segunda-feira, 30 de junho de 2008

Que percursos pessoais? Que saídas profissionais


«A economia global e o desenvolvimento das tecnologias de informação transportam-nos de sociedades industriais para sociedades pós-industriais. As pessoas não podem jamais contar com emprego ao longo da vida e um claro percurso de carreira e promoções desde o primeiro emprego até a reforma.» Mark Savickas.
«Arranjar um emprego sempre foi difícil. Nos últimos anos manter um emprego tornou-se ainda mais difícil. Os altos e baixos da economia e uma nova mentalidade, que dá o seu aval à dispensa de trabalhadores para melhorar os resultados da empresa, levaram a que as pessoas passassem mais tempo a proteger-se do que no cumprimento efectivo das suas funções.» Robert Sternberg (1996).
Estas afirmações de autores de renome da Psicologia continuam pertinentes, sendo Mark Savickas um nome incontornável da psicologia vocacional e Robert Sternberg um investigador em diversos campos, nomeadamente a inteligência. Este autor distingue três aspectos da inteligência, a prática, a criativa e a analítica (sendo esta a que é usualmente medida pelos testes de inteligência tradicionais, assim como, pelos testes académicos) e considera que será a consciencialização por parte das pessoas do seu tipo de inteligência mais característico que lhes permitirá rentabilizar o melhor possível as suas capacidades no contexto profissional, visando obter o que denomina de inteligência de sucesso. Esta todavia é mais eficaz quando equilibra os três aspectos.
Poucos questionarão que actualmente uma das grandes preocupações dos alunos, seus familiares e docentes é a de escolher e enveredar por um percurso formativo que possibilite uma futura colocação no mercado de trabalho. Todavia com as profundas alterações sociais e laborais ocorridas na sequência do desenvolvimento científico, tecnológico e económico deixou de ser possível perspectivar um trabalho para a vida toda como antigamente. Houve uma mudança de paradigma: passou-se de uma situação em que se prepa-rava em termos educativos/formativos para uma determinada profissão, para outra em que será necessário ir se preparando continuamente consoante as características pessoais e as oportunidades que forem surgindo no mercado de trabalho. Ou parafraseando António J. Almeida (2007), está a haver uma substituição do primado do emprego para a vida pelo primado da empregabilidade para a vida. Este conceito de empregabilidade, define-se como um conjunto de competências que permitem uma mais fácil inserção no trabalho mesmo que em profissões não relacionadas com a formação específica.
Nesse sentido é errado, em termos laborais, centrarmo-nos em escolhas únicas visto os dados a nível internacional apontarem para a tendência de um determinado indivíduo ao longo do seu percurso profissional ter que passar por múltiplas funções e/ou por diversos empregos/trabalhos (Jane Goodman, 2005).
A exigência em termos de flexibilidade, quer mental quer comportamental que já é requerida a quem está a entrar no mercado de trabalho é grande e a tendência é de aumentar. Sabemos porém que quanto maior for o nível de escolaridade mais possibilidades terá uma pessoa de ir adquirindo essas competências que lhe permitem ser mais flexível e de lidar com a incerteza e a imprevisibilidade. Neste âmbito, o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia (2006), recomendam competências essenciais para a aprendizagem ao longo da vida, isto é, as que são «necessárias a todas as pessoas para a realização e o desenvolvimento pessoais, para exercerem uma cidadania activa, para a inclusão social e para o emprego.»Essas competências essenciais, definidas como uma combinação de conhecimentos, aptidões e atitudes adequadas ao contexto, são: comunicação na língua materna, comunicação em línguas estrangeiras, competência matemática e competências básicas em ciências e tecnologia, competência digital, aprender a aprender, competências sociais e cívicas, espírito de iniciativa e espírito empresarial e sensibilidade e expressão culturais. Estas oito competências são consideradas ao mesmo nível de importância, dado cada uma poder contribuir para uma vida bem sucedida na sociedade do conhecimento.
Carla A. Ribeiro (2007), após constatar que não existiam estudos oficiais entrevistou reco-nhecidas personalidades do meio académico e empresarial português, identificando dez áreas em crescimento e dez trabalhos com boas perspectivas de emprego. As áreas refe-renciadas são as seguintes: Tecnologias de Informação e Comunicação; Saúde e Assistência Social; Turismo; Estética e Bem-Estar; Ambiente; Transportes e Logística; Cultura e Entretenimento; Marketing e Comunicação; Ciências da Vida e Educação.
Os trabalhos destacados são: engenheiro de redes informáticas, gestor de relações com clientes, engenheiro de energias renováveis, fisiologista de controlo de peso, e-formador, jurista especializado em propriedade intelectual, gestor de investigação e desenvolvimento na indústria farmacêutica, técnico de gerontologia, chefe de cozinha e produtor cultural independente.
Cita ainda um estudo do Departamento do Trabalho norte-americano, segundo o qual as profissões que mais crescerão até 2014 serão: prestadores de cuidados pessoais e de saúde ao domicílio; engenheiros informáticos especializados em aplicações, redes, software, administração de sistemas e de bases de dados; auxiliares médicos, de fisioterapia e de estomatologia; higienistas orais; fisioterapeutas; técnicos de análise forense; técnicos de veterinária; ecografistas; cientistas na área da medicina; professores do pré-escolar; técnicos cardiovasculares; professores do ensino secundário; hidrologistas; trabalhadores especializados em resíduos perigosos; engenheiros biomédicos; especialistas em recrutamento e colocação de recursos humanos e engenheiros do ambiente.
É muito frequente os jovens e os que não são tão jovens depararem-se com o seguinte «dilema»: Estudar e trabalhar em algo que nos interessa de forma efectiva e que nos permite concretizar os nossos valores e necessidades ou escolher uma área de estudos e/ou de formação só porque à partida nos possibilitará mais facilmente entrar no mercado de trabalho? O que será mais importante quando estamos a ter dificuldade na conciliação destes factores? Esta é uma questão a que cada um dará a sua resposta e tenho a convicção de que qualquer que ela seja será legítima.
Considerando que os alunos que frequentam a E. S. Jaime Moniz, estão ou em Cursos Científico - Humanísticos ou em Cursos Tecnológicos recomendamos alguns aspectos práticos a ter em consideração na escolha de licenciatura e/ou área profissional:
1-Aprofundar aspectos relativos ao auto-conhecimento, como sejam as características essenciais da sua personalidade e os seus valores de vida e profissionais.
2-Os alunos deverão explorar os sites do instituto de emprego e formação profissional (www.iefp.pt e www.ire.gov.pt), assim como, dos diversos estabelecimentos de ensino superior (através do www.acessoensinosuperior.pt e/ou www.madeira-edu.pt/ges/) em que no parâmetro relativo às saídas profissionais, se concretizam as funções e/ou locais que/onde se pode exercer. Outro aspecto muito importante é explorar os planos de curso/currículo ou seja a importância do processo, (conteúdos, sistema de avaliação). Relevante é o facto de muitas universidades terem protocolos de colaboração com institui-ções estrangeiras como o MIT - Massachusetts Institute of Technology, o CMU - Carnegie Mellon University etc, o que como é lógico alarga as hipóteses dos seus alunos terem uma maior abrangência do mercado de trabalho. Alguns estabelecimentos apresentam dados relativos à taxa de emprego dos seus cursos, tendo sido divulgado relatório pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior em Fevereiro de 2008 (www.estatísticas.gpeari.mctes.pt), com dados provenientes quer dos centros de emprego quer das instituições de ensino superior.
Embora neste momento existam muitas pessoas com habilitações superiores no desemprego ou a desempenhar funções que exigem menos qualificações do que aquelas que possuem, também existem dados que comprovam que a opção por uma licenciatura e pela qualificação ao longo da vida revela-se uma decisão correcta considerando que o salário auferido é em média superior e que o tempo desempregado é em média inferior em relação aos outros trabalhadores com menos habilitações.
O grande desafio para o futuro será provavelmente para cada pessoa o de ir gerindo com optimismo as contínuas exigências pessoais e laborais em termos de flexibilidade e actualização permanente, de forma a ir encontrando e/ou mantendo o seu equilíbrio psíquico.

Maria de Fátima Vieira - Psicóloga

1 comentário:

Anónimo disse...

este texto foi, sem duvida, um grande apoio