Espaço multicultural mas, sobretudo, testemunha do processo de socialização e de vida, a Escola assume um papel incontornável na vida de todos nós. Revivemo-lo nas conversas do quotidiano, actualizando episódios pitorescos, eternizando espaços, personagens e modos de aprender e ensinar…É da escola que temos cada vez mais saudade, passado o tempo do estudo e da alegre camaradagem, o que nos faz sentir, como o poeta, “raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”O Liceu orgulha-se de ser esse espaço extraordinário de vivências e emoções de milhares de estudantes madeirenses. Quem são? Que recordam?
Nome: Mónica Teixeira
Idade: 60 Anos
Profissão: Docente e Investigadora do Arquivo Regional da Madeira (Secção de Espólios de Autores da Madeira).
Área de formação: Licenciatura em Filologia Românica; Mestrado em Literaturas Comparadas – Portuguesa e Francesa, com a tese: «Cabral do Nascimento, a Palavra da Confidência e a Herança do Simbolismo Francês», e Doutoramento em Literaturas Contemporâneas, com a tese: «As Tendências da Literatura na Ilha da Madeira – séculos XIX e XX».
O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Mónica Teixeira – O Liceu foi tudo na minha vida. Fiz aqui o exame de admissão da Escola Primária para o Ensino Secundário e ainda consigo ver-me, com o meu melhor vestido, os melhores sapatos que tinha e um laço na cabeça, pronta para fazer o meu primeiro exame. É que, naquela altura, fazer um exame era um evento grandioso para a Escola e para a família.
Sinto ainda muito carinho pela Dra. Margarida Morna, que me colocou questões de interpretação sobre um texto que referia as andorinhas. Ela pediu-me que lesse o texto e foi colocando as suas perguntas, sempre de forma agradável. Lembro-me de ela me ter perguntado o que eram para mim as andorinhas e que eu respondi que eram a Primavera. Ora, ela ficou deliciada com a minha resposta, como se tivesse sido um verdadeiro fenómeno, aquela menina a entrar pelos caminhos da simbologia.
Tive tanta pena de os meus pais não me terem deixado estudar no Liceu depois de ter passado no exame, mas este era um meio muito grande e eles temiam por mim.
Contudo, no meu 10º Ano, tive a oportunidade de vir para a escola na qual gostaria mesmo de estar.
Este foi um grande espaço. Mudou a minha vida e condicionou toda a minha formação social.
As saudades do Liceu são as da minha infância e da minha juventude, porque foi aqui que elas se formaram. Foi aqui que, além de todos os conhecimentos adquiridos, aprendi a respeitar e a amar as pessoas. E tive muitos dissabores como todos os jovens, mas aprendi a conhecer os sentimentos, o amor, a amizade e a desilusão.
Foi aqui também que aprendi que havia um espaço maior do que a Ilha, o Continente, de onde saiu a minha formação. Contudo, na ilha, está preso o meu espírito.
O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)
Mónica Teixeira – Pessoas… foram tantas as que passaram pela minha vida.
Já referi a Dra. Margarida Morna. Evoco ainda o Dr. Emanuel Paulo Ramos, que teve um papel fundamental na minha formação, visto ter descoberto em mim a vocação para a Literatura e que me obrigou a explorar essa vertente que, eu, na imaturidade da minha juventude, julgava que não tinha importância.
Foi ele que me ensinou a ler Os Lusíadas e os tornou aliciantes a ponto de eu gostar da retórica e da sintaxe latina, que marcaram a minha formação académica.
Penso que foi a pessoa que mais me marcou e que, sem querer, me conduziu ao rumo que eu tomei.
Prova da sua importância é o facto de eu ter tido 16 valores no exame de 7º Ano de Português, que foi a nota mais alta da Escola, na altura.
A esposa, a Dra. Marília, também contribuiu para esse meu gosto pela Literatura e o Dr. Louro, que estava ligado à dramatização e ia representando na própria sala de aula, lendo expressivamente os textos, de modo que, aos poucos, nos foi aproximando da leitura.
É por esse motivo, pela dedicação, pelo profissionalismo, pelo humanismo dessas pessoas, que muitos querem ser alunos do Liceu e muitos professores querem leccionar cá.
Há que ver também que esta instituição tem uma história escrita por muitas pessoas ligadas à Política, à Investigação, à Medicina, à Economia e às mais diversas áreas, na Ilha da Madeira e no Continente.
O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Mónica Teixeira – Vejo a Educação de hoje com muita preocupação, preocupação pelos alunos e pelos professores.
Não sei porque é que isto está a acontecer. Há psicólogos, sociólogos e uma panóplia de profissionais que se debruçam sobre estas questões, mas há que entender que a Escola não é tão complicada quanto as pessoas estão a representá-la.
Como defende o Professor Lobo Antunes, os professores são pessoas vocacionadas e não vêm para o Ensino sem vocação, porque esses, se realmente o fazem, acabam por sair desta área.
É necessário que se perceba que o professor é aquele que vai abrir as portas aos alunos para áreas diversas, fomentar em si “competências transversais” à disciplina que ele lecciona.
Por isso, não se pode encaixar os professores em padrões, esperar que estejam todos formatados para o mesmo. Há que haver orientações, é natural, contudo, é importante não cairmos num exagero.
Muito daquilo que a Escola é se deve ao professor, que transmite os conhecimentos e os valores, o empenho, o espírito de ajuda ao aluno. Quando este percebe que o professor não tem essa componete humana, além de uma boa formação científica, desinteressa-se.
Há que haver um entendimento entre ambas as partes, em conciliação com o Ministério. Os professores têm de mostrar que trabalham. As orientações rígidas do Ministério deixam de ter lugar. Assim, os professores menos competentes têm de prestar provas de melhoramento pedagógico-didáctico.
Em suma, há que encontrar o sistema educativo mais válido para os professores dos nossos dias.
O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno?
Mónica Teixeira – Acho que é mesmo uma mais valia.
Na era em que vivemos, é impensável que a Escola não esteja ligada a essa área.
Hoje em dia, é impossível viver sem computador, por isso, acho que a Escola deveria tirar horas, dentro do horário do professor, para o formar nessa área.
O próprio Ministério de Educação deveria decidir que o horário dos docentes contemplasse um espaço para formação, que seria obrigatório, no âmbito das novas tecnologias, de modo a que todos aprendessem a utilizá-las e os que já soubessem pudessem actualizar-se.
E digo que esta deveria ser uma componente obrigatória porque há muitas pessoas, muitas colegas minhas, que são renitentes em relação às novas tecnologias, à Informática.
Hoje em dia, mesmo na vida prática, nas coisas mais banais, como pagar contas, fazer o IRS, a Internet e o computador são fundamentais.
Aceder às novas tecnologias é ter tudo em casa.
Nome: Mónica Teixeira
Idade: 60 Anos
Profissão: Docente e Investigadora do Arquivo Regional da Madeira (Secção de Espólios de Autores da Madeira).
Área de formação: Licenciatura em Filologia Românica; Mestrado em Literaturas Comparadas – Portuguesa e Francesa, com a tese: «Cabral do Nascimento, a Palavra da Confidência e a Herança do Simbolismo Francês», e Doutoramento em Literaturas Contemporâneas, com a tese: «As Tendências da Literatura na Ilha da Madeira – séculos XIX e XX».
O Lyceu – Diz-se Liceu, vem a saudade. Que importância teve o Liceu na sua vida?
Mónica Teixeira – O Liceu foi tudo na minha vida. Fiz aqui o exame de admissão da Escola Primária para o Ensino Secundário e ainda consigo ver-me, com o meu melhor vestido, os melhores sapatos que tinha e um laço na cabeça, pronta para fazer o meu primeiro exame. É que, naquela altura, fazer um exame era um evento grandioso para a Escola e para a família.
Sinto ainda muito carinho pela Dra. Margarida Morna, que me colocou questões de interpretação sobre um texto que referia as andorinhas. Ela pediu-me que lesse o texto e foi colocando as suas perguntas, sempre de forma agradável. Lembro-me de ela me ter perguntado o que eram para mim as andorinhas e que eu respondi que eram a Primavera. Ora, ela ficou deliciada com a minha resposta, como se tivesse sido um verdadeiro fenómeno, aquela menina a entrar pelos caminhos da simbologia.
Tive tanta pena de os meus pais não me terem deixado estudar no Liceu depois de ter passado no exame, mas este era um meio muito grande e eles temiam por mim.
Contudo, no meu 10º Ano, tive a oportunidade de vir para a escola na qual gostaria mesmo de estar.
Este foi um grande espaço. Mudou a minha vida e condicionou toda a minha formação social.
As saudades do Liceu são as da minha infância e da minha juventude, porque foi aqui que elas se formaram. Foi aqui que, além de todos os conhecimentos adquiridos, aprendi a respeitar e a amar as pessoas. E tive muitos dissabores como todos os jovens, mas aprendi a conhecer os sentimentos, o amor, a amizade e a desilusão.
Foi aqui também que aprendi que havia um espaço maior do que a Ilha, o Continente, de onde saiu a minha formação. Contudo, na ilha, está preso o meu espírito.
O Lyceu – O que mais o marcou durante os anos de frequência do Liceu? (pessoas, espaços, ambientes, etc…)
Mónica Teixeira – Pessoas… foram tantas as que passaram pela minha vida.
Já referi a Dra. Margarida Morna. Evoco ainda o Dr. Emanuel Paulo Ramos, que teve um papel fundamental na minha formação, visto ter descoberto em mim a vocação para a Literatura e que me obrigou a explorar essa vertente que, eu, na imaturidade da minha juventude, julgava que não tinha importância.
Foi ele que me ensinou a ler Os Lusíadas e os tornou aliciantes a ponto de eu gostar da retórica e da sintaxe latina, que marcaram a minha formação académica.
Penso que foi a pessoa que mais me marcou e que, sem querer, me conduziu ao rumo que eu tomei.
Prova da sua importância é o facto de eu ter tido 16 valores no exame de 7º Ano de Português, que foi a nota mais alta da Escola, na altura.
A esposa, a Dra. Marília, também contribuiu para esse meu gosto pela Literatura e o Dr. Louro, que estava ligado à dramatização e ia representando na própria sala de aula, lendo expressivamente os textos, de modo que, aos poucos, nos foi aproximando da leitura.
É por esse motivo, pela dedicação, pelo profissionalismo, pelo humanismo dessas pessoas, que muitos querem ser alunos do Liceu e muitos professores querem leccionar cá.
Há que ver também que esta instituição tem uma história escrita por muitas pessoas ligadas à Política, à Investigação, à Medicina, à Economia e às mais diversas áreas, na Ilha da Madeira e no Continente.
O Lyceu – Como vê a Educação hoje?
Mónica Teixeira – Vejo a Educação de hoje com muita preocupação, preocupação pelos alunos e pelos professores.
Não sei porque é que isto está a acontecer. Há psicólogos, sociólogos e uma panóplia de profissionais que se debruçam sobre estas questões, mas há que entender que a Escola não é tão complicada quanto as pessoas estão a representá-la.
Como defende o Professor Lobo Antunes, os professores são pessoas vocacionadas e não vêm para o Ensino sem vocação, porque esses, se realmente o fazem, acabam por sair desta área.
É necessário que se perceba que o professor é aquele que vai abrir as portas aos alunos para áreas diversas, fomentar em si “competências transversais” à disciplina que ele lecciona.
Por isso, não se pode encaixar os professores em padrões, esperar que estejam todos formatados para o mesmo. Há que haver orientações, é natural, contudo, é importante não cairmos num exagero.
Muito daquilo que a Escola é se deve ao professor, que transmite os conhecimentos e os valores, o empenho, o espírito de ajuda ao aluno. Quando este percebe que o professor não tem essa componete humana, além de uma boa formação científica, desinteressa-se.
Há que haver um entendimento entre ambas as partes, em conciliação com o Ministério. Os professores têm de mostrar que trabalham. As orientações rígidas do Ministério deixam de ter lugar. Assim, os professores menos competentes têm de prestar provas de melhoramento pedagógico-didáctico.
Em suma, há que encontrar o sistema educativo mais válido para os professores dos nossos dias.
O Lyceu – Na sua opinião, de que modo as novas tecnologias são uma mais valia para a aprendizagem do aluno?
Mónica Teixeira – Acho que é mesmo uma mais valia.
Na era em que vivemos, é impensável que a Escola não esteja ligada a essa área.
Hoje em dia, é impossível viver sem computador, por isso, acho que a Escola deveria tirar horas, dentro do horário do professor, para o formar nessa área.
O próprio Ministério de Educação deveria decidir que o horário dos docentes contemplasse um espaço para formação, que seria obrigatório, no âmbito das novas tecnologias, de modo a que todos aprendessem a utilizá-las e os que já soubessem pudessem actualizar-se.
E digo que esta deveria ser uma componente obrigatória porque há muitas pessoas, muitas colegas minhas, que são renitentes em relação às novas tecnologias, à Informática.
Hoje em dia, mesmo na vida prática, nas coisas mais banais, como pagar contas, fazer o IRS, a Internet e o computador são fundamentais.
Aceder às novas tecnologias é ter tudo em casa.
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