sexta-feira, 13 de março de 2009

Ao sabor das memórias



Olhei pela janela o azul do mar, o céu e as diversas cores que cobriam a cidade. Fiquei ali por um momento a pensar naquelas palavras que havias pronunciado, tentando que aquela paisagem me acalmasse de alguma forma. Agarrei na minha bolsa e fui até à porta. Toquei na fechadura e antes de abri-la, baixei a cabeça e respirei fundo, tentando acalmar a dor. Em seguida abri a porta e caminhei sem saber para onde ia.
Atravessei a cidade, passei por lugares onde costumávamos passar um bocado das nossas tardes juntos. Até nos conseguia ver nesses mesmos lugares ou até mesmo de mão dada a andar por aquelas ruas. Continuei a caminhar sem saber onde ia, sendo perseguida por todos essas sombras das memórias...
Via as pessoas andarem de um lado para outro, muito apressadas e até tentava perceber se o sorriso meio escondido que algumas delas levava no rosto seria de dor ou felicidade. Mas, deixei de me importar com tudo isto quando me deparo com um dos tais locais onde passámos um bocado de tarde juntos, o jardim. Quando me deparei com ele, parei e fiquei ali a admirá-lo. As recordações passavam na minha cabeça a uma grande velocidade. Soube logo que era aquele o lugar onde precisava estar. Silencioso, relaxante, calmo...
Caminhei em direcção às escadas. Via idosos felizes sentados nos bancos a namoriscar e a dar pequenas gargalhadas, como jovens, felizes. De outro lado via um casal com um filho, ainda bebé, felizes também.
Cheguei ao banco onde nos tínhamos sentado quando lá estivemos. Estava vazio, não havia lá ninguém sentado. Sentei-me, pousei a bolsa ao meu lado. De repente as memórias haviam ficado ainda mais intensas, passavam ainda mais rápido e faziam-me estremecer por dentro. Comecei a recordar todos aqueles momentos que passámos juntos, os pequenos gestos de amor... Tudo! E os sinais de dor iam-se manifestando no meu rosto.
Naquele momento tudo fazia sentido, menos o facto de ter de estar longe de ti. Sei que há uma força estranha que me faz correr para ti... De um momento para outro deu-me uma vontade imensa de sair dali gritando, para dizer a todo o mundo que te amo, mas o medo empurrava-me para baixo. O medo de me magoar de novo, medo de voltar a sentir o que estou sentindo, medo do tamanho do meu amor, medo! O que faria com que perdesse esse medo? Um simples gesto de amor, um olhar bem profundo, uma palavra com tanto significado, um toque no momento exacto, um sorriso aconchega dor, algum gesto, alguma coisa, algum sinal de mudança!
Permaneci sentada acompanhada daquelas memórias. Memórias de um tempo em que fui feliz. Por momentos até podia sentir-te ao meu lado, mesmo junto a mim, a me dar pequenos beijinhos deliciosos, como há um ano atrás, naquele mesmo banco de jardim.
Mas agora volto ao presente e ainda tento compreender o porquê de tanto ódio, raiva. Porque é que continuas a viver no passado? Deixa-o onde está, o que importa é apenas o presente e o futuro, o passado já foi. Guarda, recorda e trás contigo somente o que é bom, o resto deixa onde está. Não deixes o passado quebrar o que de melhor tens.
Já é quase de noite e ainda aqui estou sentada sozinha. Permaneço em silêncio, aconchegada ao calor das memórias, já que nada mais me aquece e não posso fazer delas o meu presente.


Mariana Nunes, 10º42

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