segunda-feira, 30 de junho de 2008

Uns olhos


Uns olhos

Que olhos formosos que eu vi nesse dia
Que ao bardo, trouxeram segredos de amor
Tão meigos, tão castos, tão cheios de encantos
Que a lyra acordarão do pobre cantor

Que brilho dos astros no céu a luzir
Que encanto suave de mago condão
Minh’alma extasia e o peito só pode
Erguer doce hymno, suave canção.

Amor, alegria seu rosto inspirava
Seus olhos tão puros, celeste brandura
Dos astros formosos, saphyras brilhantes
Que a alma embriagam com maga candura?

Que meigo olhar sedutor
Que brilho d’astro fulgente
Em ondas de luz de amor
Como se enrosca a serpente.

Como a gota matutina
Que no seio Luís retrata
Como a lua ao reflectir-se
Na lympha de lisa prata

Tinham o olhar brando e puro
Dum anjo, dum cherubim
Como a nívea, branca folha
Do perfumado jasmim.

Eram meigos feiticeiros,
Eram dous astros brincando,
Num lago de branca neve
Douradas visões gozando.

Nem Rapahael o sublime
Imaginou tal candura
Nem pagão, grego, romano
Adorou tal formosura!

Mas não, ai do vate, lá vem a negra nuvem,
Que a meiga estrelinha lhe tolda o fulgor,
Lá vem o sopro intenso de norte furioso,
Que ao bosque florento lhe despe o vigor!

E arcanjo risonho, ou virgem ou fada,
Julguei ter no rosto, nos olhos, amor;
Mas ai! Pobnre crença, funesta alegria,
A esp’rança fagueira perdeu seu alvor!

E a lyra do bardo cantou doce endeixa,
E ao ver esses olhos o vate então creu,
Mas triste, bem cedo da terra a desgraça
Roubou-lhe esses olhos sem norte, sofreu!

In: O Recreio, 06/07/1863

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