas definições biológicas de stress, Selye (1956), caracteriza-o como o conjunto de reacções biofisiológicas não específicas a qualquer exigência de adaptação, traduzindo a preparação do sujeito para responder a novas exigências.Numa perspectiva transaccional ou psicológica, Lazarus e Folkman (1984), o stress é definido como o resultado da transacção entre variáveis ambientais e variáveis pessoais, sendo a percepção das exigências superior à avaliação que o indivíduo faz dos seus recursos para responder, sendo que estes recursos podem ser pessoais, interpessoais e organizacionais.Embora traduzam conceptualizações diferentes do stress, as duas definições destacam que na base do stress está sempre uma exigência que requer um esforço acrescido do sujeito para responder de forma adequada ou adaptar-se a novas circunstâncias.De acordo com Graziani e Swendsen (2004), as teorias existentes sobre o stress enquadram-se em três categorias (biológicas, cognitivas e transaccionais ou interaccionistas) que têm subjacentes dois grandes objectivos:Compreensão do funcionamento dos agentes stressores e sua relação com os fenómenos psicopatológicos.Métodos de prevenção e de tratamento relativamente aos efeitos nocivos do stress.
3. Situações indutoras e sintomas de stress3.1. Situações indutoras de stress
De acordo com Vaz Serra (2005), um acontecimento é considerado grave ou fortemente indutor de stress quando provoca uma mudança substancial nas actividades habituais do sujeito e o impede de alcançar objectivos por ele considerados importantes.O efeito cumulativo do stress é sublinhado por diversos autores, ou seja, quanto maior é o número de situações indutoras de stress maior será o grau de stress a que a pessoa estará submetida. Neste sentido, Rahe e Holmes elaboraram escala que relaciona os acontecimentos indutores de stress com a saúde, isto é, quanto maior o número de agentes stressores a que um indivíduo estivesse submetido num determinado período de tempo (um ano) maior seria a probabilidade de adoecer.
Tabela elaborada tendo por base a classificação de Vaz Serra (2005) e Escala de Reajustamento Social de Rahe e Holmes (1967).3.2. Sintomas de stress
Posen (2003), chama a atenção para o facto de a sintomatologia do stress poder ser uma combinação de aspectos ou sintomas físicos ou fisiológicos, mentais, emocionais e comportamentais. Sendo que é mais fácil influenciar ou interferir nos aspectos comportamentais e em seguida nos cognitivos ou mentais, e que ao interferir num destes sintomas estamos a condicionar os outros. É tendo por base estes princípios que se justificam intervenções de cariz cognitivo - comportamental, usadas com muita frequência no tratamento do stress e é igualmente nessa corrente psicológica que se enquadram Posen e Vaz Serra.Nos sintomas físicos podem surgir entre outros: dor de cabeça, tonturas, contracções musculares faciais, dores no peito, dispneia, náuseas, vómitos, azia, indigestão, problemas intestinais, tremores, rigidez, agitação, inquietação, hiperactividade, distúrbios do sono, fadiga, fraqueza, perda de apetite, constipações, gripes e infecções respiratórias regulares, perda de interesse sexual, aumento de enxaquecas, colites, úlceras e asma.Os sintomas mentais incluem: diminuição da concentração e aumento dos esquecimentos, dificuldades nas tomadas de decisão, redução do sentido de humor, pensamentos rápidos e aleatórios, falhas de memória e confusão.Nos sintomas emocionais considera-se: ansiedade, tensão, nervosismo, depressão, tristeza, infelicidade, medo, preocupação, pessimismo, apatia, indiferença, falta de motivação.Os sintomas comportamentais podem comportar para além de outros: agitação, movimentos acelerados, inquietação; consumo compulsivo de tabaco, álcool e/ou comida; roer as unhas, culpar, gritar, sentir vontade de chorar, praguejar, chorar, soluçar.
4 . Vulnerabilidade, estratégias e tratamento do stress
4.1. VulnerabilidadeOs seres humanos não são uniformemente vulneráveis ao stress. Constatou-se que um determinado acontecimento que provoca num sujeito perturbação pode causar a outro indivíduo uma reacção de indiferença, ou seja, a presença de um determinado estímulo mesmo que aparentemente nocivo não basta para provocar stress.A vulnerabilidade está relacionada com quatro tipo de factores: biológicos, sociais, psicológicos e de personalidade. Dada a nossa formação vamos enfatizar os dois últimos, contudo é importante sublinhar que nos factores biológicos, costuma destacar-se a importância dos genes e do envelhecimento e nos sociais, considera-se três aspectos: as condicionantes de acesso e apoio social, o grau de literacia do indivíduo e o estrato social.Nos factores psicológicos, considera-se que é o significado construído pela pessoa sobre o que está a acontecer ou aconteceu que leva ou não à activação de respostas de stress. O significado atribuído é determinado pela história de vida do indivíduo, ou dito de outra forma, os processos de avaliação de um indivíduo são muito influenciados pelos das pessoas significativas com que vai convivendo durante o seu ciclo de vida.Os factores de personalidade, partem do princípio (legitimado por estudos) de que a forma como uma pessoa lida com os acontecimentos apresenta uma certa consistência ao longo do tempo. O que implica que existam alguns tipos de personalidade mais resistentes ou não ao stress. Nas mais vulneráveis temos: pessoas de neuroticismo elevado (apresentam tendência para experimentar afectos negativos, ter ideias irracionais e por dominar menos bem as pulsões, acabando por criar activamente problemas a si próprias sem que de tal se apercebam); pessoas com tendências catastróficas (hiperbolizam os acontecimentos na sua dimensão negativa); os indivíduos hostis (reagem de forma colérica nas situações de stress e têm mais probabilidade de ataques cardíacos e maior taxa de mortalidade), o indivíduo de auto - estima pobre (perturba-se quando se sente criticado ou rejeitado, receia os confrontos e exposição de ideias pessoais, não gosta de tomar iniciativas, costuma ter uma atitude passiva perante os problemas); a pessoa com baixa inteligência emocional (exprime, compreende e lida mal com os fenómenos emocionais; tende a envolver-se em processos de ruminação e regula mal as emoções); o procrastinador (adia intencionalmente tarefas que acha incomodativas ou difíceis, tem dificuldade na gestão do tempo); a personalidade tipo A (tende a ser competitiva, ambicionando o reconhecimento e o prestígio; tem sempre diversos objectivos a concretizar e vive em luta constante contra o tempo); a personalidade dependente (tende a evitar tomar decisões sem o conselho de outras pessoas, não gosta de exprimir desacordo, de assumir responsabilidades ou de iniciar projectos só; sente-se indefesa e insegura em situações em que está isolada).Quanto às personalidades consideradas mais resistentes ao stress temos as pessoas com um bom auto – conceito (mostram-se activas e confiantes, costumam estabelecer um bom contacto com os outros e a perspectivar as situações como não ameaçadoras o que facilita uma adaptação adequada); as com um bom sentido de humor (o que minimiza os acontecimentos menos positivos e promove o convívio social e a aproximação interpessoal) e as optimistas (são usualmente mais perseverantes e mais tolerantes perante adversidades, tendem a confrontar-se com as situações resolúveis e a aceitar as que não podem alterar, evitam mecanismos de negação ou de afastamento dos problemas e costumam cuidar melhor da sua saúde). Neste contexto já se efectua em Portugal, experiências educativas que visam educar para o optimismo, sendo autores de referência Helena Marujo e Luís Neto.
4.2. Estratégias
Para Posen (2003), a maior parte daquilo que fazemos consciente ou inconscientemente, pode ser considerado como estratégias para lidar e reduzir o stress. Distingue entre as estratégias prejudiciais ou pouco sensatas (fumar, consumir álcool, comer em excesso, uso de drogas, desistência, ter pena de si próprio, culpabilização) e as saudáveis ou cons-trutivas (praticar desporto, relaxar, alimentação equilibrada, realizar actividades recreativas, assertividade, fazer pausas, usar o sentido de humor).A eficácia das estratégias, segundo Snyder e Dinoff (1999), é avaliada pela capacidade que têm em reduzir de imediato a perturbação sentida, assim como, em evitar em termos futu-ros o prejuízo do bem – estar ou da saúde da pessoa.As estratégias podem ser centradas: no problema, nas emoções e na interacção social.As estratégias centradas no problema tendem a ser usadas quando o stress é sentido como pouco intenso e a situação é tida como controlável e resolúvel. Levam ao confronto e resolução das dificuldades.As estratégias focadas nas emoções ou no seu controlo são mais utilizadas quando o stress é sentido como mais grave e a pessoa está convicta de que tem poucas possibilidades de resolver o seu problema.Estas estratégias podem ser úteis quando efectivamente nada mais se pode fazer para resolver a situação, ajudam a distanciar de forma transitória o problema, a considerá-lo mais objectivamente e a reorganizar meios de confronto. São prejudiciais quando evitam o confronto com uma situação resolúvel ou trazem malefícios a médio ou longo prazo.
Mecanismos mais utilizados para reduzir os estados de tensão emocional desagradáveis. Baseado em Vaz Serra (2005). As estratégias focadas na interacção social, dependem de três aspectos: dos recursos da rede social em que a pessoa está inserida, do comportamento de apoio que recebe (seja de amigos, conhecidos ou profissionais) e da avaliação subjectiva desse apoio.
4.3. Tratamento do stress
Vaz Serra (2005), defende que em termos de estratégias de tratamento todas as medidas que melhorem a percepção de controlo, ajudam a esbater os efeitos do stress. De modo semelhante, todas as estratégias que mobilizem o apoio social (ajuda de familiares, amigos e conhecidos) podem auxiliar. Nas situações em que a pessoa se torna vítima do seu próprio estilo de vida será importante que o altere. Todavia nunca é demais ressalvar que um estilo de vida saudável passa por um equilíbrio entre as exigências, as aptidões e os recursos que o indivíduo possui, pelo controlo de peso que implica uma dieta equilibrada, por exercício físico regular e por uma filosofia de vida centrada no humor e no optimismo, associado ao esforço para descobrir facetas positivas em circunstâncias que aparentemente são apenas negativas.Para tratar uma pessoa que esteja em stress no sentido de o reduzir é importante conside-rar os seguintes aspectos: 1 - Clarificação das causas, isto é, tem que ser feita uma correcta avaliação das situações (quer externas quer internas) que provocam stress.2 - Que a pessoa aprenda a usar os seus recursos e/ou melhore as suas aptidões.3 - Necessidade de confronto com a situação adversa utilizando os recursos e/ou o que aprendeu.4 - Que a pessoa se identifique e reconheça como a responsável pela mudança obtida, ainda que supervisionada por ajuda profissional.5 - Aprender a aceitar o que não tem mais solução.Por último, há um aspecto que é fundamental que consiste em implementar determinados hábitos quer sejam psíquicos ou físicos, ou seja, um estilo de vida que aumente a resistência ao stress.
É quase impossível referirmo-nos às vivências e circunstâncias do mundo actual, sem que o termo Stress surja, geralmente eivado de uma conotação negativa. Embora o stress tenha consequências positivas, ou seja o designado eustress, que assegura o estímulo necessário para enfrentar os desafios ou provocando as respostas físicas e comportamentais necessárias para se adaptar a um novo contexto, são sobretudo os seus efeitos negativos ou distress que são usualmente referidos e alvo de investigação.Graziani e Swendsen (2004), consideram que uma das razões que explicam o interesse transdisciplinar pela investigação sobre o stress, tem a ver com a esperança de explicar, e portanto de controlar os seus efeitos. Estes autores referem que 80% dos indivíduos que recorrem a uma consulta médica o fazem devido a doenças associadas ao stress, como a depressão, a ansiedade e fobias, agressividade e problemas de dependência, dores de cabeça, cansaço crónico, asma, insónia, hipertensão, problemas intestinais e outros síndromes.A Organização Mundial de Saúde (2001), no seu relatório «Saúde Mental: Nova Concepção, Nova Esperança», refere que as doenças mentais têm vindo a aumentar significativamente, e que nos próximos 20 anos a depressão será a segunda causa de doença no mundo. Está previsto ainda que irão crescer de forma significativa outras formas de perturbação como sejam as dependências de drogas lícitas e ilícitas, a esquizofrenia, os suicídios e as tentativas de suicídio.No contexto português, Moreira e Melo (2005), referem estudos que situam o país com uma das mais elevadas taxas de alcoolismo, assim como, o facto de os medicamentos mais vendidos serem os ansiolíticos e os anti-depressivos. Pocinho, Pereira e Nunes (2007), citam dados da Organização Internacional do Trabalho, que em 1981, considerou o stress como uma das principais causas de abandono da profissão docente, sendo esta vista como uma actividade de risco físico e mental.Neves de Jesus (2005), menciona investigações que permitem constatar que os professores apresentam níveis de stress superiores comparativamente a outros profissionais. Refere estudos efectuados em Portugal, em que 65% (Cruz, 1989) e 54% (Pinto, Silva e Lima; 2000) dos docentes percepcionam a sua actividade profissional como muito geradora de stress enquanto que noutros países os resultados têm oscilado entre 20% e 44%. Noutro estudo (Cardoso e Araújo, 2000) com 2108 professores, um em cada três sente que a sua profissão é stressante e um em cada seis encontra-se em estado de exaustão emocional. Os factores que contribuem para o stress da classe docente, de acordo com outra investigação (Jesus, Abreu, Santos e Pereira, 1992), são os associados a situações de indisciplina do aluno, às relações com colegas e com a sobrecarga de trabalho. Nas investigações realizadas em vários países, o factor de stress mais frequentemente considerado é a dificuldade em gerir a desmotivação e a indisciplina dos alunos.
2. Conceitos de Saúde Mental e de Stress e suas relações.
Na história da Psicologia, a Saúde Mental teve tendência a ser conceptualizada na perspe-ctiva psicopatológica inerente ao modelo bio - médico. Só a partir da década de 70 do século xx deu-se uma mudança de paradigma que ocorreu em consequência entre outras de uma evidência: as principais causas de mortalidade e de morbilidade estavam associadas ao comportamento humano. Sendo este considerado numa perspectiva lata como incluindo para além da acção em si, os antecedentes, os concomitantes e os consequentes da acção, tais como: expectativas, crenças, motivações, atitudes, atribuições, variáveis de referência pessoal (auto-conceito, auto-estima, auto-eficácia), locus de controlo, etc. Estas variáveis podiam ser quer dependentes, quer independentes das doenças, podendo ainda assumir uma relação mediacional ou moderadora.Numa perspectiva transcultural é quase impossível definir Saúde Mental de uma forma completa. Porém há consenso quanto ao ponto de que saúde mental é algo mais do que ausência de transtornos mentais. Neste contexto, as definições dos estudiosos de diferen-tes culturas abrangem aspectos como: o bem-estar subjectivo, a auto-eficácia percebida, a autonomia, a competência, a dependência intergeracional e a auto-realização do potencial intelectual e emocional. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental é perspectivada como estando vinculada ao bem-estar, à qualidade de vida, à capacidade de amar, trabalhar e de se relacionar com os outros. Esta definição surgiu na sequência natural da Saúde passar a ser entendida como um «um estado positivo de bem-estar, físico, mental e social, económico e espiritual e não apenas a ausência de doença ou dor». Este cons-tructo multifactorial inclui como determinantes a idade, sexo, factores hereditários, estilo de vida individual, influências sociais e comunitárias, condições de habitação e trabalho, assim como, condições socioeconómicas, culturais e ambientais. Passou-se de uma visão centrada no carácter negativo da doença, no sofrimento e na incapacidade para uma que coloca em evidência a natureza positiva da saúde, na qual é essencial a experiência de bem-estar psicológico, constituída por vivências associadas à percepção de controlo sobre a vida, à liberdade de escolha, à autonomia e à satisfação. Segundo Vaz Serra (2005), uma pessoa está em stress quando desenvolve a percepção de não ter controlo sobre um acontecimento que é importante para si e perante o qual sente que as exigências do mesmo ultrapassam as suas aptidões e recursos pessoais e sociais. Numa das mais conhecidas definições biológicas de stress, Selye (1956), caracteriza-o como o conjunto de reacções biofisiológicas não específicas a qualquer exigência de adaptação, traduzindo a preparação do sujeito para responder a novas exigências.Numa perspectiva transaccional ou psicológica, Lazarus e Folkman (1984), o stress é definido como o resultado da transacção entre variáveis ambientais e variáveis pessoais, sendo a percepção das exigências superior à avaliação que o indivíduo faz dos seus recursos para responder, sendo que estes recursos podem ser pessoais, interpessoais e organizacionais.Embora traduzam conceptualizações diferentes do stress, as duas definições destacam que na base do stress está sempre uma exigência que requer um esforço acrescido do sujeito para responder de forma adequada ou adaptar-se a novas circunstâncias.De acordo com Graziani e Swendsen (2004), as teorias existentes sobre o stress enquadram-se em três categorias (biológicas, cognitivas e transaccionais ou interaccionistas) que têm subjacentes dois grandes objectivos:Compreensão do funcionamento dos agentes stressores e sua relação com os fenómenos psicopatológicos.Métodos de prevenção e de tratamento relativamente aos efeitos nocivos do stress.
3. Situações indutoras e sintomas de stress3.1. Situações indutoras de stress
De acordo com Vaz Serra (2005), um acontecimento é considerado grave ou fortemente indutor de stress quando provoca uma mudança substancial nas actividades habituais do sujeito e o impede de alcançar objectivos por ele considerados importantes.O efeito cumulativo do stress é sublinhado por diversos autores, ou seja, quanto maior é o número de situações indutoras de stress maior será o grau de stress a que a pessoa estará submetida. Neste sentido, Rahe e Holmes elaboraram escala que relaciona os acontecimentos indutores de stress com a saúde, isto é, quanto maior o número de agentes stressores a que um indivíduo estivesse submetido num determinado período de tempo (um ano) maior seria a probabilidade de adoecer.
Tabela elaborada tendo por base a classificação de Vaz Serra (2005) e Escala de Reajustamento Social de Rahe e Holmes (1967).3.2. Sintomas de stress
Posen (2003), chama a atenção para o facto de a sintomatologia do stress poder ser uma combinação de aspectos ou sintomas físicos ou fisiológicos, mentais, emocionais e comportamentais. Sendo que é mais fácil influenciar ou interferir nos aspectos comportamentais e em seguida nos cognitivos ou mentais, e que ao interferir num destes sintomas estamos a condicionar os outros. É tendo por base estes princípios que se justificam intervenções de cariz cognitivo - comportamental, usadas com muita frequência no tratamento do stress e é igualmente nessa corrente psicológica que se enquadram Posen e Vaz Serra.Nos sintomas físicos podem surgir entre outros: dor de cabeça, tonturas, contracções musculares faciais, dores no peito, dispneia, náuseas, vómitos, azia, indigestão, problemas intestinais, tremores, rigidez, agitação, inquietação, hiperactividade, distúrbios do sono, fadiga, fraqueza, perda de apetite, constipações, gripes e infecções respiratórias regulares, perda de interesse sexual, aumento de enxaquecas, colites, úlceras e asma.Os sintomas mentais incluem: diminuição da concentração e aumento dos esquecimentos, dificuldades nas tomadas de decisão, redução do sentido de humor, pensamentos rápidos e aleatórios, falhas de memória e confusão.Nos sintomas emocionais considera-se: ansiedade, tensão, nervosismo, depressão, tristeza, infelicidade, medo, preocupação, pessimismo, apatia, indiferença, falta de motivação.Os sintomas comportamentais podem comportar para além de outros: agitação, movimentos acelerados, inquietação; consumo compulsivo de tabaco, álcool e/ou comida; roer as unhas, culpar, gritar, sentir vontade de chorar, praguejar, chorar, soluçar.
4 . Vulnerabilidade, estratégias e tratamento do stress
4.1. VulnerabilidadeOs seres humanos não são uniformemente vulneráveis ao stress. Constatou-se que um determinado acontecimento que provoca num sujeito perturbação pode causar a outro indivíduo uma reacção de indiferença, ou seja, a presença de um determinado estímulo mesmo que aparentemente nocivo não basta para provocar stress.A vulnerabilidade está relacionada com quatro tipo de factores: biológicos, sociais, psicológicos e de personalidade. Dada a nossa formação vamos enfatizar os dois últimos, contudo é importante sublinhar que nos factores biológicos, costuma destacar-se a importância dos genes e do envelhecimento e nos sociais, considera-se três aspectos: as condicionantes de acesso e apoio social, o grau de literacia do indivíduo e o estrato social.Nos factores psicológicos, considera-se que é o significado construído pela pessoa sobre o que está a acontecer ou aconteceu que leva ou não à activação de respostas de stress. O significado atribuído é determinado pela história de vida do indivíduo, ou dito de outra forma, os processos de avaliação de um indivíduo são muito influenciados pelos das pessoas significativas com que vai convivendo durante o seu ciclo de vida.Os factores de personalidade, partem do princípio (legitimado por estudos) de que a forma como uma pessoa lida com os acontecimentos apresenta uma certa consistência ao longo do tempo. O que implica que existam alguns tipos de personalidade mais resistentes ou não ao stress. Nas mais vulneráveis temos: pessoas de neuroticismo elevado (apresentam tendência para experimentar afectos negativos, ter ideias irracionais e por dominar menos bem as pulsões, acabando por criar activamente problemas a si próprias sem que de tal se apercebam); pessoas com tendências catastróficas (hiperbolizam os acontecimentos na sua dimensão negativa); os indivíduos hostis (reagem de forma colérica nas situações de stress e têm mais probabilidade de ataques cardíacos e maior taxa de mortalidade), o indivíduo de auto - estima pobre (perturba-se quando se sente criticado ou rejeitado, receia os confrontos e exposição de ideias pessoais, não gosta de tomar iniciativas, costuma ter uma atitude passiva perante os problemas); a pessoa com baixa inteligência emocional (exprime, compreende e lida mal com os fenómenos emocionais; tende a envolver-se em processos de ruminação e regula mal as emoções); o procrastinador (adia intencionalmente tarefas que acha incomodativas ou difíceis, tem dificuldade na gestão do tempo); a personalidade tipo A (tende a ser competitiva, ambicionando o reconhecimento e o prestígio; tem sempre diversos objectivos a concretizar e vive em luta constante contra o tempo); a personalidade dependente (tende a evitar tomar decisões sem o conselho de outras pessoas, não gosta de exprimir desacordo, de assumir responsabilidades ou de iniciar projectos só; sente-se indefesa e insegura em situações em que está isolada).Quanto às personalidades consideradas mais resistentes ao stress temos as pessoas com um bom auto – conceito (mostram-se activas e confiantes, costumam estabelecer um bom contacto com os outros e a perspectivar as situações como não ameaçadoras o que facilita uma adaptação adequada); as com um bom sentido de humor (o que minimiza os acontecimentos menos positivos e promove o convívio social e a aproximação interpessoal) e as optimistas (são usualmente mais perseverantes e mais tolerantes perante adversidades, tendem a confrontar-se com as situações resolúveis e a aceitar as que não podem alterar, evitam mecanismos de negação ou de afastamento dos problemas e costumam cuidar melhor da sua saúde). Neste contexto já se efectua em Portugal, experiências educativas que visam educar para o optimismo, sendo autores de referência Helena Marujo e Luís Neto.
4.2. Estratégias
Para Posen (2003), a maior parte daquilo que fazemos consciente ou inconscientemente, pode ser considerado como estratégias para lidar e reduzir o stress. Distingue entre as estratégias prejudiciais ou pouco sensatas (fumar, consumir álcool, comer em excesso, uso de drogas, desistência, ter pena de si próprio, culpabilização) e as saudáveis ou cons-trutivas (praticar desporto, relaxar, alimentação equilibrada, realizar actividades recreativas, assertividade, fazer pausas, usar o sentido de humor).A eficácia das estratégias, segundo Snyder e Dinoff (1999), é avaliada pela capacidade que têm em reduzir de imediato a perturbação sentida, assim como, em evitar em termos futu-ros o prejuízo do bem – estar ou da saúde da pessoa.As estratégias podem ser centradas: no problema, nas emoções e na interacção social.As estratégias centradas no problema tendem a ser usadas quando o stress é sentido como pouco intenso e a situação é tida como controlável e resolúvel. Levam ao confronto e resolução das dificuldades.As estratégias focadas nas emoções ou no seu controlo são mais utilizadas quando o stress é sentido como mais grave e a pessoa está convicta de que tem poucas possibilidades de resolver o seu problema.Estas estratégias podem ser úteis quando efectivamente nada mais se pode fazer para resolver a situação, ajudam a distanciar de forma transitória o problema, a considerá-lo mais objectivamente e a reorganizar meios de confronto. São prejudiciais quando evitam o confronto com uma situação resolúvel ou trazem malefícios a médio ou longo prazo.
Mecanismos mais utilizados para reduzir os estados de tensão emocional desagradáveis. Baseado em Vaz Serra (2005). As estratégias focadas na interacção social, dependem de três aspectos: dos recursos da rede social em que a pessoa está inserida, do comportamento de apoio que recebe (seja de amigos, conhecidos ou profissionais) e da avaliação subjectiva desse apoio.
4.3. Tratamento do stress
Vaz Serra (2005), defende que em termos de estratégias de tratamento todas as medidas que melhorem a percepção de controlo, ajudam a esbater os efeitos do stress. De modo semelhante, todas as estratégias que mobilizem o apoio social (ajuda de familiares, amigos e conhecidos) podem auxiliar. Nas situações em que a pessoa se torna vítima do seu próprio estilo de vida será importante que o altere. Todavia nunca é demais ressalvar que um estilo de vida saudável passa por um equilíbrio entre as exigências, as aptidões e os recursos que o indivíduo possui, pelo controlo de peso que implica uma dieta equilibrada, por exercício físico regular e por uma filosofia de vida centrada no humor e no optimismo, associado ao esforço para descobrir facetas positivas em circunstâncias que aparentemente são apenas negativas.Para tratar uma pessoa que esteja em stress no sentido de o reduzir é importante conside-rar os seguintes aspectos: 1 - Clarificação das causas, isto é, tem que ser feita uma correcta avaliação das situações (quer externas quer internas) que provocam stress.2 - Que a pessoa aprenda a usar os seus recursos e/ou melhore as suas aptidões.3 - Necessidade de confronto com a situação adversa utilizando os recursos e/ou o que aprendeu.4 - Que a pessoa se identifique e reconheça como a responsável pela mudança obtida, ainda que supervisionada por ajuda profissional.5 - Aprender a aceitar o que não tem mais solução.Por último, há um aspecto que é fundamental que consiste em implementar determinados hábitos quer sejam psíquicos ou físicos, ou seja, um estilo de vida que aumente a resistência ao stress.
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